Economia brasileira diminuiu 3,6%. A crise não vai passar logo, como argumentam os empresários para rebaixar saláriosFinalmente, a crise econômica, já observada e sentida por grande parte dos trabalhadores, foi parar no papel. O resultado do PIB de 2008, o conjunto dos valores de bens e serviços produzidos pelo país, foi divulgado no dia 10 de março pelo IBGE e revela algo que já havia ficado óbvio: o país está entrando em uma profunda recessão, bem pior do que governo e analistas faziam crer.

O dado que mais causou espanto foi a drástica queda do PIB no quarto trimestre do ano. Entre outubro e dezembro, o conjunto da economia do país diminuiu 3,6%. Foi a pior queda já registrada pelo IBGE e que coloca o país entre aqueles que mais sentiram, de forma tão rápida e intensa, os efeitos da crise.

Levantamento da Folha de S. Paulo revela que apenas cinco países contaram com quedas tão bruscas: Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Indonésia e Estônia. Foi o pior resultado entre os emergentes do chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Tal cálculo, ainda que seja relativizado pelo fato de haver diferenças entre os cálculos do PIB desses países, indica a fragilidade do país e a gravidade da crise.

Mais do que o tamanho da queda, causou perplexidade a brutal inversão que ocorreu com a economia a partir de setembro. Caso não houvesse a crise, a economia do país cresceria 7% no ano. Acabou fechando em 5,1%, apenas 0,6% a menos que o ano anterior. Já a taxa de crescimento anualizada do quarto trimestre foi de -13,6%, ou seja, caso a crise tivesse chegado em janeiro, a economia teria despencado a um nível que colocaria o país numa depressão.

Perspectiva sombria
O conjunto dos dados divulgados pelo IBGE conformam uma receita perfeita de recessão. Queda da produção industrial de 7,4%, queda no consumo das famílias em 2% e diminuição da chamada formação bruta de capital fixo, em nada menos que 9,8%. Nos meses anteriores, ela crescia a 8,4%. Isso significa uma profunda queda nos investimentos em máquinas, equipamentos e na construção civil.

Tal tendência se reflete no uso das máquinas e equipamentos. Em janeiro de 2009, o uso da capacidade instalada ficou em 78,4%, enquanto que no mesmo mês de 2008, era de 83,3%. A redução do nível de produção já havia sido constatada há algum tempo e indica a gravidade da crise na atual situação. O dado relativo ao investimento, porém, mostra que não só a crise é grave como a perspectiva é de que ela será longa. Por isso, os empresários e investidores preferem fazer reservas de valor a investir, diante de tal cenário, e ter o risco de perder dinheiro.

Recessão
O resultado do PIB no último período de 2008 e no início de 2009 reafirmam a possibilidade de o Brasil não crescer ou até alcançar índices abaixo de zero este ano. A marolinha de Lula se revelou um verdadeiro tsunami, pondo à mostra uma economia frágil e completamente dependente.

Cai também o argumento do governo e grande parte do empresariado, que defenderam flexibilização de direitos e redução salarial nos últimos meses sob a justificativa de que “a crise era passageira”. Eram acompanhados nesse discurso por centrais sindicais como a CUT e Força Sindical. Pois bem, agora sabe-se que a crise é profunda e que não é passageira. Abrir mão de salário e direitos agora significa abrir mão de salário e direito por um bom tempo ou, mais provável ainda, abrir mão do próprio emprego.

Os dados divulgados pelo IBGE vão servir para empresários aumentarem ainda mais a pressão sobre os trabalhadores. A recessão, por outro lado, reafirma a necessidade de uma grande campanha contra as demissões e os ataques aos salários e direitos, com atos nacionais como o do dia 1º de Abril e a campanha pela reestatização da Embraer.