O Ebola, doença causada por um vírus do mesmo nome, é conhecido desde o ano de 1976. Restrito até então apenas ao continente africano, sempre esteve presente em pequenos surtos, a maior parte em comunidades rurais isoladas no antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo) e no Sudão. Provavelmente por isso, e apesar de ser altamente contagiosa e letal, nunca houve interesse em pesquisas para prevenção ou tratamento da doença. Entretanto, desde o início de 2014 uma grande epidemia localizada na África ocidental, mais precisamente Guiné, Serra Leoa e Libéria, vêm assombrando o mundo. Até o momento foram 13.263 casos, com 4.959 mortes.

Diferentemente dos episódios anteriores, pela primeira vez na história o ebola atinge países não africanos, com casos na Espanha e nos Estados Unidos. É a partir daí, e do medo de uma possível pandemia, que os olhos do mundo todo se voltam para a África e para o ebola. É no mínimo suspeito, para uma doença com uma letalidade que pode chegar a 90%, de tão fácil contágio e conhecida há quase 40 anos, não haver até então pesquisas para uma vacina por exemplo. Assim, com o medo de o ebola avançar em países ricos, novos tratamentos surgem como mágica.

Não por acaso, Libéria, Guiné e Serra Leoa estão entre os últimos em relação ao índice de desenvolvimento humano (IDH), respectivamente nas 175ª, 179ª e 183ª colocações dentre 187 países analisados.

A presença dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), se por um lado mostrou-se determinante para uma melhor assistência aos doentes e para o controle da disseminação, por outro deixou clara a falência das políticas públicas de saúde nesses países. Após poucos meses de intervenções básicas de saúde realizadas pela organização MSF, houve uma diminuição de quase 50% na taxa de letalidade do vírus, confirmando a grave falta de estrutura de saúde nos locais afetados.

Além disso, a grande demora da Organização Mundial de Saúde na resposta a essa grave crise nos evidencia a falta de atenção que os países periféricos ao capital sofrem. Em um relatório interno, revelado pela agência de notícias Associated Press, é dito que a OMS “falhou ao não reconhecer a seriedade da situação, conforme o número de infectados crescia”. Essa falta de atenção se reflete em uma ausência de ajuda efetiva aos países acometidos pela atual epidemia. Devido à péssima situação econômica, tem ocorrido desabastecimento de alimentos – inclusive com relatos de pacientes que morreram de fome dentro de hospitais.

Enquanto o lucro de apenas alguns bancos brasileiros ultrapassa 10 bilhões de reais, a Organização das Nações Unidas relata dificuldade em arrecadar 1 bilhão de dólares para um fundo de combate ao ebola. “Nós estamos pedindo e chamando a atenção para a necessidade do envio de uma ajuda gigantesca nos últimos meses, mas a ajuda que chega é sempre menor do que a necessária”, disse Christopher Stokes, membro dos Médicos Sem Fronteiras.

Também segundo ele, a doença ainda está totalmente fora de controle. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse que o mundo estaria perdendo a guerra contra o ebola porque não está agindo de forma unificada. Enquanto isso laboratórios farmacêuticos, antes mesmo de comercializarem seus novos medicamentos contra o Ebola, já lucram milhões de dólares com a valorização das suas ações nas bolsas de valores de todo o mundo.

Cuba e alguns países europeus têm ajudado com equipamentos e profissionais de saúde. Já os EUA enviaram tropas militares, segundo eles com o objetivo de estabelecer um centro de controle militar para o combate à epidemia.

Não é com exército que se resolve um problema de saúde pública. Somente com o combate à miséria e com o aumento de verbas para a saúde é que pode haver uma resposta concreta e duradoura.

Em Pernambuco, apesar de existir uma equipe capacitada para o atendimento a algum possível caso, é bom lembrar que o local de referência para ebola ou qualquer outra doença infecciosa, o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, da Universidade de Pernambuco, vem ano após ano sofrendo com o pouco investimento público, acarretando na falta de medicamentos e falta de equipamentos para diagnóstico e tratamento, além de danos em sua estrutura física.

*Diego Guedes é médico infectologista do estado de Pernambuco
 

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