Conlutas foi destaque na marcha vitoriosa
Agência Cromafoto

Nem mesmo o sol abrasador e o árido clima de Brasília impediram que 16 mil ativistas ocupassem as largas avenidas da capital federal. Foi um ato vitorioso, sendo o maior protesto contra o governo federal e o Congresso organizado em Brasília neste ano.

A marcha foi convocada por diversas entidades como Conlutas, Intersindical, Conlute, Pastorais Sociais, Cobap, Andes, MTST, MLST, e diversas outras de todo o país, e teve o apoio de partidos como o PSTU e o PSOL.

O principal eixo da marcha era a luta contra a reforma previdenciária do governo. “Tirem as mãos da nossa aposentadoria”, dizia a faixa que abria o protesto. No entanto, outras lutas importantes também foram incorporadas, como a luta contra a reforma universitária/Reuni, travada pelos estudantes, e as lutas pela moradia e contra a corrupção.

Não faltou criatividade e animação na marcha para criticar o governo. Durante o percurso, os participantes cantavam refrões como “um, dois, três, quatro, cinco mil / ou pára estas reformas ou paramos o Brasil” ou “olê olé, olê olá/ Esse Reuni não vai passar/ Ocupo reitoria para não privatizar!”.

Os manifestantes vieram dos 26 estados para protestar contra a reforma do governo. Alguns viajaram mais de 40 horas, como foi o caso dos companheiros do Nordeste. Todos esses ônibus foram pagos com as contribuições dos próprios trabalhadores, de seus sindicatos, com campanhas de venda de bônus.

Ao mesmo tempo em que iniciava a marcha, Lula se reunia com os 100 maiores empresários do país, deixando nítido que a prioridade deste governo é atender reivindicações da grande burguesia, atacando os trabalhadores.

“No mesmo dia em que ele [Lula] se reúne com os tubarões do lado de lá, aqui estão os trabalhadores de todo o país lutando pela manutenção dos seus direitos”, disse Zé Maria de Almeida, da Conlutas.

Fortalecimento da Conlutas
Destaque à parte para a Conlutas, que jogou um peso preponderante na marcha. Isso ficou bastante visível nas faixas e bandeiras da entidade que cobriram toda a manifestação.

A marcha foi uma demonstração do fortalecimento e da consolidação da entidade, que se apóia nas mobilizações dos trabalhadores e da juventude. Em Brasília, ficou evidente que a Conlutas é hoje o pólo mais dinâmico para a aglutinação de forças em torno a uma alternativa de luta contra o governo Lula. Fortalecer a Conlutas é construir um ponto de apoio fundamental para o processo de lutas que se prepara no país.

Ato no ministério
Após realizarem uma passeata pelo Eixo Monumental, os manifestantes se reuniram em frente ao Ministério da Previdência Social para protestar contra a reforma. As principais entidades que convocaram a marcha falaram no caminhão de som.

O protesto iniciou no estacionamento do estádio Mané Garrincha, percorreu a Esplanada dos Ministérios e realizou um ato em frente ao Ministério da Previdência. Todas as entidades que participaram da organização do evento fizeram um acordo de que esse seria o principal ato da marcha e que, em seguida, outros atos seriam realizados simultaneamente em frente ao Congresso (contra a corrupção), dos Ministérios da Educação (contra o Reuni) e das Cidades (pela moradia).

Em frente ao Congresso, ativistas contra a transposição do São Francisco jogaram peixes mortos no espelho d’água para simbolizar o que vai acontecer com o rio se houver a transposição.

“Poderia ser maior”
Certamente essa é a opinião de muitos que foram à Brasília. Havia um espaço político para construir uma manifestação com mais de 16 mil pessoas. Isso não ocorreu pelas dificuldades financeiras que enfrentaram as entidades que construíram o ato, mas não só. Desde o início, as entidades organizadoras enfrentaram o boicote ativo da CUT e de setores governistas, como o PCdoB. O caso mais gritante aconteceu na Apeoesp, sindicato dos professores de São Paulo. Em assembléia, a categoria decidiu que cada subsede da entidade – 93 no total – garantiria materialmente um ônibus para Brasília. A direção da entidade, ligada ao governo, descumpriu a resolução e, ao final, apenas três ônibus foram enviados.

Essa sabotagem soma-se ao boicote generalizado da grande imprensa, que, via de regra, não deu destaque ao protesto. Preferiu destacar a reunião de Lula com os 100 empresários.

Não vai passar
Nada pode apagar a grande importância deste 24 de outubro. Além de ser um ato de grandes dimensões, esse protesto pode ser influência decisiva para impulsionar uma grande campanha contra a reforma da Previdência, prevista para ir ao Congresso ainda em 2007. Foi uma grande vitória política, o ponto culminante do calendário de lutas unitário aprovado no Encontro Nacional de 25 de março.

Lamentamos que alguns abandonaram este calendário no meio do caminho. Mas é incontestável que a marcha foi uma prova da disposição de luta dos ativistas de todo o país. É fundamental construir um novo Dia Nacional de Luta, a exemplo do que foi o dia 23 de maio, com atos nos estados, paralisações nas categorias, bloqueios de estradas, ocupações. O recado já foi dado. A reforma de Previdência “não vai passar!”.

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