Declaração frente às graves acusações contra o PSTU, a CSP-Conlutas e a LIT-QIUma corrente político-sindical do Brasil, “Unidos para Lutar”, encabeçada pela CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores), que é parte da corrente UIT (Unidade Internacional dos Trabalhadores), está fazendo uma grave acusação contra o PSTU e a CSP-Conlutas, bem como contra a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional.

Segundo essa corrente, os militantes destas organizações teriam formado uma chapa de oposição (Chapa 2) no Sindicato dos Trabalhadores Químicos de São José dos Campos, em São Paulo, com o apoio da patronal, para tentar retirar da direção do sindicato uma corrente “classista” (a Chapa 1, da “Unidos”). Mas, como isso não fosse suficiente, segundo esse setor, a Chapa 2 teria se apresentado à Justiça, junto com a patronal da multinacional Johnson & Johnson, para pedir a demissão de cinco trabalhadores.

Para nós, custava crer que tais acusações fossem verdadeiras, mas não podíamos descartá-las de antemão. Só havia uma forma de descobrir a verdade: fazer uma profunda investigação. E foi isso que fizemos com uma convicção: caso fossem verdadeiras as acusações, defenderíamos a expulsão de nossas fileiras de qualquer traidor.

Feita a investigação, porém, constatamos que todas as acusações eram completamente falsas. Ou seja, estávamos diante de um caso de calúnia.

Resultados de nossa investigação
a) Uma “chapa do PSTU-LIT” que nunca existiu.
Nossa investigação nos levou de surpresa em surpresa. A primeira delas foi descobrir que a suposta “chapa de traidores do PSTU e da LIT” não existia. Efetivamente, nas mencionadas eleições sindicais, não existiu nenhuma “chapa do PSTU/LIT”.
A segunda surpresa foi descobrir que, na realidade, as duas chapas que participaram das eleições surgiram a partir de uma divisão da direção do sindicato encabeçado pela “Unidos para Lutar”. A tal ponto que nas duas chapas havia militantes do PSOL (partido no qual se insere também a Unidos).

b) O que existiu foi uma luta anti-burocrática no interior do sindicato.
O Sindicato dos Trabalhadores dos Químicos é dirigido, há muitos anos, pela CST (corrente do PSOL) que, a partir da ruptura com a CSP-Conlutas, em 2010, se filiou à “Unidos”.

Nos últimos meses, uma série de dirigentes do sindicato começou a questionar a maioria dessa direção por seu comportamento burocrático. Foi isso o que deu origem às duas chapas nas eleições.

A direção da LIT, infelizmente, não tem condições de saber todos os detalhes de como se deu essa luta no interior do sindicato e da própria “Unidos”. De qualquer maneira, há vários fatos que indicam que a principal crítica da oposição era correta. Vejamos alguns destes fatos.

Primeiro, a direção acusa a oposição de estar aliada à patronal, de ser traidora, etc. Essa acusação poderia ser verdadeira, mas, se fosse, por que não a fizeram quando estavam juntos na mesma direção do sindicato? Por que essas acusações apareceram apenas na véspera das eleições?

Segundo, durante a campanha eleitoral, a Chapa 2 (oposição) apresentou uma grave denúncia: a maioria da direção, para tomar o controle do dinheiro do sindicato, mudou a Tesouraria (colocaram a um militante da CST) e, para fazê-lo, confeccionaram uma ata falsa de uma assembleia que não existiu.

A maioria da direção não respondeu à grave acusação
Terceiro, diante das acusações feitas pela maioria da direção do sindicato, a oposição defendeu uma proposta muito simples: “Assembleia já! Para restabelecer a verdade!” Se a maioria da direção do sindicato fosse classista, de luta e democrática, como se auto-intitula, por que então se negou a convocar uma assembleia para que a base da categoria pudesse decidir quem são os traidores?

c) A questão dos demitidos
A patronal entrou na Justiça pedindo que só 14 diretores tenham estabilidade trabalhista (anteriormente eram 41) e conseguiu que a Justiça aceitasse sua proposta a partir do qual veio a demissão de cinco diretores.

Foi fácil para a patronal ganhar na Justiça sua reivindicação, pois o sindicato não apresentou corretamente o devido recurso (perdeu o prazo legal). Assim, ficaram de fora os cinco diretores do sindicato que não estavam na lista dos 14, com estabilidade, que a Justiça havia confeccionado.

Para tentar reverter as demissões, o sindicato colocou, na lista dos 14 nomes, os cinco demitidos, coisa que a Justiça aceitou. Desse modo, os cinco sindicalistas foram readmitidos, ainda que a posteriori. Mas a patronal apresentou um recurso solicitando a anulação desta e, com isso, os dirigentes reincorporados voltaram a ser demitidos.

Parece incrível que o sindicato tenha cometido tamanho erro jurídico, com graves consequências políticas, porém, o mais incrível é que a maioria do sindicato, ao invés de reconhecer seu erro, tenha responsabilizado a oposição, o PSTU, a CSP-Conlutas e… até a LIT pelas demissões.

d) Como o PSTU, a CSP – Conlutas e a LIT entravam nesta história?
Tudo começou quando um grupo de trabalhadores químicos procurou a CSP-Conlutas para denunciar os atropelos da maioria da direção do sindicato. A CSP-Conlutas, após analisar a situação, ofereceu seu apoio a eles. No entanto, nossa investigação sobre o ocorrido nos levou a descobrir algo surpreendente.

Achavámos que o PSTU e a CSP-Conlutas tinham realizado uma proposta de formar uma chapa de oposição e que isso tinha provocado a ira da maioria da direção. Mas não foi assim.

A CSP-Conlutas, diante da ofensiva patronal, (que tinha conseguido na Justiça a redução dos dirigentes com estabilidade) propôs que a oposição tentasse construir uma chapa unitária, eleita de forma democrática, para enfrentar com mais força a patronal, a qual deveria ser eleita em uma convenção de base ou, inclusive, em uma eleição prévia nas fábricas.

A CST/Unidos sequer respondeu a essa proposta. O que fez foi convocar, de última hora, a uma assembleia, com churrasco e cerveja (tudo pago com os fundos do sindicato), e nessa “assembleia” foi votada a antecipação das eleições. Ou seja, que não haveria uma chapa unitária. Dois dias depois, a Chapa 1 foi inscrita. Nela foram deixados de fora todos que tinham feito críticas (entre eles, os 15 membros da direção do sindicato). Foi a partir daí que a oposição não teve outra alternativa a não ser registrar a Chapa 2, que aderiu à CSP-Conlutas.

e) A suposta “colaboração com a patronal” do PSTU, da CSP- Conlutas e da LIT para demitir cinco dirigentes.

O aspecto mais sórdido da campanha de calúnias da maioria da direção do sindicato se refere à suposta colaboração do PSTU, da CSP-Conlutas e da LIT com a patronal da Johnson & Johnson para demitir cinco dirigentes sindicais.

A atitude da maioria da direção, de colocar os cinco dirigentes na lista dos 14 para tentar reverter suas demissões provocou muita indignação. Colocar os cinco demitidos na lista dos 14 com estabilidade significava retirar dessa lista outros cinco colegas que, ao perder a estabilidade, poderiam ser demitidos a qualquer momento.

Em uma situação como essa não se poderia descartar a hipótese de que os trabalhadores, para preservar os seus principais dirigentes, decidissem sacrificar outros colegas. Mas uma resolução tão delicada como essa só poderia ser tomada em uma assembleia ou, no mínimo, em uma reunião de toda a direção do sindicato. Mas, nem uma coisa nem outra foi feita . A resolução de colocar os cinco nomes dos demitidos na lista dos 14 foi tomada por um setor da direção (a executiva) da qual não participavam os cinco nomes que, a partir desse momento, poderiam ser demitidos.

Dois colegas da Chapa 2, de oposição, furiosos com este novo atropelo burocrático, entraram com uma ação na Justiça questionando o pedido de mudança dos cinco dirigentes, alegando justamente o caráter antidemocrático dessa decisão.

Isso foi um grande erro destes colegas (mesmo diante do atropelo burocrático da direção), pois caso a juíza acatasse esta demanda dos dois colegas da oposição, a patronal teria legalidade para demitir novamente os cinco dirigentes.

Esse evidente erro dos dois colegas da oposição foi utilizado pela CST/Unidos para lançar sua campanha internacional de denúncias. Mas, o mais incrível desta campanha, é que ela não foi lançada contra estes dois colegas, nem contra a chapa de oposição, mas sim, centralmente, contra o PSTU, a CSP-Conlutas e a LIT. No entanto, foram essas organizações que, ao se inteirar da ação apresentada à Justiça por esses dois colegas, mostraram que isso era equivocado, pois haveria de se lutar pela estabilidade de todos os colegas. Por isso, propuseram que a ação fosse retirada. O conjunto da Chapa 2 concordou com essa proposta e os dois colegas retiraram essa ação antes que ela fosse analisada pela Justiça.
Onde está a chapa do PSTU/LIT? Onde está o acordo da “chapa do PSTU” com a patronal da Johnson & Johnson?

Calúnia como arma política
As calúnias sistemáticas, usadas como arma políticas, são “contribuições” do stalinismo.

O trotskismo, como corrente internacional, nasceu lutando contra as calúnias stalinistas. No entanto, a debilidade de nosso movimento fez que importantes setores do mesmo cedessem ao stalinismo no terreno metodológico a tal ponto que nossa corrente internacional, fundada por Nahuel Moreno, nasceu lutando contra as calúnias, não só do stalinismo como também de organizações e dirigentes “trotskistas”.

Nahuel Moreno, em 1941, começou a militar em uma pequena organização, chamada Liga Operária Revolucionária (LOR), dirigida por Liborio Justo. Pouco tempo após entrar nesta organização, Moreno fez várias críticas a Justo e, como resposta, por meio de um boletim, Liborio Justo anunciou que Nahuel Moreno tinha sido expulso da LOR por ser “infiltrado da polícia”. Essa calúnia fez que o jovem Moreno (com 18 anos na época) entrasse em uma profunda crise que até mesmo o levou a pensar seriamente, como relatou depois, em suicídio.

Possivelmente, foi essa uma das razões que levaram Moreno, durante toda sua vida, a lutar tanto contra as calúnias no interior do movimento trotskista. A tal ponto que, quando fundou nossa organização internacional, a LIT, o fez enfrentando outra campanha de calúnias, desta vez de um dirigente trotskista, Pierre Lambert, que acusava ao peruano Ricardo Napurí de roubar dinheiro do seu partido.

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