No dia 2 de dezembro, aconteceram as eleições internas do Partido dos Trabalhadores (PT) para escolher o presidente da legenda. Como previsto, o candidato à reeleição, Ricardo Berzoini, obteve a maioria dos votos, quase 45% dos votos, contra cerca de 20% do segundo colocado, Jilmar Tatto. A votação, entretanto, não garantiu a Berzoini a vitória no primeiro turno conforme os planos do governo federal.

Ao longo do processo, foi registrada toda sorte de irregularidades, inclusive transporte de eleitores. Tal prática já virou rotina nas eleições do PT há mais de uma década. “Todas as correntes estão fazendo isso, inclusive Berzoini e Cardozo”, justificou o candidato Jilmar Tatto. Ele ainda arrematou: “temos de facilitar a vida do filiado”. Uma verdadeira lição de democracia!

As eleições também marcaram o fim da balela de “renovação do partido”, discurso que pretendia “resgatar a ética” no PT após a crise política de 2005. Os candidatos que disputarão o segundo turno – Berzoini e Tatto – compartilham a tese de que os escândalos ficaram para trás.

O roto e o maltrapilho
Ricardo Berzoini esteve no centro do escândalo do dossiê antitucano, em 2006, onde “aloprados” – segundo a definição do presidente Lula – compraram documentos para minar a campanha de Serra (PSDB) ao governo de São Paulo pelo escândalo dos “sanguessugas”.

O único a insistir em tal discurso foi José Eduardo Cardozo, derrotado por Tatto pela pequena margem de 3.746 votos. Ele adotou a bandeira de campanha do “resgate da ética”. No entanto, Cardozo não explicou por que o seu governo realiza negociatas nem um pouco éticas para aprovar a CPMF e livrar a cara de Renan Calheiros. Tampouco falou sobre a “ética” das tropas invasoras no Haiti ou dos acordos entre Lula e Bush.

No segundo turno, o principal foco da discórdia entre Berzoini e Tatto é sobre a sucessão do presidente Lula. O “aloprado” Berzoini, porém, é apoiado pelo Planalto, pois é visto como “mais confiável” do que Tatto.

Uma vitória do campo majoritário
Mas uma vez, a chamada “esquerda” petista sofreu uma derrota gigantesca. Seu principal expoente, Valter Pomar, amargou um quarto lugar nas eleições e agora chama voto em Tatto.

O que Pomar não diz é que Tatto não tem nenhuma diferença com Berzoini. Ambos têm origem no chamado “campo majoritário”, grupo que dirigiu a sigla e rachou após a crise do “mensalão”. Ambos também são homens do aparato petista, acostumados a sujarem-se nas graxas da máquina partidária, dos financiamentos de campanha e articulações inescrupulosas.

Não por acaso, Luis Favre, marido da ministra do Turismo, Marta Suplicy, ligado ao grupo de Tatto, pregou a criação de um “pacto majoritário”. Segundo ele, tal possibilidade se assenta no fato de as duas correntes “compartilharem pontos centrais acumulados em todos esses anos pelo PT”.

O comentário de Favre reforça as informações de que, nos bastidores, há uma articulação entre Berzoini e Tatto no sentido de evitar o segundo turno da disputa. Se isso ocorrer, estarão dadas as condições para a ressurreição do campo majoritário.