As revelações sobre o escândalo de corrupção envolvendo o subsecretário Waldomiro Diniz, braço direito do ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, são mais uma demonstração de que o governo Lula dá continuidade ao de FHC.

Se no terreno econômico e social o governo Lula aprofunda o projeto de recolonização do Brasil, desenvolvido por Collor e FHC, tutelado pelo FMI e negociado dia a dia na Alca, no terreno político também nada é diferente.

O PT optou por governar em aliança com a burguesia, incluindo expoentes da banca nacional e internacional, do latifúndio e do grande empresariado nos ministérios, como o chefe do BC, Henrique Meirelles, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e o da Indústria e Comércio, o dono da Sadia, Furlan. As alianças do PT englobam a maioria dos partidos burgueses existentes no Brasil, como PL, PSB, PPS, PTB, PMDB e até o PP de Maluf, e incorpora ainda informalmente parcelas do PSDB e do PFL, como o senador Antonio Carlos Magalhães.

Como diz o ditado: “Diz-me com quem andas e te direi quem és”. A opção do PT por governar em aliança com a burguesia e seus partidos, nos limites da ordem vigente e atrelado ao FMI e à Alca, é uma opção contra os trabalhadores e a maioria do povo brasileiro e é “anti-ética”. Sim, porque a classe dominante e sua institucionalidade vigente é corrupta da cabeça aos pés. Ora, quem aceita governar em aliança com a burguesia e também admite financiamento de banqueiro, grandes empresas, empresas de lixo etc, em suas campanhas eleitorais é, no mínimo, conivente com a corrupção e fica de rabo preso com os interesses da burguesia, contra os trabalhadores.

Não é novidade que o governo Lula já traiu a esperança de mudança da maioria. Está aumentando o desemprego e atacando e retirando direitos dos trabalhadores com “reformas” neoliberais, como foi a da Previdência e agora com a Sindical e Trabalhista, onde o próprio Lula diz querer “flexibilizar”, leia-se acabar, com a multa de 40% do FGTS, com o 13º, a licença maternidade e outros direitos.
Agora o governo copia FHC também nos ‘métodos”. O “toma lá da cá”, o fisiologismo e negociatas de toda espécie continuam vigorando no governo petista. Foi assim na aprovação da reforma da Previdência no Congresso, na votação do Orçamento e na reforma ministerial.

Portanto, o “caso Waldomiro” não é de se estranhar, é mera conseqüência da aproximação e aliança do PT com a burguesia brasileira. Sendo o primeiro caso mais escabroso a vir à tona, certamente não será o último, pois de braços dados com o PL, Sarney, Quércia, Maluf, Roberto Jefferson e a tropa de choque do Collor e vários expoentes também do PSDB e PFL, o PT vai se parecendo cada dia mais “ïgualzinho a tudo o que está aí”.

O PSTU defende que seja realizada uma ampla investigação desse escândalo e apóia a instalação de uma CPI , que o governo Lula, de novo repetindo FHC, quer abafar. Mas o PSTU, ao mesmo tempo, não deposita nenhuma confiança em uma CPI. Não acreditamos que esta poderia apurar de forma consequente este escândalo de corrupção, pois, como o próprio Lula chegou um dia a declarar, o Parlamento é um antro de picaretas. Sem dizer que a oposição burguesa, como é o caso do PSDB, não tem qualquer interesse em acabar com a corrupção, já que o ex-governo FHC e esse partido protagonizaram os maiores lances de corrupção da história do país. Digamos que quem comprou deputados a R$ 200 mil por cabeça para aprovar a reeleição e esteve envolvido em casos escabrosos como os das privatizações das teles, do setor elétrico, o Sivam e tantos outros e quem tinha como secretário Eduardo Jorge, não tem muita moral para falar de ética e menos ainda interesse de investigar até o fim toda a corrupção que rola solta entre a classe dominante brasileira e suas instituições políticas.

Nós apoiamos a instalação de uma CPI, mas para haver apuração até o final seria necessário formar também uma comissão independente, formada por personalidades reconhecidas pela população como intocáveis nesse terreno da ética e também por entidades como a ABI e outras, democráticas e dos trabalhadores, porém independentes e não governistas.

Aos trabalhadores, diante da falência e traição do PT, está colocado o desafio de confiar em suas próprias forças: de resgastar sua independência de classe, rejeitando alianças e pactos com a burguesia; de apostar que somente sua luta e mobilização pode desencadear uma verdadeira transformação social no país e que é necessário forjar uma organização comprometida com um governo dos trabalhadores, sem burgueses e corruptos, para romper com tudo isso que está aí.