Depois de 66 dias de greve, categoria consegue obter importantes vitórias. Mas aguarda sanção do governador Sergio CabralN o dia 7 de junho, professores e funcionários da rede estadual de educação do Rio de Janeiro deram início a uma greve de 66 dias que ficará na história da categoria. Milhares de profissionais se reuniram em assembleia, onde a indignação com os baixíssimos salários e com a política meritocrática do governo Cabral se somou à revolta pela prisão dos 439 bombeiros que estavam em greve. O resultado não poderia ser outro. Toda a assembleia cantava “a educação parou”. A unanimidade na votação indicava a força que a greve teria.

Desde então, a categoria foi para rua. Com passeatas e atos, outdoors e busdoors, panfletagens e, inclusive, com um acampamento, que durou mais de um mês, na porta da Secretaria de Educação (em um dos pontos mais movimentados da cidade), os professores, funcionários e estudantes denunciavam para a população o descaso do governo com a educação pública.

Nas audiências, o governo fazia promessas vazias para tentar convencer que não havia dinheiro para qualquer reajuste salarial. Todos os argumentos foram por terra após a queda do helicóptero no sul da Bahia. A partir desse episódio, vários esquemas de corrupção vieram à tona, e a população soube para onde ia o dinheiro do estado do Rio de Janeiro: para o bolso de “amigos” empreiteiros, que participavam de transações milionárias financiadas com dinheiro público.

A greve seguiu ganhando força. E o Sergio Cabral, reeleito com 66% dos votos, perdia cada vez mais o apoio da população. As enchentes na região serrana, a truculência da polícia militar, a prisão dos bombeiros, os casos de corrupção e a constatação dos humilhantes salários pagos aos profissionais de educação acuaram o governador, que sumiu da mídia.

,b>A derrota do governo
Um dos momentos mais importantes da greve aconteceu no dia 29 de junho. Nessa data seria aplicada o Saerj (Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro), uma imposição do governo do estado para “avaliar” os alunos. Considerada um dos pilares da política meritocrática do governo Cabral, que premia os “melhores” professores, de acordo com sua “produtividade”, a prova do Saerj foi amplamente boicotada, por alunos e por professores – mesmo por aqueles que não estavam em greve. Milhares de adesivos “Saerj não, respeito à educação” foram colados nas provas, demonstrando o repúdio dos estudantes.

Vitórias da greve
Antes, mesmo da greve, o governo apresentava alguns pequenos ganhos econômicos, porém sem reajuste, numa óbvia tentativa de esvaziar o processo de mobilização. Não adiantou. A longa duração da greve obrigou o governo a propor um índice de reajuste.

Ao fim, a categoria teve alguns ganhos importantes. Os funcionários passam a ter direito a um Plano de Carreira, por formação e por tempo de serviço (uma luta antiga da categoria), e a incorporação total da gratificação Nova Escola. Isso representou aumentos entre 3 e 115% no salário. Os professores tiveram reajuste de 5%, antecipação de uma parte do Nova Escola, valor da hora extra semelhante ao vencimento base, liberação dos enquadramentos por formação, reajuste no adicional de qualificação. Os animadores culturais conseguiram 14,5% de reajuste. Além disso, foi regulamentada a Lei do Piso Nacional, que estabelece que um terço da carga horária seja destinado ao planejamento das aulas. Essas propostas foram votadas na Assembleia Legislativa. A categoria permanece alerta, em estado de greve, aguardando a sanção do governador.

Mas a maior conquista, sem dúvida, foi o fato da categoria resgatar sua dignidade. A dignidade daqueles que não abaixam a cabeça e vão à luta.
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