Brasilia DF 13 08 2019-Foto:Isaac Amorim/MJSP
Redação

Frente estratégica com a burguesia para 2022 não!

Editorial do Opinião Socialista nº 578

O governo reacionário e ultraliberal de Bolsonaro precisa e pode ser derrotado. Nesse sentido, toda a unidade de ação e frentes únicas para lutar contra esse governo e seu projeto, bem como em defesa das liberdades democráticas, são uma necessidade e um dever.

Assim, inclusive depois do desmonte da greve geral e da traição na luta da Previdência, está se abrindo um novo momento e uma nova possibilidade de enfrentar o projeto de entrega e semiescravidão de Bolsonaro-Mourão-Guedes e o próprio governo, que não pode ser desperdiçada. Esse governo, em meio a crises e contradições crescentes, vem para a ofensiva com privatizações, retirada de direitos e reforma administrativa.

É necessário e possível unir batalhões pesados da classe trabalhadora, como petroleiros, trabalhadores dos Correios e das universidades, aglutinar parte de metalúrgicos em campanhas salariais, além de unir indígenas, quilombolas e outros setores. Uma greve unificada e ações de rua podem botar esse governo nas cordas e impedir a privatização da Petrobras e dos Correios e salvar as universidades.

Não é possível que mais uma oportunidade e necessidade de luta fique pelo caminho, por falta de empenho e por negociações mesquinhas das direções que não sabemos nem de que tipo são. Essa unidade – necessária e para ontem – é obscurecida, deixada para lá em função de alianças eleitorais e frentes espúrias que visam as eleições.

Unidade para lutar contra Bolsonaro já!
Unidade para lutar é uma coisa. Frentes amplas eleitorais para, de fato, impedir as lutas, manter a exploração e as mazelas do capitalismo, é outra coisa. Da mesma maneira, defesa das liberdades democráticas é uma coisa, defesa da democracia burguesa e do Estado (capitalista) de direito é outra coisa.

Há uma estratégia comum que une PT, PDT, PCdoB, PSB e a direção do PSOL: a formação de uma frente ampla eleitoral, um campo burguês de colaboração de classes o mais amplo possível em torno de um programa democrático burguês, capitalista, com alguma preocupação com crescimento econômico além do puro ajuste fiscal de Paulo Guedes, para disputar como oposição contra o campo burguês de Bolsonaro e seus ex-aliados.

Há uma diferença tática entre eles sobre quem deve encabeçar tal frente. O PT quer a cabeça e a hegemonia da frente. O PSOL concorda com o PT. O PCdoB e o PDT, por sua vez, não querem que a cabeça da frente seja do PT. Ambos setores se enquadram numa “esquerda da ordem”. Propõem-se a repetir um governo burguês de conciliação de classes (como foram os governos do PT) para governar o capitalismo semicolonizado brasileiro. Em diferentes graus, preconizam uma política inteiramente capitalista, na qual também sobra para a classe trabalhadora pagar o preço da crise, porém de modo mais negociado.

Toda a narrativa do PT sobre a história recente do país, que tem como centro um suposto golpe, em que Temer (o vice do governo do PT, é bom lembrar!) se tornou presidente depois de um processo de impeachment (ancorado na altíssima impopularidade de Dilma Rousseff por motivo de estelionato eleitoral, é bom lembrar também!) é uma mistificação, para vender a defesa da volta a um passado supostamente exemplar. A narrativa do PT é uma simplificação que exclui o próprio PT de qualquer responsabilidade e participação no processo de crise, decadência e submissão ao imperialismo e na recolonização do país.

O PT, com essa história de golpe (impeachment é um instrumento da Constituição de 1988), quer ocultar o seu papel na desconstrução da consciência de classe, na aprovação de leis repressivas contra o movimento, no aprofundamento do modelo de encarceramento em massa de pobres e negros, na manutenção do apartheid existente no país (o verdadeiro estado de exceção existe nas periferias das grandes cidades) e da sua grande parcela de responsabilidade na ascensão de um governo como o de Bolsonaro. Um governo, que se tivesse correlação de forças para tal, mudaria de forma qualitativa o regime político, acabando com qualquer liberdade democrática.

A democracia burguesa e o regime da chamada “Nova República” estão em frangalhos porque não dão conta das contradições e da crise do sistema nem do próprio apodrecimento das instituições do Estado. Os elementos de estreitamento da já limitada democracia dos ricos, que só aumentaram durante todos os distintos governos da Nova República, têm cada dia mais elementos autoritários, antidemocráticos, repressivos e corruptos. É expressão da decadência do país e do próprio Estado.

As sucessivas reformas na Constituição retiraram direitos da classe trabalhadora, diminuíram a já pequena soberania do país, instituíram um processo ao qual chegamos a denominar de “democracia colonial”. Bolsonaro é ao mesmo tempo expressão e agente da barbárie, desse processo de decadência, apodrecimento e crise do sistema, do Estado e do regime político.

Temos um governo que quer fazer um revisionismo histórico, normalizar o que foi a ditadura e tenta fazer retroceder liberdades e direitos democráticos e civis.

Frente a esse governo, a política do PT, do PCdoB, do PDT é deixar sangrar para que o pessoal “dê valor ao PT”, nas palavras de Lula. O PT quer duas coisas: a) que Bolsonaro faça o trabalho sujo das reformas da Previdência, trabalhista, da privatização de parcela expressiva da Petrobras e de outras estatais; b) disputar as eleições com Bolsonaro daqui a três anos para voltar a governar o capitalismo brasileiro. A Frente do PCdoB e de Ciro Gomes quer a mesma coisa: apoia a entrega da Base de Alcântara, negocia e deixa fazer a reforma da Previdência e deixa retirar direitos, depois fazem uma frente incorporando burgueses e trabalhadores para gerir o capitalismo, associados a multinacionais, ruralistas, banqueiros etc.

Falam das “Diretas”, mas as diretas foram uma frente de mobilização unitária, de unidade de ação para mobilizar, não uma frente eleitoral. Precisamos de unidade de ação e de frente única para alavancar uma mobilização unificada para derrotar nas ruas Bolsonaro-Mourão-Guedes e seu projeto e construir um projeto alternativo, socialista, dos trabalhadores para o país.

O projeto do PT, do PCdoB e do PDT, além de estrategicamente não resolver nenhum dos problemas mínimos que afligem a classe trabalhadora e o povo pobre do nosso país, paralisa e tira o potencial das lutas, flertando perigosamente com o mesmo caminho que permitiu a eleição de Bolsonaro.