Publicamos, abaixo, a apresentação do livroO livro de Leon Trotsky que a Editora Sundermann nos presenteia, em uma nova tradução, no nonagésimo aniversário da revolução de Outubro, permanece um dos melhores livros sobre a história da Revolução Russa. Nas suas páginas, os leitores encontrarão uma narrativa envolvente sobre a seqüência dos acontecimentos imponentes que levaram ao triunfo da primeira revolução socialista vitoriosa do século 20. Porque, em primeiro lugar, a Revolução de Outubro demonstrou que, aquilo que tinha sido, até então, somente uma possibilidade na teoria marxista, uma aposta para a esquerda revolucionária que se reorganizava depois da ruptura com a II Internacional, ou um projeto no programa bolchevique, era possível.

Trotsky escreve sobre a revolução da sua vida unindo a serenidade do historiador que deve esclarecer o que aconteceu, com a lucidez do teórico que precisa explicar porque aconteceu, sem camuflar o compromisso do militante que esteve na primeira linha de acontecimentos que mudaram os destinos do século 20. Das linhas desta obra imperdível, surge a conclusão de que a Revolução Russa não foi prematura, mas atrasada. As sociedades não se transformam na medida em que a mudança é necessária. As mudanças em condições políticas reacionárias, como eram as da Rússia sob o tzar depois da derrota da revolução de 1905, por mais necessárias que sejam, parecem por anos e anos como impossíveis. Surgem como extravagâncias de visionários. Toda ordem político-social se apoiou, portanto, no extremo conservadorismo das sociedades humanas. Os tempos da política estão sempre atrasados em relação aos tempos da História. Um atraso maior ou menor separa o momento em que o agravamento da crise histórica se manifesta, do momento em que as forças sociais em luta estão dispostas a medir forças, e chega a hora da revolução.

A arquitetura das instituições perde então a sua aura de legitimidade e tudo o que parecia impossível, passa a ser inadiável. Nas linhas deste livro o leitor desvendará como, ao mesmo tempo em que se derrubava a monarquia e se proclamava a República, surgiram os sovietes de operários, soldados e camponeses; descobrirá os interesses que impediram que os vários governos provisórios entre fevereiro e outubro, de Lvov aos vários gabinetes formados por Kerensky, foram incapazes de garantir a paz; acompanhará a transformação dos bolcheviques – o mais extraordinário partido revolucionário do século 20 – de força minoritária em um instrumento de luta capaz de interpretar e organizar a vontade de milhões; e compreenderá porque a estabilização de um regime democrático-liberal, depois da queda do tsar, não poderia ser a estratégia da burguesia russa, e como a alternativa nas ruas de Petrogrado e Moscou foi entre o que seria uma ditadura fascista liderada pelo general Kornilov – que teria sido uma terrível antecipação do que Hitler impôs à Alemanha em 1933 – ou a ditadura revolucionária liderada por Lenin.

Mas, sobretudo, o leitor poderá conferir nestas páginas porque a Revolução de Outubro alimentou a esperança política mais grandiosa do século passado: o projeto da revolução mundial ao serviço do igualitarismo social e da liberdade humana.