Após seis dias de ocupação da Câmara Municipal, a população trabalhadora de Belo Horizonte conseguiu uma grande conquista: a diminuição de R$ 0,15 nas tarifas de ônibus.
A medida foi anunciada no último dia  05, pelo prefeito Márcio Lacerda (PSB), após intensa pressão popular. Ela será possível através da desoneração dos impostos PIS/CONFINS, medida aprovada em nível federal, e do ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza), através de lei municipal aprovada no dia 29 de junho, quando a Câmara foi ocupada.
Centenas de manifestantes foram impedidos de acompanhar a votação dessa lei, enquanto outro grupo assistia o processo da parte superior do plenário. A falta de democracia foi o estopim para que fosse feita uma assembleia onde se deliberasse a ocupação do prédio. 
A redução da passagem representa uma vitória para milhões de trabalhadores que dependem dos ônibus todos os dias.  Ela é fruto da vitória de milhares que tomaram as ruas de Belo Horizonte nos últimos dias, em mobilizações que acabaram resultando numa ocupação da Câmara Municipal.
 Conhecido por não dialogar e não receber nenhum movimento social, o prefeito foi obrigado a se reunir com 13 jovens representantes, eleitos delegados pela Assembleia Popular Horizontal. O tenso encontro colocou o prefeito contra a parede. Nervoso e sem respostas para o movimento, Lacerda deixou a reunião sem nenhum motivo, mas foi obrigado a retornar meia hora depois, pois os representantes ameaçaram não deixar o prédio caso ele não retornasse para concluir a negociação. 
A reunião terminou sem nenhuma medida concreta, mas deixou claro que o prefeito está do lado dos empresários. Em vários momentos os representantes foram desrespeitados na fala do chefe do executivo, que chegou a dizer: “respeito sua opinião, mas ela é descartável.” A redução anunciada no dia 5, só saiu após consulta aos empresários do transporte, que se reuniram diretamente com o prefeito. 
 
Bem-vind@s à casa do povo
A ocupação da Câmara foi um gesto de protesto de centenas de jovens ativistas da cidade que, indignados com a falta de democracia e com as políticas públicas implementadas nos últimos governos, resolveram dizer aos poderosos: “Quem manda aqui somos nós!”
O saguão ocupado e os arredores foram decorados com cartazes escritos a mão pelos ocupantes. Um deles, logo na entrada, dizia: “Bem-vind@s à casa do povo”. 
Tudo é decidido a partir de um processo profundo do que chamamos de democracia operária, através das sessões da Assembleia Popular Horizontal, que reúne ativistas independentes e militantes de diversas organizações de esquerda. Todas as decisões saem daí, e o trabalho prático do dia a dia é dividida em comissões abertas de temas variados. 
 
Não paramos por aqui
Até o fechamento dessa edição, os rumos da ocupação após a diminuição da tarifa não tinham sido decididos. Prevalece, entretanto, o clima de que temos nas mãos uma enorme conquista e muita coisa a fazer pela frente.
Belo Horizonte é dominada pela máfia das famílias que controlam o transporte público e lucram cada vez mais em cima de um direito básico da população. Independente de qualquer decisão, nossa luta segue com firmeza pela transparência nas planilhas de custos dessas empresas. A própria BH Trans, que gerencia o transporte, não sabe informar de onde vem os cálculos que fixam o preço da tarifa. Além disso, queremos que estudantes e desempregados tenham acesso ao passe-livre e que toda e qualquer redução das tarifas seja colocada na conta das empresas, e não nas contas públicas.
É hora de acumular forças para seguir em frente e avançar na experiência de organização democrática de jovens e trabalhadores. 
 

Post author Mariah Mello, de Belo Horizonte (MG)
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