Iraquiano passa por cartazes convocando a população para as eleições

Diante do avanço da resistência do povo iraquiano, os EUA buscam retomar o controle da situação e manter a todo custo a eleição. A eleição é uma jogada para deter o avanço da resistência, mas a rebelião de massas não cessa e coloca em risco a estratégia iDesde a invasão em 2003, o imperialismo buscou criar algum tipo de “autoridade local”, mas vem fracassando ante à crescente rebelião contra a ocupação. O governo fantoche de Alawi (ex-agente da CIA) demonstrou ser incapaz de deter a rebelião. A manutenção de 150 mil soldados no Iraque está custando a Bush um desgaste tremendo dentro e fora do país. Até na posse para o seu 20 mandato, protestos radicalizados do movimento anti-guerra turvaram a festa de gala de Bush, expressando o repúdio de mais da metade da população americana a essa guerra. Bush aposta nas eleições iraquianas para poder criar um novo governo títere, com algum grau de representatividade, que lhe permita retirar aos poucos suas tropas. Contudo, apesar de todo o volume de recursos utilizados, a insistência nessa tática não parece resolver muito a situação dos EUA no Iraque.

Até nessa questão, da relação entre eleições e saída das tropas, o imperialismo não age com muita segurança: semanas atrás, o governo americano anunciou que a eleição será o primeiro passo para a saída das tropas dos EUA do Iraque. Logo em seguida, essa declaração, feita por Collin Powel, foi desmentida por Bush, dizendo que os soldados não vão sair tão cedo. Depois, Bush declarou que seu objetivo com a eleição é “espalhar a democracia” e pacificar o país, mas foi desmentido por Rumsfeld, que declarou: “Esperar um Iraque pacificado depois da eleição seria um erro”.

Montando uma farsa

O objetivo é eleger uma Assembléia com 275 cadeiras para elaborar uma nova Constituição para o país. Também serão eleitos conselhos locais para 18 províncias. Nas regiões curdas autônomas do norte, os curdos (minoria não-árabe que constitui de 15 a 20% da população do Iraque) vão eleger 111 membros de uma assembléia regional.

Mas até agora tudo indica que a eleição será uma farsa. Generaliza-se por todo o país uma campanha de boicote à eleição. Há um processo contínuo de renúncia dos membros da Comissão Eleitoral. Ações da resistência contra os EUA e os colaboracionistas triplicaram nos dias prévios à eleição. Dos 83 partidos que se apresentaram inicialmente, 53 já se retiraram. Os que ficaram não querem divulgar a identidade de seus candidatos “por medo dos terroristas”. Não há divulgação dos programas nem dos candidatos pela mídia. A organização apoiada pelo mais importante clérigo xiita, Ali al Sistani, a Aliança Iraquiana Unida, só divulgou 34 nomes dos 228 que compõem sua lista de candidatos. Não há padrão crível de eleitores inscritos, qualquer número quer for divulgado é impossível de checar.

A eleição, portanto, é apenas uma manobra, uma outra forma de tentar deter a resistência com um simulacro de “democracia” ao estilo de Bush. É uma eleição totalmente controlada pelos ocupantes e seus títeres. A Assembléia Constituinte resultante não defenderá a soberania nacional, porque isso implicaria na retirada imediata das tropas invasoras. É justamente o que temem os setores da burguesia iraquiana que estão no governo e os governos dos países vizinhos.

Imperialismo brinca com fogo e repete a política fracassada no Vietnã

Bush considerou sua reeleição como um mandato para seguir sua política externa no marco da “guerra preventiva” e saiu ameaçando Irã e outros países. Em seu discurso falou em “derrotar a tirania, se necessário pelas armas”. E encheu a boca falando em “liberdade”.

Mas a eleição não deverá resolver o problema de fundo: o ódio do povo iraquiano à ocupação e às tropas e a seus colaboradores que saqueiam o país. A resistência tende a seguir e se ampliar. Por isso, os EUA não podem apenas apostar na eleição; tem de continuar a ocupação militar para fazer frente ao avanço das forças insurgentes. Isso significa um longo período de envolvimento com as conseqüências ou como disse um ativista antiguerra: “sem poder sair, sem poder ficar, o império vai sangrar”.

No Vietnã também houve algumas tentativas de fazer “eleições” que modificavam apenas o nome do general de turno à testa do governo, enquanto a resistência crescia, e infligia cada vez mais perdas ao imperialismo e afundava cada vez mais as tropas no atoleiro.
Post author Cecília Toledo e José Weil, da redação
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