(Brasília - DF, 05/11/2019) Entrega do Pacto Federativo.rFotos: Marcos Corrêa/PR
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 581

O pacote econômico anunciado pelo governo esta semana no Congresso Nacional trará consequências profundas para o país e para as condições de vida da classe trabalhadora. Aprofunda a entrega do país às multinacionais e as privatizações; diminui ainda mais o investimento na saúde e na educação e outras políticas públicas para dar mais dinheiro público para os bancos; ataca direitos dos servidores públicos. A justificativa é a mesma mentira que contaram para aprovar as reformas trabalhista e da Previdência: gerar emprego. Não houve geração de emprego, o que houve foi aumento do lucro dos bancos e dos grandes empresários. Agora vai ser igual.

Por este ângulo, entende-se melhor por que o deputado Eduardo Bolsonaro, frente ao levante do povo chileno, ameaçou nosso país com um AI-5, ou seja, a volta do período mais duro da repressão da ditadura militar, caso houver rebelião aqui também. O clã Bolsonaro sabe muito bem que, com medidas econômicas como essas, estão colocando mais pressão numa caldeira que, sim, vai explodir. Vai piorar ainda mais as condições de vida da população – processo que já vem de antes, dos governos do PSDB, do MDB e do PT. Vai aumentar ainda mais a injustiça e a desigualdade e levar a ampla maioria da população a uma situação insuportável.

Uma reportagem publicada no jornal El País, a partir dos dados da Pnad Contínua (IBGE, 2018), mostra que mais de 100 milhões de brasileiros (metade da população), vive com menos de meio salário mínimo por mês; os 10 milhões mais pobres vivem com R$ 51 por mês; e 41% dos trabalhadores estão na informalidade! Isso sem falar no caos que é a saúde e a educação públicas, para ficar apenas nesses exemplos.

Na outra ponta, os banqueiros ficam com mais de 40% do orçamento (mais de R$ 1 trilhão por ano!), e o grande empresariado fica cada vez mais rico com políticas como essas do pacote que acaba de ser anunciado. É apenas uma questão de tempo para tudo isso explodir.

Por isso, os Bolsonaro não perdem uma oportunidade de agitar a defesa da ditadura e atacar as liberdades democráticas. Essa corja sabe muito bem que vai haver resistência, que só farão tudo que querem pela força. Não deveria espantar, então, as notícias das relações promíscuas do clã Bolsonaro com milicianos acusados de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes.

Foto Elineudo Meira

Vamos ver aonde vai dar isso, porque já teve desmentido e o desmentido do desmentido. Não é de hoje essa relações de Bolsonaro com as milícias do Rio. Lembram do Queiroz? Para essa gente, a violência é o modo natural de atuação.

Por isso é tão importante lutar com todas as nossas forças contra qualquer ameaça às liberdades democráticas. Significa defender nosso direito de organização, de lutar por melhores condições de vida, defender o nosso direito de manifestação e de expressão. Devemos repudiar as ameaças às liberdades democráticas, venham de onde vierem. Devemos exigir uma investigação profunda sobre as relações do presidente da República e de seus filhos com os assassinos de Marielle e Anderson. Para essa luta, devemos buscar a mais ampla unidade de ação com todos e todas que defendam essas bandeiras.

No entanto, nossa luta não para aí. Enquanto Bolsonaro continuar governando, vai atacar os direitos da classe trabalhadora e degradar ainda mais suas condições de vida, disseminando ódio e preconceito, destruindo o país. Os banqueiros, os grandes empresários e o imperialismo (Trump) são beneficiados por medidas como as deste pacote que o governo acaba de anunciar, por isso o apoiam. A grande imprensa e o Congresso Nacional também, pois representam os interesses dos grandes empresários. Inclusive partidos da oposição. Basta ver o apoio que governadores do PT, do PCdoB, do PDT e do PSB deram à reforma da Previdência. Esses partidos não pensam em outra coisa a não ser nas eleições do ano que vem e de 2022.

Se unirmos nossa classe e formos à luta, temos força para derrotá-los. Está aí o exemplo do Chile. Precisamos colocar em marcha nossa própria rebelião para pôr abaixo tudo que está aí. Precisamos nos organizar para que a classe operária, os trabalhadores e o povo pobre assumam direto o governo do país, com suas próprias organizações e conselhos populares. Precisamos transformar essa revolta que cresce dentro do nosso peito numa revolução socialista que liberte nosso povo da exploração, da opressão, da humilhação e da violência que vivemos no capitalismo.

Com essa perspectiva para nossa caminhada, precisamos dar um primeiro passo – é preciso derrotar o governo Bolsonaro-Mourão já! Precisamos levar essa discussão para dentro das fábricas, para nossas comunidades, para as escolas e tratar de unir e colocar em luta nossa classe em torno dessa tarefa. Que é para agora, não para 2022.