Nessas eleições, muitos militantes e ativistas engajados na campanha de Edmilson Rodrigues, do PSOL, à prefeitura de Belém (PA) assistiram com um misto de perplexidade, tristeza e indignação os rumos tomados pela direção da campanha do partido e sua principal figura pública. Esse sentimento é resultado do arco de alianças conformado no 2° turno, do financiamento de campanha da candidatura majoritária e dos eixos programáticos defendidos na televisão e nos panfletos pelo partido de Edmilson. Primeiro foi a aliança com o PCdoB, partido da base governista que esteve à frente de vários ataques à classe trabalhadora brasileira como o novo código florestal e a lei geral da copa. Depois veio a “doação” declarada de cerca de R$ 400 mil por parte de empresários à campanha de Edmilson ainda no 1° turno. Por fim, veio o apoio de figuras nacionais como Lula, Dilma, Marina Silva, e Cristóvão Buarque (PDT), e figuras locais como Giovanni Queiroz (famigerado latifundiário do PDT), Ana Júlia (PT) e Abel Loureiro (DEM).

Esse apoio obviamente não ocorreu de forma desinteressada. Na realidade, o programa e a forma de fazer política desses novos aliados do PSOL tomaram conta da campanha de Edmilson. O que se viu no segundo turno foi o candidato do PSOL reivindicar os programas sociais compensatórios do governo federal como sua principal proposta de governo e a elogiar abertamente o governo do PT e políticos de partidos de direita. Nenhuma crítica à privatização dos aeroportos, dos hospitais universitários e dos correios foi feita por Edmilson. Nenhuma linha a respeito da ruptura com a Lei de Responsabilidade Fiscal ou sobre a proposta do PSTU de reestatizar o sistema de transporte público foi escrita em seu programa. A ideia de um governo “para todos” (ricos e pobres, trabalhadores e empresários) que tem no governo Dilma seu principal “aliado” foi a tônica da campanha do PSOL.

Além disso, do ponto de vida dos materiais de campanha, o que chocou muitos lutadores de Belém foi ver o PT tomar conta da campanha também no visual, com cartazes espalhados em toda cidade afirmando: “O PT de Lula e Dilma agora é 50”, com a foto de Edmilson, Lula e Dilma. Mesmo assim, a candidatura de Edmilson foi derrotada por Zenaldo Coutinho, do PSDB.

Era possível derrotar o PSDB nas eleições. Sim, era. Defendemos que a campanha de Edmilson assumisse uma postura de classe contra classe, denunciando o PSDB como a candidatura das grandes empresas. Era necessário assumir uma clara postura oposicionista e classista. O PSOL de Edmilson optou pelo caminho inverso, do apoio de Lula e Dilma, como a expressão em Belém do governo federal. Acabou derrotado.

O PSTU rompeu com a frente (que incluiu PSOL, PCdoB, PT, PDT), mas defendeu o voto crítico em Edmilson. Seguimos chamando a votar em Edmilson, mas com nossos próprios materiais de campanha.

O “vale-tudo” eleitoral do PSOL resultou no abandono dos princípios, do programa e da estratégia socialista, além da derrota eleitoral. É o que aconteceu com o PT no passado quando passou a receber dinheiro da burguesia, incorporar como aliados e no seu programa a ideias dos inimigos da classe trabalhadora. Já vimos como essa história termina.

Sem democracia
As decisões tomadas pela campanha de Edmilson se deram de forma extremamente burocrática, sem consulta às bases. A maioria dos militantes do PSOL é contra a política de alianças, o eixo programático e forma como a campanha de Edmilson foi conduzida no 2° turno, mas não tiveram o direito de decidir em nenhuma instância partidária sobre nenhum desses aspectos fundamentais. O candidato e a cúpula dirigente da corrente que dirige o PSOL em Belém tomou todas as decisões junto com seus novos aliados da direita e do governo federal à revelia das instâncias partidárias, de seu estatuto e das resoluções do seu último congresso.

Post author
Publication Date