No dia 28 de junho de 2009, uma coligação de forças oligárquicas e militares derrubou o governo de José Manuel Zelaya em Honduras. Durante vários meses, de forma heróica, o povo hondurenho lutou com tudo o que tinha para reverter o golpe de Estado. A política do imperialismo e das burguesias locais, somado ao papel traidor da direção zelayista, impediu a queda da ditadura de Michelleti e facilitou a consolidação do governo de Pepe Lobo.

O imperialismo norte-americano teve uma cínica tática política: buscar uma saída que preservasse o regime e evitasse uma ruptura revolucionária; para alcançar estes objetivos impôs uma negociação entre os golpistas e o presidente derrubado; esta negociação teve o acordo do próprio Zelaya. O apoio de Zelaya à perspectiva aberta pelo Acordo de Guaymuras fortaleceu os golpistas.

No dia 27 de janeiro, em umas eleições organizadas sob a repressão militar se tentou “lavar o rosto do golpismo”; surge assim o governo espúrio de Pepe Lobo, continuidade direta dos golpistas.

Numa carta datada de 5 de abril de 2010 e dirigida a José Miguel Insulza [1], a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe (FNRG) denuncia que o regime usurpador de Pepe Lobo “continuou com as mesmas posições em relação à ditadura de Roberto Micheletti, incorporando em seus cargos, rostos visíveis do Golpe de Estado Militar, é o caso do general que executou o golpe de estado, Romeo Vásquez Velásquez, como Gerente da empresa de Telefonia do povo hondurenho; o Senhor Arturo Corrales, como Secretário de Cooperação e Assistência Técnica (SETCO); a Senhora Vilma Cecilia Morales como Presidenta da Comissão Nacional de Bancos e Seguros. O regime tem se limitado a distribuir cargos entre os partidos políticos aliados”. Este é, pois, o quadro que se desenvolve em Honduras desde 27 de janeiro: um governo espúrio, continuidade da política e dos métodos do Michelletismo.

Maquiando o golpe, continuando o golpe
O continuísmo golpista necessita “maquiar” seu rosto para voltar à normalidade; para isto jogaram um papel inestimável a inconseqüente direção zelayista, mas, sobretudo os governos burgueses da região, que buscam “reintegrar” Honduras à comunidade centro-americana. Uma recente reunião secreta de Daniel Ortega com Pepe Lobo assinala que na próxima reunião do SICA [2], o governo espúrio será readmitido na “comunidade de nações”. A presidenta eleita da Costa Rica, Laura Chinchiilla, também defendeu reintegrar Honduras à OEA; Funes [3] parece ser o fiador das negociações entre golpistas e zelayistas, para alcançar um retorno de Zelaya à Honduras. Como se vê, os diferentes presidentes funcionam como pequenos títeres de um teatro, cujo objetivo é normalizar a situação política em Honduras.

O imperialismo e os governos burgueses da região querem “maquiar” o golpe, mas a realidade é muito diferente para os setores populares e os lutadores sociais hondurenhos. O governo usurpador de Lobo esta realizando uma “guerra suja”; nos últimos três meses há uma sistemática atividade de desaparecimento, assassinato e tortura contra dirigentes do movimento popular. Ex-paramilitares dos anos 1980, como o fundador do batalhão 3-16, Billy Joya, colaboram com o Ministro de Segurança Oscar Álvarez (executor da política de “mão dura” na administração nacionalista de Ricardo Maduro) para decapitar a resistência hondurenha.

Pepe Lobo é um fiador absoluto dos interesses dos empresários golpistas. Nestes meses sua política foi: impulsionar um “pacotaço” de impostos contra o povo, derrotar os estatutos docentes e médicos, assim como os convênios coletivos de trabalho da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), garantir a tomada das terras camponesas no Baixo Aguán e proteger os madeireiros no Vale da Síria. Mas para alcançar estes objetivos o governo deve quebrar a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP); o Ministro de Segurança Oscar Álvarez repetiu constantemente que a FNRP não tem razão de ser sob o governo de reconciliação nacional.

A guerra suja em todos os terrenos: jornalistas, docentes, camponeses, ambientalistas
O silêncio cúmplice dos meios de comunicações imperiais e a política dos governos burgueses da região (de “esquerda” e de “direita”) são parte de uma criminosa articulação contra a “resistência dura”.

Enquanto o mundo se volta para outras regiões e se guarda silêncio sobre Honduras, há desde inícios de março uma escalada crescente de assassinatos, atentados, violações e amedrontamentos contra reconhecidos ativistas das resistências.

Só no mês de março, 5 jornalistas foram assassinados: “No dia 1 de março foi baleado o jornalista Joseph Hernández e ferida a colega Carol Cabrera; no dia 10, foi assassinado David Enrique Meza; na segunda-feira, 15, Nahum Palacios Arteaga, enquanto José Bayardo Mairena e Manuel de Jesús Juárez foram executados na sexta-feira, 27 de março” (Jean-Guy Allard, especial para ARGENPRESS.info). É notável como nesta ocasião as agências a saldo do imperialismo, como Repórteres Sem Fronteiras, o Committee to Protect Journalists e a Sociedade Interamericana de Imprensa guardam prudente e cúmplice silêncio.

Entre o dia 23 e 26 de março, a escalada repressiva arrancou com tudo. Em 23 foi executado, dentro das instalações do Instituto São José de El Pedregal, e na frente de seus companheiros e alunos, o ativista do magistério e militante do Partido Socialista Centro-americano (PSOCA), José Manuel Flores Armijo. Poucos dias depois, Rosa Margarita Vargas, presidenta da seccional do Colégio de Professores de Educação Meia de Honduras (COPEMH) no mesmo instituto, foi ameaçada de morte.

No dia 24 de março, Erlinda Reyes e Alina Aguilar, dirigentes do Sindicato de Trabalhadores da UNAH (SITRAUNAH) são capturadas e levadas aos tribunais de Tegucigalpa, onde são sentenciadas em 26 de março por delitos de sedição, usurpação e coação. Mais 13 dirigentes do SITRAUNAH se encontram acusados e perseguidos pela justiça golpista. A poeta e feminista Rebeca Becerra sofre, no mesmo dia, uma ameaça de morte. Também em 26/03, dois jornalistas, José Bayardo Mairena e Manuel de Jesús Juarez, são crivados com 13 tiros a caminho de Olancho.

A partir de primeiro de abril a repressão se concentra no Baixo Agúan, onde o Movimento Camponês Unificado do Águam (MUCA) luta há anos para recuperar as terras que os fazendeiros produtores de palma africana e reconhecidos golpistas, Miguel Facussé, René Morales e Reynaldo Canales lhes tomaram ilegalmente.

Entre o dia 1 e 7 de Abril dois ativistas camponeses são mortos por enfrentamentos com as empresas de segurança privada dos fazendeiros; no dia primeiro de abril morre Miguel Alonso Oliva, jovem de 22 anos, e em 7/04 cai Leonel Álvarez Guerra. Ambos conhecidos membros do MUCA e da FNRP.

No mesmo dia 7, no departamento de Francisco Morazán, uma mobilização de aproximadamente 1000 habitantes sofre a repressão dos guardas privados de uma exploradora florestal vinculada à família Raudales Urrutia, conhecidos empresários madeireiros e reconhecidos golpistas. Neste choque ficam feridos gravemente Juan Carlos Raudales e José López. A partir do sábado, 10 de março, um extenso contingente do exército hondurenho se instala no Vale do Agúan.

A este aumento das atividades paramilitares e militares, seria preciso somar:

1) A abertura de uma nova base militar assessorada e financiada pelo Comando Sul dos Estados Unidos no cabo Gracias a Dios; esta base foi inaugura no dia 8 de abril pelo embaixador ianque Hugo Lorens e o presidente espúrio Pepe Lobo.

2) A autorização às forças Armadas para contratar 1000 novos efetivos, para os quais o Estado destinará novas verbas para treinamento com fins “educativos”.

É preciso deter os assassinatos. Por uma campanha mundial de repúdio aos assassinatos políticos em Honduras
A resistência hondurenha está sendo vítima de um sinistro plano, um “abraço mortal” onde por um lado se fala de comissões de verdade e reconciliação e por outro se dá rédea solta à repressão de guardas privados, policiais, militares e paramilitares.

Os mesmos ativistas da resistência denunciaram que a sinistra Direção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) tem preparada (assim como fez nos anos 1980) uma lista de 130 dirigentes da Resistência, os quais se pretende neutralizar pelos meios mais diversos. Esta situação não pode continuar assim.

É necessário organizar em Honduras e no mundo inteiro, uma jornada de lutas para deter imediatamente os assassinatos de dirigentes populares. É necessário um chamado internacional da FNRP a todas as organizações sindicais, populares, de direitos humanos, etc. para uma ação coordenada mundial, de repúdio ao governo espúrio de Pepe Lobo, para que cesse a repressão militar e paramilitar em Honduras. É fundamental, além disso, a exigência de uma interrupção da Anistia que permite que os responsáveis materiais e intelectuais de mais de uma centena de assassinatos, desde o golpe de estado de 28 de Junho, continuem impunes.

Cronologia
Domingo, 11 de abril: reunião do SICA, onde se buscava reinserir o governo de Pepe Lobo. Suspensa momentaneamente.

Sábado, 10 de abril (manhã): Movimentação de três brigadas do exército, que transportam 11 comandos do exército para o Baixo Aguán; 3 mil famílias camponesas ameaçadas.

Quinta-feira, 8 de abril: O governo espúrio de Pepe Lobo e o embaixador norte-americano Hugo Lorens inauguram uma nova base militar em Gracias a Dios, assessorada diretamente pelo Comando Sul (EUA).

Quarta-feira, 7 de abril: Daniel Ortega se reúne secretamente com Pepe Lobo, para normalizar as relações.

Quarta-feira, 7 de abril: Atentado contra Juan Carlos Raudales e José López, ambientalista no Vale da Siria. A mando de empresas de segurança privada dos madeireiros.

Quarta-feira, 7 de abril: É assassinado com cinco tiros Leonel Álvarez Guerra, membro da Cooperativa La Confiança, parte Movimento Unificado Camponês do Aguán (MUCA).

Quinta-feira, 1º de abril: Morre Miguel Alonso Oliva membro do Movimento Camponês Unificado do Aguán (MUCA).

Sexta-feira, 26 de março: Foram assassinados os jornalistas José Bayardo Mairena e Manuel de Jesús Juárez.

Sexta-feira, 26 de Março: É determinada a prisão domiciliar, seguida por medidas substitutivas contra Erlinda Reyes e Alina Aguilar, acusadas de delitos de rebelião, usurpação e coação.

Sexta-feira, 26 de março: É ameaçada de morte a poeta feminista Rebeca Becerra.

Quinta-feira, 25 março: O juiz Melvin Bonilla determinou prisão preventiva contra 15 membros da Junta Diretiva do SITRAUNAH.

Quarta-feira, 24 de março: São capturadas e encaminhadas ao tribunal, Erlinda Reyes e Alina Aguilar, membros do SITRAUNAH.

Terça-feira, 23 de março: Foi assassinado o dirigente do magistério e militante do PSOCA, José Manuel Flores Armijo.

Segunda-feira, 15 de março: Foi assassinado o jornalista Nahum Palacios Arteaga.

Quarta-feira, 10 de março: Foi assassinado o jornalista David Enrique Meza.

Segunda-feira, 1º de março: Foi assassinado o jornalista Joseph Hernández e ferida sua colega, Carol Cabrera.

NOTAS:
1.
N.T. advogado e político chileno, atual secretário-geral da Organização dos Estados Americanos
2. N.T. Sistema de Integração Centroamericana, organismo internacional criado por El Salvador, Honduras, Nicarágua, Guatemala, Costa Rica e Panamá.
3. N.T. Carlos Mauricio Funes Cartagena, presidente de El Salvador

*Fonte: www.litci.org