A imagem de Einstein, de um gênio desatento ao mundo cotidiano, é completamente falsa. No texto “Por que o Socialismo?”, o gênio da física mostra o capitalismo como causa dos males da humanidadeEm 1905, o físico judeu-alemão Albert Einstein escreveu artigos que propuseram soluções brilhantes para os problemas da ciência da época. Seu trabalho alterou de forma definitiva a maneira como a humanidade vê o mundo natural.

Surgia assim a Relatividade Restrita, que estabeleceu os fundamentos de uma nova e revolucionária concepção de espaço-tempo, tida até então como algo absoluto e invariável. Ampliado em 1916 pelo próprio Einstein, esse trabalho permitiu a publicação da Teoria da Relatividade Geral.

Falsa imagem
A imagem popular de Einstein, cultivada pela mídia, é a de um cientista brilhante e distraído, um gênio da física teórica, mas alheio ao mundo cotidiano. Essa imagem, no entanto, é falsa, não correspondendo às preocupações humanistas que afligiam o cientista. Durante toda sua vida, Einstein foi um radical oponente da ignorância e do obscurantismo, em especial todas as formas de chauvinismo e racismo. Na II Guerra Mundial, quando foi obrigado a fugir da Alemanha nazista e morar nos EUA, opôs-se fortemente ao lançamento das bombas atômicas sobre o Japão. Também denunciou o governo dos EUA por estar fabricando, na época, a bomba de hidrogênio, o que lhe rendeu uma forte perseguição por parte do FBI. Em crescente desacordo com a política americana durante a Guerra Fria, Einstein saiu em defesa do casal Rosemberg, acusado de espionagem para os soviéticos e executado em 1953, vítima da caça às bruxas promovida pelo senador McCarthy.

Por que o socialismo?
Einstein sempre se manifestou pelo humanismo e pelo internacionalismo. Apesar de nunca ter abraçado integramente o marxismo e a luta pela causa socialista, em 1949 o velho cientista escreveu para a revista Monthly Review um artigo intitulado “Por que o socialismo?”, em que expõe sua visão sobre o regime democrático-liberal, aponta o capitalismo como causa dos problemas da humanidade e defende o socialismo. Einstein expõe também – numa clara menção ao stalinismo – sua preocupação em evitar “que a burocracia se torne todo-poderosa” em uma sociedade socialista.
Para homenagear os cem anos da Relatividade e os 50 anos da morte do cientista, publicamos abaixo alguns trechos desse artigo.

“O progresso tecnológico resulta freqüentemente
em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos”

Albert Einstein

“(…) A anarquia econômica da sociedade capitalista como existe atualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos do seu trabalho coletivo – não pela força, mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade produtiva que é necessária para produzir bens de consumo bem como bens de equipamento adicionais – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de indivíduos”
“(…) O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras menores. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura (…) Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e, mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objetivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos”.

“(…) A produção é feita para o lucro e não para o uso. Não há nenhuma disposição em que todos os que possam e queiram trabalhar estejam sempre em posição de encontrar emprego; existe quase sempre um “exército” de desempregados. O trabalhador está constantemente com medo de perder o seu emprego. Uma vez que os desempregados e os trabalhadores mal pagos não fornecem um mercado rentável, a produção de bens de consumo é restrita e tem como conseqüência a miséria. O progresso tecnológico resulta freqüentemente em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos.

(…) Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males, nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objetivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planejada. Uma economia planejada, que adaptasse a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças.

“(…) No entanto, é necessário lembrar que uma economia planejada não é ainda o socialismo. Uma tal economia planejada pode ser acompanhada pela completa opressão do indivíduo. A concretização do socialismo exige a solução de problemas sócio-políticos extremamente difíceis; como é possível, perante a centralização de longo alcance do poder econômico e político, evitar que a burocracia se torne todo-poderosa e vangloriosa? Como podem ser protegidos os direitos do indivíduo e com isso assegurar-se um contrapeso democrático ao poder da burocracia?”

Post author Jeferson Choma, da redação
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