Chapa da Conlutas inicia campanha para colocar o sindicato a serviço da lutaNo dia 3 de janeiro, a Oposição Metalúrgica/Conlutas realizou a convenção de chapa ao Sindicato dos metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A reunião contou com cerca de 30 trabalhadores da categoria, convocados em poucos dias, em meio às festas de fim de ano. A direção do sindicato havia dado um golpe para evitar a formação de uma chapa da oposição. Realizaram uma assembléia no dia 26 de dezembro, logo após o natal, convocada apenas por um edital em jornal. Para dificultar ao máximo, aprovaram um prazo recorde para a formação de chapa e a realização da eleição em apenas um dia – 28 de janeiro. Nada disso funcionou. A oposição conseguiu registrar a chapa dentro do prazo e agora segue com tudo para disputar a eleição.

A convenção durou mais de quatro horas. Falaram todos que estavam lá em apoio, como os vereadores Paulo Eduardo e Renatinho e o ex-deputado Babá, do PSOL, representantes da Conlutas, como Zé Maria e Cyro Garcia, e Vinícius Codeço, da Intersindical. Mas os metalúrgicos também queriam falar. E falaram….todos! Afinal de contas, não bastasse a revolta com o golpe do sindicato, havia o silêncio de quase 15 anos, provocados pela crise do setor e agravado por um sindicato dirigido por um mesmo grupo de burocratas.

“Li o jornal da Conlutas, liguei para os companheiros. Lá na empresa tem um diretor do sindicato que quando a gente reclama, ele quer logo partir pra agressão física. Quero estar nessa chapa para o sindicato voltar a ser de luta” afirmou um metalúrgico, que nunca havia participado de uma chapa e anunciou ali a sua participação. O tom geral, de desabafo, era acentuado por uma longa espera. Espera de quem, na década de 90, viu os estaleiros fecharem, os empregos desaparecerem e as encomendas de navios migrarem para o outro lado do mundo, em países como Cingapura. A categoria, que chegou a ter mais de 50 mil empregos diretos, viu-se reduzida a cerca de mil. A maioria dos trabalhadores buscou emprego em outras cidades ou migrou para outras áreas. Muitos passaram este período vivendo de pequenos serviços, ou como taxistas e pequenos comerciantes. Os empresários do setor não perderam. Migraram o seu capital para outras áreas, deixando um rastro de dívidas trabalhistas pelo caminho. “Fizemos vários protestos em Brasília para a liberação de navios. Teve empresário que embolsou o dinheiro e nunca criou um emprego”, lembrou um metalúrgico na convenção.

A bronca com os empresários é antiga, eterna. E tão grande quando a revolta com a direção do sindicato. Com a volta dos empregos e a reabertura dos estaleiros, há cerca de sete anos, a direção sindical, ligada à CUT, passou a defender os patrões e o governo petista com unhas e dentes. “A atual diretoria deixou de representar os trabalhadores. Foi cooptada para fazer o jogo sujo do governo. Eles deixaram de ser trabalhadores”, denuncia Paulinho, candidato a presidente pela chapa da oposição.

Se, por um lado, os empregos retornaram, por outro viram acompanhados de uma série de problemas, como o desrespeito aos direitos trabalhistas, os baixos salários e as más condições de trabalho. Recentemente, uma empresa chegou a fornecer comida estragada aos empregados. O sindicato nada fez. Acidentes seguem ocorrendo. “Sou guindasteiro há 24 anos. Lá de cima, vi cair um operário morrer com a queda de uma peça de uma 200 quilos e o sindicato atestar que ele saiu da empresa com vida”, afirmou revoltado um operário da oposição.

As empresas nunca lucraram tanto e tiveram tantas facilidades para explorar a mão-de-obra. Hoje o setor responde por 28,8% do PIB de Niterói. Mas pouco chega aos bolsos dos metalúrgicos. Como afirma o jornal da chapa, “emprego não basta!”. Em sua maioria, são baixos salários e cresce o número de empresas terceirizadas – “as gatas” – com precarização do trabalho e contratos temporários. O sindicato nada faz. Ao contrário, parece defender as empresas em seu jornal. Tampouco organiza a luta contra as reformas, como a marcha a Brasília do ano passado. O que levou um metalúrgico a perguntar a todos na convenção da chapa: “Quanto tempo a gente costuma guardar o lixo em casa, antes de jogar fora?”

Integrantes e apoiadores da chapa

Alternativa
De tanto atuar ao lado dos empresários, o sindicato ganhou o apelido de “Sindiquieto”. Nos estaleiros, o presidente do sindicato, Mascarenhas, foi rebatizado. Para a categoria, ele é o “Mascaranha”. Nesse cenário, a chapa da Conlutas surge como uma alternativa, como algo em que se acreditar. Como afirma Maria de Lourdes Rodrigues, a Lourdinha, única mulher da chapa, soldadora há 24 anos: “Com tanta traição, ficamos à deriva, em nossa vidinha”.

Muitos companheiros enxergaram na oposição uma esperança depois de anos sem alternativa. O próprio Paulinho, que encabeça a chapa, é um deles. Conhecido por muitos ainda como o Paulinho da CS, por seus anos de militância aguerrida na corrente Convergência Socialista, Paulinho estava afastado do movimento sindical. “Eu estava em casa. Estava tocando uma obra lá. E tinha um companheiro que sempre aparecia pra falar que a gente tinha de fazer algo, que a categoria não merecia essa direção. Eu deixei a obra. Tá tudo parado lá em casa. Mas não tem problema não, porque aqui nós estamos construindo algo muito maior: a vitória da nossa classe!”

A eleição de Niterói reflete algo que ocorre em todo o país. Como afirmou Zé Maria, “no Brasil todo há um processo de reorganização, tendo a Conlutas como alternativa.” Neste início de campanha, as panfletagens têm sido marcadas por um amplo apoio dos metalúrgicos, sejam os que enfrentaram os anos sem emprego ou que iniciaram agora na profissão. Os panfletos são recebidos calorosamente e por todo lado escutam-se palavras de apoio e incentivo. Segundo Paulinho, “os metalúrgicos sérios se recusaram a compor chapa com a atual direção. Vários não só apóiam como fazem parte da chapa da oposição”.

Emoção, ansiedade, disposição pra lutar. O bloco da oposição está na rua, em uma campanha acirrada. Ao mesmo tempo em que fazem campanha, os metalúrgicos da Conlutas preocupam-se com a possibilidade de fraude nas eleições. Afinal, estão enfrentando pelegos da CUT, de partidos como o PT e o PCdoB, que transformaram o sindicato em uma ante-sala dos patrões. Nesse momento, pedem o apoio de todos os lutadores, para construir um sindicato democrático e de luta, nas mãos da categoria. E já anunciam como ele será: “Vamos chamar um congresso dos metalúrgicos, pra base decidir, e mudar o estatuto e a estrutura de presidente. E colocar o sindicato apoiando todas as lutas, contra as reformas, tornando aquele prédio um quartel-general da classe operária”, afirma Paulinho.