Correio Internacional – uma publicação da LI-QINo mês de março, foram realizadas as eleições presidenciais em El Salvador, pequeno país na América Central. O vitorioso foi Mauricio Funes, candidato da Frente Farabundo Martí pela Libertação Nacional (FMLN)

Este resultado tem provocado grande entusiasmo no povo salvadorenho. Em primeiro lugar, porque a derrota eleitoral do Arena, um partido burguês de direita que estava há duas décadas no poder, é sem dúvida um triunfo das massas salvadorenhas. Tal como assinala o Movimento Socialista de Trabalhadores e Camponeses (MSTC, seção salvadorenha da LIT-QI), a votação expressou o cansaço “com a aplicação de políticas neoliberais e a privatização dos setores do Estado”, agravada pela “deterioração das condições de vida da classe trabalhadora [que] se aprofundou durante esse período” (“O governo da FMLN e os desafios da esquerda revolucionária” – Luta Socialista n° 8, abril de 2009).

No entanto, o que mais gera euforia entre a população é o fato de a FMLN, direção político-militar durante a guerra civil ocorrida no país entre 1980 e 1992, chegar ao governo pela primeira vez quase 30 anos após sua fundação como frente guerrilheira. E 16 anos depois de se constituir como partido.

Por isso, “centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras e outros setores do povo deram seu voto à FMLN nas eleições (…) Claramente as massas trabalhadoras depositam no governo eleito da FMLN suas esperanças e têm grandes ilusões no mesmo”.

Essas ilusões das massas serão correspondidas? A maioria da esquerda salvadorenha, da América Central e mundial afirma que sim. Para eles, o futuro governo da FMLN é mais um dos “governos populares”, “anti-imperialistas”, até “socialistas”, que se estendem pela América Latina (Hugo Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; Rafael Correa, no Equador; Eduardo Ortega, na Nicarágua etc).

No entanto, para a LIT-QI e o MSTC, essas esperanças serão lamentavelmente frustradas. Consideramos que o governo Mauricio Funes e a FMLN, longe de “avançar para o socialismo”, enfrentar o imperialismo ou tomar medidas a favor do povo, terão como objetivo central defender os interesses da burguesia, no marco da crise econômica internacional. Para isso, o governo não só aplicará as medidas contra os trabalhadores e camponeses, mas buscará frear qualquer resposta da luta das massas salvadorenhas.

Um pouco de história
Para entender esta afirmação, é necessário recordar um pouco da história recente do país. O triunfo da revolução sandinista na Nicarágua, em 1979, abriu um profundo processo revolucionário em toda a América Central. Isso teve uma forte expressão em El Salvador. Diante da grande ascensão de massas que se dava no país, a burguesia, a direita salvadorenha e o imperialismo norte-americano iniciaram, nos princípios da década de 1980, uma sangrenta guerra civil que custou a vida de 75 mil pessoas (entre mortos e desaparecidos). Isso num pequeno país que hoje tem em torno de seis milhões de habitantes.

Foi em meio a essa situação que a FMLN surgiu em 1980, integrada por: Forças Populares de Libertação (FPL), Resistência Nacional (RN), Exército Revolucionário do Povo (ERP) e Partido Comunista Salvadorenho (PCS). Pouco depois, se somaria o PRTC (Partido Revolucionário dos Trabalhadores Centro-americano). A FMLN foi a direção política e militar do movimento de massas durante todo esse processo que, em 1989, chegou a cercar a capital do país.

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