O Paraguai realizará eleições presidenciais no próximo dia 2 de abril. Quase três milhões de eleitores comparecerão para votar nos 17 departamentos do país.Certamente, as atenções da esquerda se voltarão para o país vizinho nas próximas semanas. Isso porque quem está sendo apontado como favorito é Fernando Lugo, ex-bispo de São Pedro, uma das regiões mais pobres e com maior conflito social no país. Ele desponta com 40% nas últimas pesquisas.

Os outros dois principais candidatos à presidência são Blanca Ovelar (Partido Colorado) e o general reformado Lino Oviedo – que tentou um golpe de Estado em 1996. Condenado a dez anos de prisão pela tentativa de golpe, Oviedo só pode concorrer à presidência porque sua pena foi anulada em outubro de 2007 pela Corte Suprema do Paraguai.

Lugo se apresentou na arena política com a intenção de liderar um amplo movimento nacional para quebrar a hegemonia do corrupto Partido Colorado, há mais de 60 anos no poder. Apoiado por organizações populares e de esquerda, o ex-bispo se colocou como o candidato da “mudança”. Em seus discursos, fala em reforma agrária, em combate à corrupção, às máfias do poder e da necessidade de recuperar a soberania energética do país. Nessa última questão, Lugo propõe a renegociação do injusto tratado energético de Itaipu com o Brasil.

Temendo sair do poder, o Partido Colorado tentou impugnar o registro da candidatura de Lugo. A razão apontada foi o fato de que a Constituição proíbe religiosos na disputa eleitoral. No entanto, o ex-sacerdote renunciou e se desligou da vida religiosa em dezembro de 2006.

Moderação no discurso
Apesar de receber um amplo apoio das organizações populares do Paraguai – e também de várias organizações brasileiras -, desde meados do ano passado, Lugo iniciou um movimento de procurar apoio no que há de mais odioso e conservador na política paraguaia. Moderou o discurso e chegou a declarar publicamente que não descartava formar uma chapa presidencial como Lino Oviedo. “Não descarto que podemos ir juntos”, disse. Em seguida, numa entrevista, disse que no novo Paraguai que se deve construir “todos têm algo a contribuir, mesmo os partidários de Oviedo e até de Stroessner”.

Lamentavelmente, o candidato depositário da esperança de um grande setor popular foi aprofundando sua política à direita. Para “ampliar” seu apoio, Lugo deixou de abraçar um programa que responda explicitamente aos interesses dos explorados (especialmente no que se refere a reforma agrária) e decidiu criar uma aliança com o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), principal partido burguês de oposição.

A atuação do PLRA dentro do Parlamento do país fala por si só. Nos últimos anos, apesar de se dizer de oposição, votou pela autorização do ingresso de tropas dos EUA no Paraguai; contra a lei que protegia os camponeses dos efeitos dos agrotóxicos; e pela modificação do Código Penal para criminalizar as lutas sociais. Este é o partido de oposição que indicou o vice-presidente de Fernando Lugo.

A candidatura de Lugo é algo que tem ver com um fenômeno comum que afetou o conjunto da América Latina. É a expressão de um sentimento de mudança pelo qual clamam os povos do continente que tem se refletido de forma distorcida, proporcionando a vitória eleitoral de governos com verniz de esquerda pelo continente. Uma vez eleitos, entretanto, esses governos traem as expectativas da população e não promovendo nenhuma ruptura de fato com o imperialismo.

Com tais aliados, dificilmente Lugo realizará as aspirações de entregar as terras aos camponeses, rever as privatizações e repudiar o modelo agro-exportador que mantém o povo do país na mais completa miséria.

Uma opção classista
O giro à direita de Lugo, evidentemente, trouxe muitas crises as organizações da esquerda paraguaia, embora seja ainda apoiado majoritariamente pelas organizações de esquerda.

No entanto, para reafirmar a independência de classe e a bandeira do socialismo nas eleições, o PT do Paraguai – seção da LIT-QI – lançou a candidatura do ativista Julio Lopez à presidência do país. Secretário geral do Sindicato de Trabajadores de la Universidad Catolica, Julio é a única candidatura independente de esquerda, se constituindo numa alternativa socialista ao continuísmo do Partido Colorado e dos projetos conservadores de Oviedo e de Lugo-PLRA.

“Para nós do PT, os distintos partidos tradicionais, incluindo o de Lugo, partem da mesma matriz programática, no qual não existe nenhuma tentativa de mudar estruturalmente o país. É o mais do mesmo”, explicou Lopez.