Em meio a uma profunda crise política e a acusações de fraudes, o Instituto Federal Eleitoral (IFE) – órgão responsável pelas eleições mexicanas – anunciou no dia 6 de julho que o candidato presidencial “mais votado” nas eleições foi o da direita tradicional, Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional (PAN).

De acordo com a IFE, Calderón venceu as eleições por uma estreita margem de votos do seu concorrente, Andrés Manuel López Obrador, candidato do partido da Revolução Democrática (PRD). A diferença foi de apenas 0,57%, isto significa pouco mais de 236 mil votos.

As eleições foram realizadas no dia 2 de junho, e foram extremamente polarizadas. Contudo, o comparecimento nas 170 mil mesas eleitorais do país chegou a 60%, mesmo com o voto não sendo obrigatório no México.

Uma sucessão de episódios demonstra que houve a prática de fraudes eleitorais para favorecer Calderón. Um dia após as eleições, o Prep (Programa de Resultados Eleitorais Preliminares) divulgou um resultado preliminar dando vantagem a Calderón. Detalhe: o resultado preliminar descartou quase 3 milhões de votos em função de “problemas” nas atas eleitorais. Após o fim da contagem oficial, onde foram incluídas as atas das 130 mil seções eleitorais, a diferença entre os dois candidatos ficou um pouco menor que a apontada pela apuração preliminar.

Ao longo da apuração houve outras denúncias de fraude. O diário mexicano La Jornada, por exemplo, publicou fotos de cédulas e atas eleitorais encontradas no lixão da Cidade do México. Obrador contestou o resultado das eleições e disse que não vai aceitar a derrota. O candidato do PRD chamou para este sábado, dia 8, uma manifestação em Zócalo, principal praça da Cidade do México. Também anunciou que vai contestar o resultado na Justiça mexicana.

As história das eleições mexicanas é marcada por fraudes e manipulações. Por mais de 70 anos o Partido Revolucionário Institucional (PRI) se manteve no poder por meio desses artifícios. Em 1988, por exemplo, o candidato oposicionista Cuauhtémoc Cárdenas, do mesmo PRD de Obrador, vencia as eleições presidenciais quando subitamente a contagem rápida dos votos foi interrompida. Após ser retomada, houve uma mudança de tendência e Carlos Salinas, do PRI, foi eleito.

As manipulações eleitorais devem ser denunciadas e é preciso mobilizar a população. A polarização das eleições, somada as fraudes e ao alto índice de abstenções, também faz que o próximo governo – independentemente de quem for aclamado presidente – seja extremamente frágil.

Mais acordos do que diferenças
A polarização eleitoral mexicana reflete, de forma distorcida, o esgotamento do modelo neoliberal na América Latina e o sentimento de mudança que clamam os povos do continente.

Tal sentimento é o que explica a onda de governos com verniz de esquerda pelo continente afora que, uma vez eleitos, traem a população e governam para os ricos e para o imperialismo. O caso mexicano não é muito diferente. Obrador ou Calderón têm muito mais acordos do que diferenças. Ambos pretendem manter o mesmo plano econômico. Ambos defendem a manutenção dos acordos de Livre Comércio. Qualquer um deles prosseguirá com os planos neoliberais e a submissão da economia mexicana aos Estados Unidos.