Há um ano uma revolução democrática com participação de milhões sacudiu o Egito e derrubou o ditador Hosni Mubarak. Essa revolução feita pela população pobre trabalhadora, tendo a juventude a sua frente, lutava pelo fim da ditadura, incluindo a punição dos dirigentes do velho regime e por liberdade de expressão e organização. 
O pano de fundo eram as condições duríssimas de vida, com alto desemprego, baixos salários, falta de acesso à educação e saúde de qualidade ou moradias dignas. Na prática a revolução se voltava contra Israel e as potências colonialistas europeias e americana que dominavam toda a região com a colaboração direta dos ditadores árabes.

Mubarak foi derrubado e a população conquistou uma série de liberdades democráticas nunca vistas no país. O exército saiu intacto e com apoio popular, assim como a Irmandade Muçulmana emerge como principal organização de oposição. A principal debilidade da revolução era a ausência de uma organização revolucionária que pudesse dar consciência ao processo revolucionário, potencializando ao máximo toda a energia de transformação social.
 
Experiência
Nos meses seguintes houve um processo de experiência de massas com a Junta Militar que governa o país, simultaneamente com uma experiência da vanguarda com a Irmandade Muçulmana.

Em setembro, a Junta Militar enfrenta uma onda de greves que a questiona. A Irmandade não apoia as greves, chegando ao ponto de se opor diretamente a elas em algumas províncias. 

O ponto alto se deu em novembro, quando houve sérios enfrentamentos entre setores de esquerda e a polícia em frente ao Ministério do Interior na qual os manifestantes exigiam o fim da Junta Militar.

 As eleições, realizadas em três turnos ao longo dos dois meses, culminou com um voto maciço na oposição. A Irmandade Muçulmana elege 42% dos deputados, os salafistas (fundamentalistas islâmicos) 22%. Somente sete candidatos vinculados com a revolução, apoiadores tanto dos protestos na Tahrir e como das centenas de greves. Esse resultado colocou na ordem do dia a saída dos militares.

Milhões marcham no aniversário da revolução
No dia 25 de janeiro, mais de um milhão de pessoas marcharam para a Praça Tahrir. Houve grandes marchas em várias outras cidades, como is Alexandria.

A principal reivindicação dos manifestantes é pela saída imediata da junta militar.
No dia 25 a Irmandade convocou uma comemoração já que a revolução já estaria concluída. Mas setores de esquerda entendiam que a revolução estava incompleta e convocaram uma semana de protestos.

As novas manifestações ocorreram nos dias 27 e 28 de janeiro. Nelas houve críticas de manifestantes contra a Irmandade pelo apoio dado à permanência dos militares no poder até final de junho.
 

Em 31 de janeiro, milhares de manifestantes exigindo o fim da ditadura militar foram impedidos por membros da Irmandade de chegar ao parlamento.

A marcha, denominada “Terça-feira da Determinação” foi chamada por 56 diferentes organizações para exigir a transferência imediata do poder dos militares para o parlamento, além de punição dos líderes do antigo regime.

No momento em que os manifestantes chegaram ao parlamento, a marcha composta por vários milhares gritava palavras de ordem contra o regime militar. A polícia, auxiliada por um muro de concreto, bloqueou um dos lados do edifício, enquanto a Irmandade Muçulmana bloqueou o outro lado. Manifestantes trocaram as palavras de ordem de “Abaixo o regime militar” para “Abaixo a Irmandade” e acusaram o líder da Irmandade Muçulmana de vender a revolução para preservar seu resultado eleitoral. No confronto, 43 pessoas ficaram feridas entre membros da Irmandade e manifestantes.
 

No dia seguinte, uma partida de futebol entre o Al Ahly, time mais popular do país cuja torcida é participante assídua dos protestos revolucionários, e o Al Masri, equipe da cidade Port Said, termina num massacre de 70 torcedores. 

Todas as suspeitas recaem sobre a Junta Militar: os policiais presentes não fizeram nada, os portões de saída para a torcida visitante estavam fechados e as luzes foram apagadas. Não foi a primeira vez que os militares lançaram mão deste tipo de ação.
Imediatamente a torcida do Al Ahly e  grupos de esquerda se dirigiram ao Ministério do Interior no Cairo e em Suez, onde houve violentos choques com a polícia com a morte de pelo menos 15 manifestantes ao longo de cinco dias.

Greve geral no dia 11 de fevereiro
Os revolucionários entendem que para derrubar os militares não bastam protestos nas praças do Cairo. É necessário dar um passo além e buscar o apoio ativo de milhões de pessoas. Assim, convocam uma greve geral. Os estudantes são os primeiros a responder, como na Universidade do Cairo, a maior do país, e da Universidade Americana, a mais prestigiada, chegaram a convocar uma greve geral a partir do dia 11, data da queda de Mubarak. Não se sabe se essa convocatória terá repercussão entre os trabalhadores. 
 
A Irmandade Muçulmana, pressionada peloss protestos nas ruas, protestou contra o massacre em Port Said, e exigiu dos militares a passagem do poder para o parlamento recém eleito que decidiria o novo governo.
 
Perspectivas de mudança
Quando fechávamos essa edição, a situação seguia incerta no Egito. O que está claro é que os militares não têm mais condições de oferecer a estabilidade que os ricos e as empresas exigem. Mas os militares não querem ceder o poder, já que podem perder o controle de US$ 1,5 bilhões do governo americano.

O que podemos afirmar é que é preciso avançar em uma luta unitária do novo sindicalismo (a federação sindical independente e seus mais de 100 sindicatos filiados), os estudantes, os movimentos reunidos ao redor da Praça Tahrir para por abaixo  a Junta Militar que governa o país.

E que é necessário uma alternativa distinta da Irmandade Muçulmana para o país. Essa alternativa, um governo dos trabalhadores, é a única que pode atender as reivindicações dos trabalhadores e do povo pobre por emprego, salário, educação, habitação e saúde, juntamente com a ruptura com as potências coloniais (União Europeia e os EUA) e enfrentar Israel. Essa é a única maneira de completar a revolução. Para isso, é necessária mais que nunca uma organização revolucionária com influência de massas.