Protesto contra ataques do governo Bolsonaro no dia 5 de dezembro em SP. Foto Romerito Pontes
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 583

Um ano de governo Bolsonaro-Mourão-Guedes, e seu projeto de ditadura e semiescravidão mostra duas coisas. Uma, que é preciso derrotar esse governo e seu projeto já. Outra, que é preciso um projeto dos trabalhadores para o país, que faça os ricos pagarem o preço da crise. Esse projeto só pode ser socialista e não mera redução de danos do ajuste capitalista como tem defendido e aplicado a esquerda eleitoral e reformista aqui e no mundo.

Terminamos 2019 com o aprofundamento da crise econômica do capitalismo, aberta em 2008. Cresce a desigualdade. Um punhado de transnacionais e banqueiros, com sede nos países ricos, domina o mundo e recoloniza os países mais pobres, tendo os capitalistas desses países como sócios-menores.

O processo de recolonização dos países latino-americanos não começou hoje. No Chile, sob uma ditadura, esse foi mais fundo, mas também foi aplicado em grande parte dos demais países nos últimos 30 anos.

Se de 2002 até 2011, no Brasil, esse processo de decadência pôde ser mascarado por um ciclo de crescimento, permitindo pequenas concessões aos mais pobres, em 2012 sentimos os primeiros sintomas mais fortes da crise, que foram pano de fundo para junho de 2013.

O governo Dilma (PT), eleito em 2014 prometendo não mexer em direitos “nem que a vaca tussa”, praticou estelionato eleitoral atacando os direitos dos trabalhadores. Temer assumiu e emplacou uma reforma trabalhista. Bolsonaro subiu para aplicar um projeto como o do Chile: uma guerra social contra os trabalhadores e o povo.

O autoritarismo acompanha esses projetos econômicos. Bolsonaro defende uma ditadura. Já o chamado centro (Rodrigo Maia, Doria, Huck etc.) não defende a ditadura, mas defende o projeto econômico de Guedes e Bolsonaro. Por isso, defendem o aumento do autoritarismo e da repressão, a criminalização dos lutadores, o endurecimento de leis que têm levado ao encarceramento em massa e ao genocídio da juventude pobre e negra da periferia. O “pacote anticrime” aprovado com a participação do PSOL, do PT e do PCdoB mostra isso.

O Chile pode ser aqui
Chegamos ao final de 2019 com insurreições e revoluções em vários países, em especial na América Latina. É a reação da classe trabalhadora, da juventude, do povo pobre e dos setores oprimidos aos projetos e governos capitalistas. Isso mostra que a classe trabalhadora não está derrotada.

No Brasil, chegamos ao fim do ano com a vida muito pior. Depois da reforma da Previdência, as MPs de Bolsonaro e Guedes tentam acabar com todos os direitos. A educação pública, a cultura e a ciência estão sendo destruídas. No meio ambiente, só tragédias: Brumadinho, fogo na Amazônia e no Cerrado, óleo nas praias e em santuários ecológicos. Até a carne sumiu da mesa dos brasileiros.

Não é à toa que Bolsonaro termina o ano como o presidente pior avaliado da história depois de um ano de governo. A guerra social, a exploração, a rapina, a destruição de serviços públicos e a violência exigida pelos capitalistas tende (não quer dizer que vá) a levar a um Chile aqui.

O PT tenta mostrar ao tal centro e à maioria dos capitalistas que ele pode governar de acordo com os interesses deles de novo, assegurando mais paz social do que Bolsonaro, evitando um “Chile”. Afinal, os governos do PT foram capitalistas e de centro. O projeto do PT é administrar o capitalismo com redução de danos.

A cúpula das centrais e dos partidos de conciliação de classes como o PT, mesmo o PSOL, preparam-se para as eleições e para governar o capitalismo. No governo, não mudam nada de substancial.

Os ativistas e as organizações dos trabalhadores devem preparar-se para a possibilidade de um Chile no Brasil. Aliás, os marxistas, antes do stalinismo e da social-democracia atual, preparavam-se para isso, para a revolução.

Na verdade, Lula e o PT também têm medo do Chile
O desafio para 2020 é organizar e unificar a luta dos trabalhadores e do povo para derrotar o governo e seu projeto já. Para isso, toda unidade para lutar é fundamental.

Porém é preciso, sobretudo, construir um projeto socialista dos trabalhadores: em defesa do emprego, dos direitos, do salário da educação e da saúde públicas, do meio ambiente, da soberania nacional e contra a violência aos pobres, negros, indígenas, mulheres e LGBTs. É preciso suspender o pagamento da falsa dívida pública aos banqueiros, acabar com as isenções fiscais para grandes empresários, revogar as reformas trabalhista e previdenciária, parar as privatizações e garantir gasolina, gás e alimento barato. Precisamos construir uma organização revolucionária que lute por um governo socialista dos trabalhadores, no qual os de baixo governem em conselhos populares.

O PT, o PCdoB e o PSOL têm defendido uma frente ampla eleitoral contra Bolsonaro, que incluiria partidos e setores da burguesia. Uma coisa é fazer toda unidade na luta para derrotar Bolsonaro, outra é a defesa de um projeto para o Brasil. Um programa de mera redução de danos é o caminho para a derrota e a desmoralização da classe trabalhadora.

Tal frente, na verdade, é uma frente com a burguesia contra a mobilização dos trabalhadores e pela sustentação desse governo por mais três anos. Esse tipo de aliança é sempre uma aliança contra a classe trabalhadora e contra a possibilidade da revolução e do socialismo.