Floripa, Belo Horizonte, São Paulo, Uberlândia, Teresina, Recife, Santo André. É preciso construir a unidade nestas e em muitas outras cidades, onde a luta dos trabalhadores têm tomado as páginas dos jornaisEnquanto o ministro Antonio Palocci, ao que tudo indica o novo coordenador político do governo, libera R$ 400 milhões para comprar parlamentares e abafar a CPI dos Correios, em muitas regiões do país começam a haver mobilizações dos mais diversos setores sociais. Os atores em luta são estudantes, que se enfrentam com prefeituras e a polícia contra o aumento das passagens; servidores municipais e estaduais, em greve contra o arrocho salarial em diversas cidades, e o funcionalismo federal, que também deflagrou sua greve como resposta a provocação do governo que impôs o ridículo reajuste salarial de 0,1%.

Em Belo Horizonte (MG) professores municipais estão em greve desde o dia 5 de maio. A categoria exige, entre outras coisas, o reajuste salarial de 35% e enfrenta uma enorme intransigência do prefeito petista Fernando Pimentel. O prefeito do PT, que há pouco tempo reajustou seu próprio salário em 59%, ameaça cortar os salários dos servidores em greve.

Outro petista que está também em maus lençóis é o prefeito do Recife (PE), João Paulo. Desde 17 de maio, os professores da rede municipal estão de braços cruzados porque o prefeito ofereceu 0% de reajuste. Em Teresina (PI) os servidores municipais protagonizam uma longa e radicalizada greve contra o prefeito Sílvio Mendes, do PSDB, e a Câmara de Vereadores. Os trabalhadores chegaram a ocupar a Câmara quando os parlamentares tentavam votar o “reajuste” de 1,5% oferecido ao funcionalismo. As perdas salariais dos servidores ultrapassam os 71%.

Na capital paulista, nesta quinta-feira, foi realizada uma grande assembléia dos professores municipais que reuniu cerca de 8 mil pessoas, transformando-se em um grande ato contra o prefeito José Serra (PSDB). Na vizinha Santo André, os servidores municipais já iniciaram a greve em alguns importantes setores, que deve se expandir nesta semana. Do mesmo modo, em São Paulo, os professores e funcionários das universidades estaduais paulistas fizeram forte paralisação e iniciaram uma campanha salarial por um reajuste de 10,87% e mais verbas para as universidades. Assembléias discutem um indicativo de greve.

Lula oferece 0,1%
O funcionalismo federal entrou em greve no último dia 2 e tem um importante desafio pela frente. Depois que as direções sindicais da categoria resolveram entrar na greve com suas pautas específicas, o desafio será o de intensificar a luta e a mobilização, de modo a envolver o maior número de categoria, para superar a divisão imposta pela direção sindical. Essa é uma condição imprescindível para a vitória.

Estudantes em guerra
Vêm ganhando muito destaque as constantes lutas contra aumentos na passagem de ônibus levadas principalmente pelos estudantes. Em Uberlândia (MG), foi realizado, no dia 2, uma manifestação contra o aumento de 26% da tarifa. A polícia militar reprimiu duramente, prendendo sete estudantes e utilizando cães e bombas de efeito moral.

Mas o destaque fica por conta de Florianópolis (SC). Desde segunda-feira, as principais ruas da bela capital de Santa Catarina transformaram-se numa praça de guerra. A princípio, estudantes foram às ruas contra o aumento de 8,8% na passagem dos ônibus, imposto pelo prefeito e também empresário do setor de transportes, Dário Berger (PSDB). Contudo, rapidamente outras categorias se incorporaram no protesto. Na quinta-feira, servidores federais em greve, estudantes, servidores municipais e professores realizaram uma mobilização contra o reajuste. A iniciativa foi fabulosa e exemplar para os demais setores em luta e produziu a maior manifestação, com 5 mil pessoas, das jornadas contra o aumento. Agora, buscam a unidade com os motoristas de ônibus, que preparam uma greve para a segunda, 6 de maio.

A repressão policial no caso de Florianópolis também é algo a ser destacado. Informações dão conta que um setor do exército, especializado em confrontos de rua, está sendo deslocado para a ilha. Em apenas uma manifestação reprimida pela polícia, cerca de 60 manifestantes foram presos, sendo que 16 foram parar no presídio. Um estudante chegou a ser preso enquanto estava em um restaurante. Numa outra manifestação a imprensa flagrou um estudante sendo barbaramente espancado por policiais quando ajoelhou-se para deter o avanço dos carros em uma avenida. Também foi proibida a entrada de ônibus com estudantes na cidade. No passado, a ilha de Florianópolis era conhecida como ilha do Desterro, porque para lá eram encaminhados os presos políticos. Agora parece que o prefeito decidiu tentar “desterrar” os estudantes da cidade.

Unificar é preciso
As lutas que se travam pelo país não indicam um ascenso generalizado da mobilizações. Contudo, poderiam avançar para um quadro semelhante, não fosse o papel d a direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e seus sindicatos. Comprometida até a medula com o governo Lula, a CUT impede o avanço das greves e das lutas, barrando qualquer iniciativa que possa unificá-las. A lembrança do papel traidor da central na greve do funcionalismo federal contra a reforma da Previdência continua fresca na memória dos servidores. A CUT beira o absurdo para defender o governo. Depois que estouraram os escândalos de corrupção, por exemplo, a CUT lançou nota dizendo-se contra a instalação de um CPI.

A unificação dessas lutas poderia produzir grandes vitórias para os trabalhadores. Para isso é importante olhar com atenção e reproduzir o exemplo da unidade construída em Florianópolis, organizando coordenações e ações comum de lutas. Construir uma política que unifique os diversos setores em luta significa não somente enfrentar a CUT, mas também prescindi-la como organização sindical. Nesse sentido, é importante construir a Conlutas e a Conlute como novas alternativas de direção para o movimento.