Manifestantes não recuam frente a repressão de Mubarak

Jornada de mobilizações está sendo chamada deMesmo com o recrudescimento da repressão pela ditadura de Mubarak, lançada a partir desse dia 2 de fevereiro, as manifestações exigindo sua saída não recuam e devem convergir, nesse dia 4, numa massiva mobilização nas ruas do Cairo contra o ditador. É o que os ativistas estão chamando de “O Dia da Partida”, um verdadeiro ultimato a Mubarak para que renuncie.

O dia, sexta-feira, sagrado para os muçulmanos, deve ser de intensas manifestações após o período das orações. A convocação da jornada de protestos mostra que nem a repressão e muito menos as manobras do governo estão tendo êxito em esvaziar a revolução nas ruas do Egito. Os manifestantes parecem resignados em tirar o ditador do poder, nem que para isso tenha que arriscar a própria vida.

Repressão após marcha do milhão
Após a multitudinária marcha que tomou as ruas do Cairo e de grandes cidades egípcias como Alexandria e Suez, no primeiro dia de fevereiro, parecia que o regime se dava por vencido e que caminhava para uma tentativa de negociação com os opositores. O presidente foi à TV anunciar que não concorreria à nova reeleição e pediu o fim dos protestos. O chefe do Estado Maior do Exército também conclamou o fim das manifestações e o retorno à normalidade.

Tal movimento, porém, logo se mostrou apenas uma manobra para esvaziar os protestos, assim como fora a nomeação do vice-presidente Omar Suleiman e a troca dos ministros. No dia seguinte Mubarak lançou uma horda de capangas sobre as manifestações, formado em grande parte, segundo alguns relatos da imprensa e dos próprios manifestantes, por policiais do governo. A Praça Tahrir no centro do Cairo se tornou um verdadeiro campo de batalha, com cenas surreais como as de homens sobre cavalos e camelos investindo contra os manifestantes pacíficos.


Manifestantes e capangas de Mubarak se enfrentam no Cairo

O Exército, que chegou a declarar que não reprimiria os manifestantes e reconhecer que suas reivindicações eram legítimas, facilitou o ataque e nada fez para impedir o confronto. Enquanto alguns soldados se confraternizaram com os manifestantes, as Forças Armadas como instituição, ou pelo menos sua cúpula, se revelaram totalmente a favor de Mubarak.

Intimidação
Segundo a imprensa internacional, boa parte dos homens de Mubarak foi paga para massacrar os manifestantes. Os ataques e confrontos continuaram no decorrer desse dia 3 e se estenderam à imprensa internacional. Jornalistas estrangeiros foram roubados, presos e deportados. A intimidação mostra claramente a ação coordenada entre os capangas de Mubarak e as autoridades no país. Dois jornalistas da EBC, empresa estatal brasileira de comunicação, chegaram a ser presos, vendados e confinados por horas numa delegacia do Cairo. Membros de organizações internacionais, como da Anistia Internacional e da Human Rights Watch também foram presos.

Os ataques e a intimidação da ditadura, porém, parecem não surtirem efeito. Imagens das manifestações desse dia 3 mostram ativistas anti-governo mesmo machucados armando barricadas.

Mubarak, por sua vez, ao mesmo tempo em que comanda a repressão nas ruas por baixo dos panos, tenta adotar um tom conciliador em público. Assim, Suleiman chegou a pedir “desculpas” pelos confrontos nas ruas do Cairo. O ditador, por sua vez, deu uma entrevista à britânica ABC no qual disse que gostaria de sair do governo, mas que não pode fazer isso pois “se eu me demitir hoje ficará o caos”.

O governo tenta ainda estabelecer negociações com forças da oposição, como a Irmandade Muçulmana. Alguns setores, porém, como o movimento Seis de Abril, que aglutina vários partidos, já declararam que não negociam enquanto Mubarak estiver no governo.

Mesmo com a ameaça e a tensão que pairam sobre a capital do Egito, a marcha promete ser um duro golpe, se não o definitivo, sobre a ditadura do principal país do Oriente Médio.