Vítimas do coronavírus na cidade de Bergamo, na Itália
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 586

O mundo já está mergulhado numa crise em que ainda não se vislumbram todas as consequências. Basta dizer que, conforme o articulista do New York Times, Martin Wolf, num extremo a pandemia do coronavírus pode produzir até 60 milhões de mortos, número semelhante ao da 2ª Guerra Mundial. A esta devastação sanitária, se soma uma crise econômica e social sem precedentes.

A pandemia foi prevista pelos cientistas faz tempo. Mas ela nem foi evitada e nem os governos se prepararam para enfrentá-la. Por que? Porque o sistema capitalista é absolutamente obsoleto e destrutivo. Um sistema voltado para acumular capital e gerar lucros crescentes para um número cada vez menor de bilionários, devastando de maneira irracional o meio ambiente, fazendo de milhões de seres humanos coisas descartáveis, produzindo legiões de miseráveis. Cada dia mais a irracionalidade desse sistema lança a humanidade em crises tremendas, cenários de barbárie e espetáculos de horrores cada vez piores. Perante a crise, demoram a responder, só respondem quando os lucros estão ameaçados e respondem de maneira insuficiente. Vide a Itália, em que a classe operária está sendo obrigada a trabalhar na indústria metalúrgica e outras, e por isso corretamente está se levantando em greves exigindo quarentena social e gritando: “Não somos bucha de canhão”.

No Brasil se avizinha uma catástrofe de enormes proporções: sanitária, econômica e social. A expansão geométrica da contaminação pelo coronavírus já está em curso em diversos estados. Os números são subestimados, pois não há testes em massa sendo feitos. Basta dizer que a primeira vítima fatal da doença não tinha sido diagnosticada.

Aqui, a atitude do governo Bolsonaro e Mourão é de defesa da barbárie. Depois de dizer que a pandemia era uma fantasia e que “outras gripes matam mais do que essa”, de podendo estar infectado e devendo estar em quarentena promove e participa de ato em defesa de ditadura; diz que vai fazer festinha de aniversário no Planalto. Percebendo ter sua popularidade despencando ainda tentou disfarçar, mas a máscara caiu. A política de Bolsonaro e Paulo Guedes é não fazer nada, ou quase nada. Deixar todo mundo se infectar e quem morrer, morreu. Ele aproveita para diminuir salário e direitos e facilitar demissões.

O Fora Bolsonaro-Mourão cresce. Os panelaços não vão parar

Mas é forçoso dizer que os que tentam apresentar um capitalismo com “rosto humano ou mais humano”, como os governadores, Rodrigo Maia (DEM-RJ) etc., apresentam propostas cosméticas, totalmente insuficientes e não deixam, como o governador Dória, de promover demissões e desemprego num momento como esse. Projeções, como a da FGV, por exemplo, falam da possibilidade de crescimento negativo de 4%. A imprensa e o Congresso Nacional tentam defender um clima de “unidade nacional” contra a epidemia (do qual a esquerda parlamentar como o PT, PCdoB e PSOL participam), quando a inoperância impera.

A cada dia que passa, a vida de milhões de pessoas está ameaçada pelo vírus, pelo desemprego e a falta de renda. É preciso tomar medidas de emergência contundentes: parar o país já para derrubar o contágio, garantir emprego e renda para todos. E não ficar elogiando o ministro inoperante da Saúde, que teve a coragem de chamar Bolsonaro de grande timoneiro. Só se for timoneiro do Titanic.

A classe trabalhadora com e sem carteira assinada, a juventude, os profissionais da saúde, os pequenos empresários precisam ir à luta exigindo medidas de emergência já, dos governos e dos grandes empresários. Essa luta já começou: os operários da Cherry em Jacareí (SP) impediram as demissões, os da GM acabam de arrancar licença remunerada, os trabalhadores do telemarketing estão se mobilizando em todo país.

Devemos parar o Brasil para derrubar o vírus, vamos parar tudo (greve geral) e fazer panelaços, buzinaços e formas de mobilização que evitem contágio, exigindo: quarentena social geral, verbas para saúde e pesquisa, distribuição em massa de materiais básicos de proteção à população; estabilidade no emprego e garantia de renda de verdade (e não esse insulto de R$ 200,00) aos trabalhadores sem carteira e desempregados.  E fora Bolsonaro e Mourão, e seu projeto de ditadura e semi-escravidão!

É hora de unidade para lutar por medidas de emergência contra Bolsonaro, mas também contra a inoperância de governadores e do Congresso Nacional. Chamamos o PT, PSOL, PCdoB, as centrais sindicais e todos os movimentos a assumirem essas reivindicações básicas e lutarmos para conquistá-las. É a vida da maioria que está em jogo.

E nessa luta é preciso levantar “Fora Bolsonaro e Mourão”, sim! Sem isso, dificilmente a outra luta pode ser levada até o final. Não podemos esperar apenas por 2022 para tirar um governo que deixa a classe morrer e que, por isso mesmo, já tem contra si a maioria.

Mas se devemos fazer um chamado e toda a unidade para lutar, é preciso dizer em alto e bom som, que precisamos construir uma organização revolucionária, e que a classe trabalhadora precisa avançar na sua auto-organização para fazermos uma revolução socialista. Não podemos continuar à mercê destes governos e desse sistema de 1% de bilionários, que vive da nossa exploração e destruição.

Por isso, nem os projetos de Rodrigo Maia e do centrão combatem à altura essa pandemia, e nem os projetos do PT, PCdoB e mesmo PSOL, que defendem frente ampla eleitoral, de colaboração com grandes empresários e partidos burgueses, em defesa de um capitalismo supostamente melhorzinho, com “rosto humano”, garantem um horizonte de vida digna para a maioria. Porque esse projeto de reformas nesse sistema nós já tivemos com os 13 anos de PT no poder, e não só terminou em Bolsonaro, como não foi capaz sequer de garantir saneamento básico para todos. É uma vergonha, que um país com a riqueza que o nosso tem, cerca de 50% das moradias não tenham saneamento. E, perante uma catástrofe como esta, tenhamos um contingente enorme vulnerável e em uma situação de risco tal, que pode beirar o genocídio.

Precisamos de um país e um mundo socialista, de uma saída revolucionária. Um governo socialista dos trabalhadores, que governe com conselhos populares. Para conseguir isso, precisamos construir um partido revolucionário. Nisto estamos empenhados e convidamos você a vir nos ajudar nessa tarefa estratégica.