A emoção era visível nos rostos dos participantes do Elac ao cantarem a Internacional. Logo no início do encontro, o hino foi cantado em castelhano, inglês, português, guarani e russo, por delegados de 21 países.

O orgulho de participar de um evento histórico estava presente nas lágrimas de alguns. O Elac foi histórico porque pela primeira vez houve um encontro latino-americano por fora dos aparatos stalinista e social-democrata e da democracia cristã.

Além dos convocantes, estiveram presentes membros de setores importantes das lutas recentes na América Latina, como Roni Cueto, a liderança mineira mais importante do Peru, que dirigiu a greve da mina Showgang.

Outro participante foi Tarquino Cajamarca, do Congresso dos Povos do Equador, que liderou uma luta contra as petroleiras e foi perseguido pelo governo de Rafael Correa. Recentemente ele foi anistiado pela constituinte após uma campanha de solidariedade internacional.

Da Costa Rica vieram lideranças que participaram da luta contra o Tratado de Livre Comércio (TLC) e representantes da Central Geral dos Trabalhadores. Também estiveram presentes representantes da “rebelião dos pingüins”, as mobilizações estudantis do Chile.

Do México veio Antonio Vidal, representante da luta dos trabalhadores da previdência, que recentemente fizeram uma marcha com mais de 20 mil pessoas.
O Elac concentrou os mais importantes processos de reorganização do continente. Num momento em que a maioria absoluta das centrais sindicais apóia os governos de seus países, reuniram-se representantes das alternativas de esquerda que estão sendo construídas.

Não foi um encontro de grupos marginais, mas de entidades que dirigiram greves e mobilizações importantes. Entidades minoritárias em seus países, mas com peso social para dirigir e disputar a direção de lutas importantes.

Propostas de lutas e de continuidade
A proposta do encontro atendia às necessidades de construção de um processo ainda em surgimento. Foi discutido um manifesto, trabalhado anteriormente pelos convocantes, que foi modificado pela discussão e assumido por todos os presentes.
Um plano de lutas foi aprovado, ao redor de seis eixos: luta contra a criminalização dos movimentos sociais (perseguições e assassinatos de lideranças); contra os planos de militarização imperialistas (tendo como principal campanha a ocupação do Haiti); contra o imperialismo e pelo não pagamento da dívida pública; contra as reformas neoliberais; contra os impactos da crise alimentar no mundo e em defesa dos salários, dos recursos naturais e da energia (com a nacionalização do petróleo).

Foi definida ainda uma jornada latino-americana antiimperialista entre 13 e 17 de outubro, com manifestações ao redor desses eixos.

Além disso, ficou acertada uma campanha permanente em defesa das lideranças perseguidas pela repressão. Uma nova reunião das entidades aderentes ficou marcada para o início de 2009, provavelmente no Fórum Social Mundial de Belém, para discutir novas ações comuns e um novo encontro para fins de 2009 ou início de 2010.
O Elac possibilitou também reuniões entre os setores ligados aos recursos naturais (mineiros, petroleiros, etc.), operários industriais (metalúrgicos, construção civil e outros), transporte (condutores, portuários, trabalhadores de metrô), professores, estudantes, mulheres, negros e de direitos humanos.

Essas reuniões foram muito proveitosas, possibilitando a troca de experiências e a elaboração de programas que resultaram em manifestos como o de mulheres e o da juventude.

Independência em relação aos governos
A solidariedade e a fraternidade entre os presentes, além da maturidade na discussão sobre as diferenças, foram um destaque do Elac. Os convocantes do encontro já tinham definido uma postura de não aprovar uma posição contrária aos governos chamados “progressistas” da América Latina (como Chávez e Evo Morales). Embora a ampla maioria dos presentes ser contrária a eles, como se manifestou nos debates.

Tal encaminhamento tem a ver com a proposta de frente única com todos os setores que se disponham a lutar em defesa dos trabalhadores, mesmo que tenham expectativas em Chávez e Evo.

A única condição era a defesa da independência dos trabalhadores diante desses governos, expressa no manifesto do Elac.

Algo bem diferente do aparato social-democrata da CSI (a nova central mundial resultante da fusão da CIOSL com a CMT), que está ligada aos governos imperialistas europeus e o norte-americano. Ou ainda, da Federação Sindical Mundial (FSM), impulsionada por stalinistas (como o PCdoB no Brasil, com sua CTB), apoiada por Cuba e Chávez.

A FSM realizou um encontro em maio e definiu um manifesto que incluía apoio ao governo Lula. A obediência a esses governos burgueses impede que essas centrais realmente tenham iniciativa nas lutas dos trabalhadores.
Essa foi uma das polêmicas que levou o MES e o MTL no Brasil a romperem com a Conlutas e o ELAC. Essas correntes queriam que o ELAC fosse atrelado aos governos Chávez, Evo e Correa.

Início de uma caminhada
Em dois dias foram discutidos e definidos um manifesto, uma jornada de lutas latino-americana e a continuidade da articulação entre as entidades. As discussões e decisões do encontro, além da importância social das organizações presentes, mostraram que estava sendo dado um passo fundamental para a construção de uma alternativa real de luta na América Latina.

Quem convocou o ELAC
Além da Conlutas, o Elac foi convocado pela Batay Ouvriye, do Haiti, pela Tendência Classista e Combativa (TCC), do Uruguai, pela Corrente Classista, Unitária, Revolucionária e Autônoma (C-CURA), da Venezuela, pela Central Operária Boliviana (COB), da Bolívia e pela Mesa Coordenadora Sindical (MeCosi), do Paraguai.

A C-CURA é a expressão da reorganização pela esquerda do movimento sindical venezuelano, agrupando dirigentes sindicais petroleiros, têxteis e de outros setores que se opõem ao governo Chávez. Recentemente a corrente realizou uma plenária nacional, com cerca de 200 sindicalistas.

A TCC expressa o início da reorganização sindical à esquerda da PIT-CNT, central sindical uruguaia que apóia o governo de Tabaré Vasquez, como a CUT apóia Lula.

A MeCosi, recentemente fundada, representa 48 sindicatos, mais do que a maioria das outras centrais do país. A COB é a central sindical de maior tradição em todo o continente. Seu secretário-geral, Pedro Montes, não pôde estar presente, mas foram ao encontro representantes do sindicato mineiro de Huanuni, de grande peso no proletariado boliviano. A Batay Ouvryie é a principal organização de resistência à invasão militar do Haiti.

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