A outra peça chave do cerco israelense à Gaza era a ação do Egito, que devia garantir sua fronteira com o sul da Faixa de Gaza. Mas, com intuição certeira, as massas palestinas, encabeçadas pelo Hamas, romperam o cerco pelo seu “elo mais frágil”, derrubando os muros da fronteira. O exército egípcio, que inicialmente trocou disparos com a milícia do Hamas, hesitou em reprimir os milhares de pessoas que entravam no país. Ao mesmo tempo, os moradores e comerciantes egípcios da península do Sinai se mostraram dispostos a receber e a ajudar o povo palestino.

Esses fatos provocaram uma crise política dentro do Egito, cuja importância excede a da ruptura do bloqueio. Entre 1948 e 1973, este país, o maior do mundo árabe, governado por uma corrente militar nacionalista burguesa, o nasserismo, encabeçou a luta dos povos árabes contra Israel. Após a derrota, em 1973, na guerra contra Israel, o nasserismo começou a girar cada vez mais à direita. Em 1978, Anwae o-Sadat, sucessor de Nasser, assinou em Camp David (EUA) um acordo com o governo israelense, que reconhecia a existência de Israel e renunciava à luta por recuperar a Palestina para o povo árabe.

Atualmente, o Egito é governado pela sangrenta ditadura pró-imperialista de Hosni Mubarak, que recebe dos EUA uma ajuda anual de US$ 2 bilhões (a maior depois da concedida para Israel) para quebrar a unidade dos povos árabes na luta contra Israel e fechar o cerco sobre a Faixa de Gaza.

É lógico, então, que o governo de Mubarak tenha recebido duras recriminações por parte de Israel e do imperialismo por não cumprir seu papel. Algo que, apesar de sua vontade de fazê-lo, não parece fácil, pela crise que esta situação está provocando no exército egípcio e as simpatias da maioria da população pelos palestinos.

De fato, a partir da ruptura da fronteira, o problema palestino passou a fazer parte da política interna do Egito. Aumentaram os questionamentos à política pró-imperialista de Mubarak e foram realizadas mobilizações em apoio aos habitantes de Gaza. Isto é, aumenta o desgaste do governo porque este problema soma-se a outros já existentes, como a onda de greves operárias que atravessou o país nos últimos anos.

Em outras palavras, com a crise da ditadura de Mubarak, está se deteriorando aceleradamente uma das peças chave da estrutura política do imperialismo e do sionismo na região.
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