Buscas em Brumadinho (MG). Foto Romerito Pontes
Redação

Leia o editorial do Opinião Socialista nº 566

O ano começou sob luto, tristeza e indignação. Impossível não chorar e se comover com Brumadinho. Mas impossível também não se indignar com a Vale e com todos os responsáveis por esse crime.

Enquanto ainda choramos Brumadinho, dez meninos morrem queimados no alojamento da escola de futebol do Flamengo, onde crianças dormem em contêineres, num lugar que estaria liberado quando muito para ser estacionamento. É triste e revoltante!

Outras sete pessoas morreram no Rio, onde os governantes não servem para proteger o povo nem das chuvas. E 15 jovens foram abatidos de uma só vez pela polícia. As mães choram e denunciam a chacina.

Em São Paulo, no final do ano, caiu um viaduto. Relatório publicado pelo jornal Folha de S. Paulo diz haver seis pontes e viadutos com risco de colapso iminente e outros sete com dano estrutural. Por alguns deles, passam mais de dez mil carros por dia.

Como é que um país que é a oitava economia do mundo vem abaixo assim?

Longa decadência: o PT também é responsável
O Brasil vive um processo de profunda decadência. Está subordinado aos países ricos como fornecedor de produtos primários na divisão mundial do trabalho imperialista. Vem sofrendo importante desindustrialização, desnacionalização de empresas e atraso tecnológico. A classe dominante brasileira – 130 famílias bilionárias – aceita entregar o Brasil e ser sócia-menor da pilhagem e da superexploração dos trabalhadores.

O PT ficou 14 anos no governo num momento de crescimento econômico. Aprofundou essa decadência, apesar de maquiar a realidade com pequenas concessões. Bastou a crise chegar para a maquiagem cair e deixar a vista o grau de decadência, exploração e pilhagem do país.

Paulo Guedes vai arruinar de vez
O projeto de Bolsonaro e Paulo Guedes é entregar o país de vez. Vai ser o lucro acima de tudo e os banqueiros acima de todos. A reforma da Previdência evidencia isso. Um roubo das aposentadorias para remunerar banqueiros. A dívida pública consumiu, no ano passado, R$ 2,9 bilhões do Orçamento por dia. O governo paga os maiores juros do mundo. Em 2018, só os juros e amortizações da dívida consumiram 40,66% do Orçamento, mais de R$ 1 trilhão.

Ainda arrumaram um jeito para dar mais dinheiro aos bancos, remunerando a sobra de caixa. A Auditoria Cidadã da Dívida, mostra que essa sobra é de R$ 1,2 trilhão ou 20% do PIB. Em vez de emprestarem dinheiro a juros baixos, os banqueiros deixam essa grana em caixa, e o governo se oferece a remunerar esse dinheiro em troca de nada, basta que depositem no Banco Central. Nessa brincadeirinha, foram pagos R$ 449 bilhões de juros entre 2014 e 2017. Essa grana não gera um emprego, não produz um prego, só engorda bolso de banqueiro.

Esses R$ 449 bilhões são mais do que o valor de mercado da Petrobras, da Caixa, do Banco do Brasil, da Eletrobras, da BR Distribuidora e do BB Seguridade juntos! Se Paulo Guedes vendesse todas essas estatais, arrecadaria R$ 437 bilhões.

Outro roubo são as liberações de impostos e subsídios para grandes empresas. Segundo o Ministério da Fazenda, entre 2010 e 2019, elas somarão mais de R$ 4 trilhões, 80% do total da dívida do governo.

Guedes acha que isso é pouco. Ele quer arrebentar as aposentadorias, entregar estatais e aprofundar a reforma trabalhista. Se esse projeto não for derrotado, vai significar alto desemprego, salários de miséria, mais precarização do trabalho, fim de todos direitos da CLT, roubo da Previdência pública e rebaixamento das aposentadorias, além de desmantelamento maior da educação e da saúde e privatizações generalizadas.

Unidade para lutar, não para conciliar
Só a luta unificada da classe trabalhadora pode impedir os ataques, a começar pela reforma da Previdência.

É necessário construir uma greve geral. Os sindicatos e os movimentos sociais e partidos que se dizem de oposição (como PT, PSOL, PCdoB) precisam somar-se à luta. Não pode ser que se proponham a negociar direitos, uma proposta menos pior como disse o PT ou como está fazendo o PDT de Ciro Gomes.

É hora de explicar e fazer assembleias na base. Unir sindicatos, movimentos e centrais nos municípios, fazer comitês nos bairros e no campo e exigir das cúpulas sindicais que construam a luta unificada, denunciando quem trair a luta para negociar direitos.

Os ricos é que devem pagar pela crise. Devemos discutir e construir um projeto que resolva nossos problemas: acabe com o desemprego, garanta salários dignos, moradia, educação e saúde públicas. Terra, direitos para mulheres, indígenas, negros e LGBTs. Futuro para a juventude e soberania do país.

É preciso suspender o pagamento da dívida aos banqueiros; acabar com as desonerações fiscais às grandes empresas e bancos; cobrar impostos dos ricos; proibir a remessa de lucros para o exterior; reestatizar a estatais privatizadas, como a Vale, sem pagar um tostão de indenização, e colocá-las sob controle dos trabalhadores e das comunidades.

Podemos conquistar esse plano com uma rebelião social dos de baixo e um governo socialista dos trabalhadores, apoiado em conselhos populares.