Vera Lúcia, operária costureira de profissão, candidata à prefeita de Aracaju pela Frente de Esquerda (PSTU/PSOL/PCB), está em terceiro lugar em todas as pesquisas de opinião. De acordo com o IBOPE, Vera aparece com 6%. Segundo a pesquisa da Exata, Vera chega a 8,2%.

Vera vem ocupando um espaço à esquerda após a experiência de 12 anos de governo do PT e PCdoB à frente da prefeitura de Aracaju. O desgaste desses partidos é tão grande que, pela primeira vez, o PT não tem candidatura majoritária. É vice na chapa de Valadares Filho (PSB). Leia abaixo a entrevista com Vera Lúcia.

Opinião – Depois de 12 anos governando Aracaju, PT e PCdoB estão em numa chapa encabeçada pelo PSB. O que explica essa situação?

Vera Lúcia – O PT ganhou a prefeitura de Aracaju em 2000, em uma frente composta pelo PT, PCdoB, PCB e PSTU. Nós, claro, não entramos no governo. Marcelo Deda, do PT, foi eleito porque os aracajuanos não suportavam mais a política da velha oligarquia do DEM e PSDB, que se revezava no poder. Infelizmente, tanto Déda, quanto Edvaldo Nogueira, do PCdoB, continuaram governando para as construtoras e para os empresários do transporte e do lixo. Enquanto isso, os servidores públicos tiveram seus salários arrochados, suas greves decretadas ilegais e os dirigentes sindicais sofreram perseguições.

O PT foi eleito com o discurso de que a vida dos trabalhadores ia melhorar. Depois de 12 anos, os moradores dos bairros pobres continuam convivendo com a lama, com o esgoto a céu aberto e sem saneamento básico.

Outra promessa do PT e do PCdoB era a melhoria do transporte público. Mas, entre 2000 e 2012, o preço da passagem de ônibus subiu de R$ 0,95 para R$ 2,25. Enquanto isso, a população sofre com os ônibus velhos, lotados e pagando uma das tarifas mais caras do Nordeste.

Para aplicar esse arsenal de maldades contra os trabalhadores e o povo pobre, o PT e o PCdoB ampliaram seu leque de alianças. A velha oligarquia, que era inimiga no passado, hoje é uma grande aliada. Até o inicio deste ano, o PSDB era base de apoio da prefeitura. A crise que esses partidos estão vivendo em Aracaju nada mais é do que os trabalhadores cobrando a fatura daqueles que lhe venderam ilusões e roubaram seus sonhos e esperanças.

Você fala em crise do PT e do PCdoB. Qual a exata dimensão dessa crise em Sergipe?
Vera – O rechaço ao PT e ao PCdoB é enorme. Nas eleições de 2010, Déda foi reeleito governador, mas perdeu em toda a Grande Aracaju. Com Dilma aconteceu o mesmo. As pessoas já estavam desconfiadas do PT. Nesta mesma eleição, o PCdoB, o partido do atual prefeito, não elegeu sua candidata à deputada estadual, mesmo fazendo dobradinha com Albano Franco, do PSDB.

Esse descontentamento também teve uma expressão nas lutas. Todas as categorias do serviço público estadual fizeram greve contra Déda. O principal embate aconteceu com os professores, pelo pagamento do piso nacional do magistério. A greve durou mais de três meses. O governador conseguiu decretar a ilegalidade da greve e não vem cumprindo com a lei do piso, além de atacar o plano de carreira dos professores. O saldo desse confronto foi a ruptura de uma categoria que ajudou a construir o PT em Sergipe, com o governo. Os professores encerraram a greve fazendo o velório e o enterro do governador. E o que é mais interessante: essa greve da educação teve apoio de massas entre a população. As pessoas colocavam adesivos da greve em seus carros, distribuídos pelos professores nos sinais de trânsito. Um adesivo enorme que dizia: “Déda, pague o piso aos professores!”. Foi uma coisa belíssima.

O embate com os professores também colocou em cheque a Articulação de Esquerda, a corrente interna do PT que dirige o sindicato dos professores e a CUT no estado. A deputada Ana Lúcia, do PT, que também é dirigente do sindicato, foi obrigada enfrentar publicamente o governador do seu próprio partido. Chegou a chamá-lo de fascista na imprensa. Mas a corrente dela, a Articulação de Esquerda, vive hoje uma enorme contradição porque não rompe com o PT.

A crise do PT também atinge essa corrente. Nas eleições de 2008, não elegeram seu candidato a vereador. Nas eleições de 2010, o professor Iran Barbosa não se reelegeu deputado federal e Ana Lúcia foi a última deputada a garantir uma cadeira na Assembleia Legislativa. Muitos dirigentes dessa corrente, como o presidente da CUT, já anunciaram publicamente que não votam em Valadares Filho para prefeito. Até agora temos encontrado um diálogo com esses companheiros e muitos deles nos dizem, um pouco em segredo, que vão votar na Frente de Esquerda. Já outros fazem campanha abertamente para nós.

O PT tem um problema agora porque a candidatura de Valadares Filhos, do PSB, não decola, mesmo com todo o aparato disponível. Em todas as pesquisas, Valadares tem entre 12 e 14%. Deve crescer agora com a campanha na TV, mas não há envolvimento da militância, nem simpatia da massa porque a sua candidatura é associada a Déda e Edvaldo, mesmo ele não sendo do PT nem do PCdoB. O desgaste é tão grande que João Alves, do DEM, o pior da velha oligarquia sergipana, ex-prefeito nomeado pela ditadura, lidera todas as pesquisas com mais de 50% das intenções de votos.

O que explica o terceiro lugar nas pesquisas?
Vera – Já é a terceira vez que concorro a Prefeitura e também já fui candidata à governadora. Sempre tivemos muito apoio, mas as pessoas não haviam feito sua experiência com o PT e com a direita. Entendíamos isso e procurávamos não romper o diálogo com esses setores. Sempre falamos a verdade. Batemos duro nos governos, sempre divulgamos nosso programa completo e sempre alertamos os trabalhadores sobre o que seriam os governos do PT e da direita. Mas, por outro lado, sempre evitamos ficar no “denuncismo” abstrato: nos preocupamos sempre em apresentar propostas concretas para os problemas mais sentidos da população.

Acho que essa forma de fazer política acabou entrando na consciência de um setor da população e agora as pessoas querem fazer uma nova experiência. São 6%, segundo a última pesquisa, e não sabemos se vai se manter assim porque os aparatos de Valadares e João são gigantescos. Mas já é algo fantástico.
É uma lição para toda esquerda: não é necessário rebaixar o programa, nem fazer alianças espúrias, nem receber dinheiro de empresas para conquistar o apoio da população. É preciso apenas paciência. Estamos colhendo os frutos desse trabalho agora.

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