Quando escreviámos este texto, as eleições no Iraque chegavam ao fim. Os meios de comunicação dizem que 60% dos 14 milhões de iraquianos aptos a votar compareceram às urnas. Animado, Bush foi à TV dizer que o 30 de janeiro é uma data histórica, porque a vNão se sabe o número exato de votantes e tampouco os partidos vencedores. Mas uma coisa já sabemos: as eleições não foram livres e nem democráticas, mas realizada pelos ocupantes para impor sua política e tentar aplacar a resistência armada de milhares de guerrilheiros. Prova disso é que o país está sob toque de recolher, os aeroportos estão fechados, em quatro das mais importantes províncias não foi feita eleição, até a véspera de votar ninguém sabia quem eram os candidatos ou os locais de votação. Ou seja, foi uma eleição imposta a ferro e fogo, num Iraque ocupado por soldados, principalmente norte-americanos e britânicos, que chutam as portas das casas das famílias iraquianas em busca de armas, sem respeitar ninguém, com se estivessem em sua própria casa.

O resultado eleitoral ainda não saiu, mas o mundo inteiro já sabe que sunitas e xiitas repudiam os invasores, que trouxeram mais violência, não resolveram quaisquer dos problemas internos, como a fome e o desemprego, e querem transformar o Iraque em uma colônia para “fazer negócios” com o petróleo.

O que todos já sabem é que as eleições não trarão a paz ao Iraque. Os exércitos invasores não têm data para sair e a resistência iraquiana já deu mostras de que não está disposta a dizer adeus às armas. A cada dia a resistência conduz a ocupação a um impasse e o governo Alawi a um desgaste massivo, pois são cada vez mais identificados como responsáveis pelas tortura e morte de milhares de iraquianos.

Governo xiita, mais um problema para os EUA

Os principais partidos que disputaram as eleições foram o Partido Islâmico Daawa, Conselho Supremo para a Revolução Islâmica, Congresso Nacional, Acordo Nacional, Partido Democrático Curdo, União Patriótica do Curdistão e o Partido Comunista Iraquiano. A probabilidade maior é que vençam os partidos xiitas, que compõem a maioria da população. Esse será o primeiro problema para os EUA, devido às ligações dos aiatolás com o Irã. Os dois principais partidos iraquianos, o Daawa e o Conselho Supremo, são apoiados financeiramente pelo governo iraniano. Um governo xiita não é o modelo ideal de governança sonhado pelo imperialismo. No entanto, pelas atuais circunstâncias, os EUA são forçados a permitir um governo de maioria xiita. Por outro lado, um governo com alguns sacerdotes xiitas, encabeçado por um partido pró-imperialista e tendo à frente Iyad Alawi, ex-agente da CIA e principal figura pró-americana no Iraque, poderá aprofundar as divisões inter-étnicas com sunitas e curdos, que juntos compõem 40% da população iraquiana, um número nada desprezível.

Resistência deve continuar

Mas o problema maior para os EUA será fazer com que a resistência iraquiana deponha as armas diante de um governo nada representativo. Nos dias prévios à eleição, a resistência cresceu e vários ataques foram feitos contra as tropas ocupantes, inclusive a própria Embaixada dos EUA em Bagdá. A resistência tende a crescer, pois os problemas que lhe deram origem não vão desaparecer com as eleições.

Dados divulgados pelo Instituto Brookings, de Washington, mostram que os EUA estão obtendo uma receita média de US$ 1,5 bilhão ao mês com a exploração do petróleo no Iraque. A produção petrolífera iraquiana já alcança 2,1 milhões de barris por dia e a Halliburton, empresa que já foi presidida pelo vice-presidente dos EUA Dick Cheney, é a maior beneficiada por contratos. Todo esse dinheiro roubado dos iraquianos não é destinado a mover a economia do país que se encontra na mais absoluta miséria.

Prova disso é que os dados apontam para a total falta de perspectivas econômicas entre a população. A economia iraquiana sofreu uma queda de 22% em 2003, ano da invasão, o desemprego passa dos 50% e a maioria das empresas estatais estão destruídas. Enfim, só quem lucrou até agora com a invasão do Iraque foram as multinacionais americanas. As eleições promovidas pelos Estados Unidos não vão trazer a paz porque o futuro governo não vai mudar essa situação que tanto beneficia seus benfeitores.

Afinal, foi para controlar o petróleo que os EUA fizeram o maior deslocamento de tropas militares pelo globo desde a Segunda Guerra Mundial.

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