A cidade de Annapolis, nos Estados Unidos, está sendo palco de mais uma farsa protagonizada por George Bush e seus asseclas. Com o objetivo evidente de tentar remediar um pouco os deslizes que cometeu no Iraque e entrar para a história como o presidente americano que “esforçou-se pela paz” no Oriente Médio, Bush agiu em grande estilo. Convidou o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, para irem à Casa Branca e ali retomar conversações para chegar a um acordo de paz antes do final de 2008. Eles não estavam sozinhos.

A Conferência Internacional sobre o Oriente Médio começou no dia 27 de novembro e reuniu 50 países, entre eles 16 árabes. O Brasil também se fez presente. Seriam as testemunhas oculares de mais uma farsa armada pelo imperialismo para manter e convalidar a ocupação por parte de Israel sobre os territórios palestinos. Testemunhas e cúmplices de mais um acordo de paz destinado a ser pisoteado pela ONU, pelo imperialismo e pelos israelenses, como já ocorreu com tantos outros no passado recente, incluindo os já esquecidos Acordos de Oslo.

Acordo preventivo
Essa é mais uma capitulação de Abbas e da ANP ao imperialismo e Israel. Com o apoio das burguesias árabes e dos governos capachos do imperialismo, Abbas foi à Casa Branca dizer que aceita a política de “dois estados”, que significa na prática que vai haver apenas um estado, Israel. O que seria o “estado” palestino não passará de um arremedo, algumas pequenas faixas de terra, sem continuidade territorial, que funcionariam de fato como pequenos bantustões para segregar os palestinos.

Se não é assim, cabe perguntar por que, das conversações de Annapolis, estão literalmente fora de cogitação a devolução imediata por parte de Israel dos territórios palestinos ocupados, incluindo Jerusalém e a Cisjordânia? Abbas tampouco mencionou a luta histórica do povo palestino de que retorne à Palestina os 7 ou 8 milhões de palestinos refugiados (e seus descendentes) expulsos de suas casas em 1948, quando da criação do Estado de Israel, e que hoje estão vivendo de forma precária e insegura na Jordânia, Síria e Líbano, entre outros lugares. A usurpação monumental que significou a criação de Israel deixou um rastro de sangue atrás de si, uma ferida aberta que já dura 60 anos e não se fechará enquanto o povo palestino não tenha de volta cada palmo de seu território.

E é justamente isso que mais preocupa o imperialismo. Por isso, o tom do discurso de Bush foi de que é necessário firmar um acordo preventivo, “porque a guerra ameaça o futuro do Oriente Médio e não devemos ceder a vitória aos extremistas”, disse na abertura da Conferência de Annapolis. E reiterou que o esperado acordo de paz deve criar um Estado que sirva de “pátria para os palestinos”, “cujo objetivo final é criar um Estado palestino independente, democrático e viável, que coexista pacificamente com Israel”.

Em bom português, Bush enfatiza fará de tudo para defender as “fronteiras seguras” de Israel e que os Estados Unidos estão patrocinando conversações de paz que objetivam fazer com que os palestinos deixem de reivindicar seus territórios e aceitem os bantustões que lhe são oferecidos, como o nome de “Estado palestino viável”. Bush aproveita e manda um recado ao Hamas e o povo palestino em luta, que baixem as armas em “nome da paz”.

Mobilizações incendeiam a Palestina
Mas parece que o recado de Bush não está surtindo efeito. Milhares de palestinos protestaram em Gaza, Nablus, Hebróm e Ramala contra a Conferência de Annapolis, gritando que Abbas é um traidor. Apesar de Abbas ter proibido qualquer manifestação na Cisjordânia, as ruas de suas principais cidades ficaram tomadas pelos palestinos em protesto contra qualquer acordo com o imperialismo e com Israel.

As bandeiras verdes do Hamas e as tricolores da Palestina tremulavam em todas as casas, enquanto os gritos contrários ao reconhecimento de Israel e exigindo a volta dos refugiados incendiavam as passeatas. A polícia palestina, a mando da ANP, enfrentou a manifestação a bala, uma pessoa morreu e várias ficaram feridas. Um porta-voz do Hamas, Taher Nuni, afirmou que “os discursos pronunciados em Annapolis confirmam o que já dissemos anteriormente, que esta conferência não trará nenhum resultado que interesse à causa palestina”.

O Irã convocou dez grupos palestinos para uma reunião em Teerã contra a Conferência de Annapolis. Os dez confirmaram a presença.

Abbas, agente direto do sionismo e do imperialismo
A Conferência de Annapolis só vem confirmar o que já vimos denunciando há tempos. Que Abbas é um agente direto do sionismo e do imperialismo. Do sionismo, porque capitula totalmente diante de Israel, traindo a luta histórica do povo palestino pelo não reconhecimento do “Estado (usurpador) de Israel”. Um traidor que reitera sua traição ao planejar assinar mais um acordo com Israel quando o governo israelense não hesitou em pisotear em todos os acordos anteriores, construiu o Muro da Vergonha, roubou as terras e as águas da Cisjordânia, mantém 10 mil presos palestinos, bloqueia Gaza, tentando matar de fome e deixar sem recursos mais de 1 milhão de pessoas! Agente direto do imperialismo, porque dá a Bush uma chance de aparecer como “promotor da paz”, justo no momento em que se espalha pelo mundo todo um forte sentimento antiimperialista e que no Iraque a resistência está avançando.

Mas o povo palestino resiste. As manifestações não dão trégua, e deixam a autoridade de Abbas ainda mais abalada, fazendo com que se atire nos braços imperialismo. Derrubar Abbas é urgente para que a resistência palestina consiga derrotar Israel e mais esse plano “de paz” do imperialismo que, na verdade, significa mais uma tentativa de sufocar a causa palestina.

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