Tudo indica que a luta do povo egípcio não terminou com a queda de Mubarak. Sentindo-se fortalecidos, os trabalhadores partem agora para a luta direta por melhorias de suas condições de vida. As greves que deram o empurrão final para o fim da ditadura que durava 30 anos espalham-se agora por vários setores e regiões do Egito, tanto no setor público quanto privado.

Trabalhadores de ônibus e ferroviários do transporte público no Cairo, bancários do Banco Nacional do Egito, o maior do país, petroleiros, metalúrgicos e servidores públicos das mais diferentes áreas, desafiam o governo militar e cruzam os braços. Trabalhadores de um hospital fizeram uma greve que só terminou com a queda do diretor do hospital, ligado ao governo Mubarak e acusado de incontáveis humilhações. Um jornalista da BBC chegou a afirmar que há “uma série de mini-revoluções em curso após a queda de Mubarak” .

O Conselho Supremo Militar que está no poder, emitiu um comunicado nesse dia 14 de fevereiro conclamando os trabalhadores a encerrarem as greves e voltarem ao trabalho. “Nobres egípcios vêem que essas greves em tempos delicados como este levam a resultados negativos” , diz o “Comunicado nº 5” emitido através da TV estatal. A declaração adquire tom de ameaça ao afirmar que o Exército “preveniria caos e desordem”.


Trabalhadores do transporte protestam no Cairo nesse dia 14

A posição do Exército não surpreende já que, mesmo nos momentos finais da ditadura de Mubarak, a instituição pediu aos egípcios para voltarem para casa e encerrarem os protestos. No dia seguinte à renúncia do ditador, os soldados retiraram à força as barracas e manifestantes que insistiam em permanecer na Praça Tahrir.

O novo governo pretende agora colocar fim à revolução e, ao que parece, consolidar um governo militar no país para realizar uma transição que assegure seus privilégios. Em relação às greves, por enquanto apenas “pediram” o final do movimento. A agência de notícias Reuters, porém, chegou a noticiar que fontes militares revelaram que o Exército pretende a proibição das greves e das reuniões sindicais.

Nenhuma confiança no Exército
O novo governo encabeçado pelo general Mohamed Tantawi, conhecido como o “poodle de Mubarak”, não deu qualquer prova de que cumpriria suas promessas de realizar a transição rumo a uma democracia. Apesar de ter dissolvido o Parlamento e suspendido a Constituição da era Mubarak, continua em vigor o estado de emergência e os presos políticos não foram libertos.

O povo egípcio, porém, assim como ignorou o Exército quando pedia a queda de Mubarak, não dá mostras de que ouvirá as Forças Armadas agora. A revolução no Egito continua.

Atualizado em 16/2/2011, às 21h37

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