Dilma completou cem dias de governo. Os trabalhadores deveriam observar este início para descobrir o que esperar dela. Afinal, a petista está sendo apoiada no início de mandato mais do que qualquer outro presidente na história, com 47% de avaliação de seu governo como boa e ótima. Mais do que Lula no início do primeiro e do segundo mandato. Muito mais do que FHC.

Os trabalhadores pensam que governam através de Dilma. Que é um governo “seu”, como achavam que era o de Lula. Esse foi um engano que se manteve durante os oito anos de mandato de seu antecessor. O longo período de crescimento econômico (e a saída rápida da crise no final de 2008 – início de 2009) foi a base material desse erro. A figura de Lula, com o apoio de CUT, PT e MST, completa a explicação para essa falsa consciência.

E agora Dilma dá continuidade, com algumas características particulares. Como não é figura construída no movimento de massas, é mais discreta, sem a onipresença de mídia e as frases de efeito de Lula. E…aponta para um governo ainda mais à direita.

Dilma fez o maior corte de orçamento da história: R$ 50 bilhões. Os efeitos já são percebidos nos gastos sociais como saúde e educação, além da redução no programa Minha Casa, Minha Vida. O reajuste do salário mínimo foi menor que o aumento da inflação pela primeira vez nos governos do PT. Já existem sinais de reformas mais duras que as feitas nos governos de FHC e Lula, como a trabalhista, anunciada como proposta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Agora Dilma está se enfrentando com outro teste: as greves, em particular do funcionalismo público federal e da construção civil. O funcionalismo está se chocando com a decisão do governo de impor um congelamento salarial à categoria.

Na construção civil, houve greves e levantes em obras do PAC, como em Jirau. Na cabeça desses trabalhadores, os patrões são uma coisa e Dilma é outra. Não é assim. Como são obras financiadas pelo governo, a presidente poderia determinar as condições de trabalho e salário. Não faz isso porque defende os lucros das empreiteiras.

Quando explodiram as greves, o governo convocou uma comissão com as centrais sindicais. CUT, Força Sindical e outras pelegas participam com a mesma postura pró-patronal e de apoio ao governo.

A CSP-Conlutas participou para defender os interesses dos trabalhadores, apresentando exigências ao governo e às empreiteiras, como a efetivação de todos (contra a terceirização) e a proibição das demissões, além de reajustes salariais e melhoria das condições de trabalho.

O anúncio de demissões no Jirau mostra que o governo está novamente ao lado dos patrões. A CSP-Conlutas já denunciou essas demissões, ao contrário da CUT e da Força, que mais uma vez mostram seu caráter pelego.

Agora, os operários da construção civil de Fortaleza, dirigidos pela CSP-Conlutas, estão em greve. Vão tirar suas conclusões sobre os patrões e também sobre o governo Dilma.

Os trabalhadores, em greve ou não, devem aprender com essas primeiras experiências com Dilma. Ao contrário do que pensa a maioria, é um governo burguês, que apoia as grandes empresas e usa seu prestígio com os trabalhadores para travar as lutas. Por isso, é necessário exigir de Dilma que evite qualquer demissão nas obras do PAC e garanta os reajustes do funcionalismo, deixando de pagar a dívida pública.