Cai o argumento do governo e dos empresários de que a crise vai passar logoO Brasil foi pego em cheio pela crise. Ao contrário da “marolinha” de Lula, o que se viu foi uma “tsunami” de férias coletivas e demissões em massa.
Foi preciso adequar o discurso à realidade. O governo, os empresários, a imprensa e as centrais sindicais, como CUT e Força Sindical, diziam que a tormenta passaria rapidamente e logo o país retomaria o crescimento.

Nas fábricas, os patrões utilizaram esse discurso para impor a suspensão dos contratos de trabalho e o rebaixamento dos salários e de direitos. Afinal de contas, seria um sacrifício apenas por alguns meses, até a crise passar. Um preço baixo para manter os empregos.

O país já está em recessão… e ela será longa
Na última semana, porém, esse argumento foi também desmascarado. E de forma brusca. O resultado da economia em 2008, divulgado pelo IBGE, revela o forte impacto da crise no país.

No quarto trimestre do ano, o PIB, a soma dos valores dos produtos e bens produzidos no período, caiu 3,6%. Caso a crise tivesse chegado no início do ano, a economia teria despencado 13,6%, o que colocaria o Brasil perto de uma depressão. E tudo indica que a queda avança neste primeiro trimestre de 2009, colocando o país oficialmente em recessão, o que é tecnicamente caracterizado quando o PIB cai por dois trimestres seguidos.

O desempenho da economia aponta uma severa e longa recessão, ao contrário da propaganda oficial. O agravamento da crise no mundo refletiu no Brasil de forma quase automática em 2008. De uma dinâmica de crescimento, a economia do país deu um violento cavalo de pau e despencou.

Crise na indústria
O resultado na indústria é um dos principais indicadores da economia. A produção industrial, que sustentou o crescimento nos últimos anos, caiu 7,4% nos três últimos meses de 2008. Os investimentos em máquinas e equipamentos na indústria e na construção civil sofreram queda de 9,8% em relação ao trimestre anterior. Se a redução da atividade industrial já havia sido constatada, a queda violenta dos investimentos indica que não será retomada em curto ou médio prazo.

A tendência se reflete no uso das máquinas. Enquanto em janeiro de 2008 o uso da capacidade instalada era de 83,3%, em janeiro deste ano caiu para 78,4%. Isso significa que boa parte da capacidade da indústria está ociosa. E máquina parada representa prejuízo, é um investimento que não está tendo retorno.

O diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) Carlos Pastoriza definiu a situação no setor de forma dramática. “Os números de janeiro são estarrecedores. O faturamento caiu 38% sobre dezembro, o maior recuo da história”, afirmou.

É um ciclo recessivo. Vendo um período de recessão, os empresários não investem e demitem. Preferem guardar dinheiro a investir novamente na produção. Em janeiro deste ano, o emprego na indústria sofreu queda histórica de 2,5% sobre janeiro de 2008.

Por enquanto, a crise se concentra no Sudeste, ainda que as outras regiões também a sintam, com força, dependendo do setor. Segundo a própria Fiesp, de outubro de 2008 a fevereiro deste ano mais de 236 mil trabalhadores da indústria em São Paulo foram demitidos. Quase 8% de todos os trabalhadores do setor no estado.
Recentemente, o governo tentou passar a ideia de que a indústria automobilística experimentava uma rápida recuperação, devido ao crescimento da produção entre dezembro e janeiro. Sob esse argumento, o pior já teria passado. O que o governo não afirmou, porém, é que em janeiro e fevereiro deste ano, com relação a 2008, a produção de automóveis caiu 24,1%.

O que esperar do futuro
O resultado do PIB revelado pelo IBGE foi um balde de realidade sobre os discursos fantasiosos de governo, mídia e empresários. As previsões para a economia em 2009 foram revisadas e fica cada vez mais absurda a previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de 4% de crescimento.

A maioria dos analistas prevê um ano de estagnação e já há os que falam abertamente em índices negativos. Analistas afirmaram à revista Exame que as projeções da instituição para 2009 no Brasil são de redução de 1,9% do PIB. O que coincide com a projeção do Banco Mundial para a economia mundial, de redução de 1% a 2%.
Longe de uma turbulência passageira ou uma correção de rota, trata-se de uma crise de superprodução do capitalismo, que provocará queima de capitais em todo o mundo.

Mentira da flexibilização
Percebe-se de forma cada vez mais clara que, ao contrário do discurso do governo e dos empresários, a crise será longa. O argumento da “crise passageira”, a fim de convencer os trabalhadores a aceitarem reduções de salários e direitos, mostrou-se mais uma grande mentira.

A recessão que ronda o Brasil reafirma a necessidade de impulsionar a luta contra as demissões e, ao mesmo tempo, recusar a flexibilização. Abrir mão de salário e direitos agora significa abrir mão de tudo isso por um bom tempo ou, o mais provável, abrir mão do próprio emprego.

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