No dia 29 de novembro será realizado o segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai. Disputarão ao cargo os candidatos José “Pepe” Mujica, da Frente Ampla, e Lacalle, do direitista Partido Nacional (Blancos. Leia abaixo um artigo da Esquerda SocialMuitos companheiros frente-amplistas viram pela televisão ou pelos jornais o presidente Vázquez junto com Batlle, Sanguinetti e Lacalle inaugurando a ampliação do Terminal de Contêineres no Porto de Montevidéu; na foto os vemos alegres e aplaudindo. O que aplaudem? Por que Vázquez os convidou à inauguração, se a maioria do povo odeia esses representantes dos partidos patronais?

A explicação foi dada pelo mesmo Tabaré Vázquez, que lembrou que “esta obra não pertence a um só governo (…), e por este motivo pediu aos ex-Presidentes da República que o acompanhassem na descoberta da placa comemorativa desta inauguração.”

Com a inauguração, o que se faz é dar continuidade à privatização do Porto de Montevidéu e na ampliação da Praia de Contêineres, desta vez a obra foi concluída pela Frente Ampla. Por isso, os dirigentes Blancos e Colorados aplaudiam muito contentes a esta “continuidade” da política privatizadora que eles iniciaram em seus respectivos governos, política que foi repudiada pela maioria dos trabalhadores e setores populares com manifestações de rua e plebiscitos.

A Frente Ampla (FA), que chegou ao governo opondo-se, no discurso, às privatizações da direita, agora as leva adiante, debochando deste modo dos plebiscitos ganhos pelo povo nas urnas e respaldados com várias manifestações de rua.

Por isso, lamentavelmente e com muito respeito, queremos dizer aos abnegados militantes de base da FA que a privatização do Porto não é uma medida de “esquerda”, nem foi uma medida isolada deste governo da Frente Ampla.

Este governo continuou – como os Partidos Blanco e Colorado – com o envio de tropas ao Haiti e ao Congo, cuja missão é reprimir povos irmãos, que saem a lutar porque morrem de fome. Foi o governo que aprovou uma Lei de Educação enfrentando os docentes e estudantes, onde se liquida a Autonomia e a “administração compartilhada” entre professores e estudantes, permitindo a ingerência dos mercenários da educação privada nos planos da educação pública. Talvez a mostra mais clara de para onde se dirigiu este governo, foi a recepção de Bush e a aprovação do TIFA(1) , abandonando nos fatos as bandeiras antiimperialistas que as bases continuam levantando. Mas o mais vergonhoso para a maioria da militância foi, sem dúvida, a não anulação da Lei de Caducidade (2) , apesar de que podiam e ainda podem fazê-lo, porque contam com maioria parlamentar em ambas câmaras.

Contra Lacalle ou contra a política de ‘unidade nacional´ com os patrões?
Assim como os companheiros da FA, nós também somos da opinião de que o Partido Nacional e Lacalle simbolizam o pior da direita e coincidimos em que não os queremos mais no governo. Os Lacalle, Larrañaga, Batlle, Sanguinetti e Bordaberry foram e são os representantes dos ricos e dos patrões, responsáveis pela miséria a que foram submetidos os trabalhadores e todo o povo e pela política repressiva que a sustentava.

Os companheiros frente-amplistas chamam o voto contra Lacalle(3) no segundo turno, para expressar dessa forma sua revolta contra os dirigentes dos partidos patronais tradicionais e evitar seu retorno ao governo.

No entanto, e dizemos isso com todo respeito pelos militantes, se instalou em seu imaginário uma falsa apreciação: os companheiros da FA coincidem com muitas coisas que denunciamos do governo Vázquez, mas nos dizem que se tem que votar contra Lacalle para que não volte.

Mas, segundo o que tem sido manifestado em vários programas e discursos de campanha, apesar das brigas públicas para ganhar a eleição, tanto Vázquez como Mujica e Astori, estão oferecendo diferentes cargos a dirigentes Blancos e Colorados, cargos nas empresas públicas e até nos Ministérios do futuro governo. Chamando a um governo de unidade nacional, a um pacto social. Por isso, contra o que você pensa companheiro, o voto na chapa Mujica – Astori (4) não é um voto contra a direita. Respeitando muito sua decisão e seu voto, lhe dizemos com toda franqueza que – apesar de você votar na FA e contra Lacalle -, a direção da Frente Ampla, assim mesmo levará ao governo os representantes patronais Blancos e Colorados, porque sua política central é conseguir, antes de qualquer coisa, um governo de “unidade nacional”.

É por isso que os companheiros da Esquerda Socialista dos Trabalhadores (IST, na sigla em espanhol), ante a ausência de candidatos que defendam a luta pelo socialismo e que estejam realmente contra a direita e a favor das reivindicações históricas da classe operária e os oprimidos, não apoiamos o voto na chapa Mujica-Astori e votaremos nulo.

A falta de ideologia tem imposto uma campanha onde se deixou de discutir política; achamos que devemos retomar a política que faz os destinos da classe operária, de nossos filhos e nossos anseios de uma sociedade que se proponha novamente à libertação nacional e mundial e o socialismo. A “utopia” é pensar que não, que não se pode. Não devemos aceitar o “isto é o que há, valor”. Nossa luta não é para reformar ou humanizar esta sociedade capitalista, mas para destruí-la desde a raiz.

Fazemos um chamado à construção de uma nova esquerda, socialista e revolucionária, que volte a colocar sobre a mesa a única saída para as calamidades que vivemos: o socialismo. Para derrotar realmente a direita, para acabar com a impunidade e a pobreza e estabelecer outro tipo de sociedade, devemos criar uma ferramenta dos trabalhadores. Precisamos de um partido, mas não um qualquer; mas sim um partido dirigido pelos trabalhadores, sem patrões nem militares, mas sim socialista e internacionalista. Para esta tarefa chamamos você a não se deixar vencer pelas frustrações. Precisamos que os trabalhadores, estudantes e aposentados e todos os setores populares se somem a esta grande tarefa que temos pendente.

Nós da Esquerda Socialista dos Trabalhadores (IST) e a Liga Internacional dos Trabalhadores, Quarta Internacional convidamos você a ser parte desta construção e a debater o melhor caminho para concretizá-lo.

(1) NT: Acordo de Comércio e Investimento (TIFA, por sua sigla em inglês) entre EUA e Uruguai;

(2) NT- Aprovada em 1986, a Lei de Caducidade, na prática, evita processos por violação de direitos humanos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar no Uruguai que durou entre 1973 a 1985, por obrigar Juízes a consultar o Executivo antes de processar membros das forças da ordem. Se anulada, permitiria a reabertura de todos os processos arquivados desde sua aprovação.

(3) NT: Lacalle, candidato pelo Partido Nacional (Blancos) de centro-direita;

(4) NT: José “Pepe” Mujica e Danilo Astori, candidatos da Frente Ampla a presidente e vice, respectivamente.