Reestatização garantiria uma empresa aérea nacionalSeja admirando os heróis da TV ou os pássaros, o desejo de voar sempre fez parte do imaginário humano. O homem conseguiu essa proeza, através de uma máquina, o avião. O povo brasileiro se orgulha de fazer parte dessa história, com Santos Dumont.

O outro grande motivo de orgulho dos brasileiros no campo da aviação sempre foi a Embraer. A existência de uma empresa brasileira de fabricação de aviões, com alta tecnologia, é algo que enche o brasileiro de satisfação e faz com que sinta que não fica atrás de qualquer outro país do mundo.

Infelizmente, esse sentimento entra logo em choque com a realidade. A Embraer há muito tempo deixou de fato de ser uma empresa brasileira. Com a privatização, em 1995, e a posterior entrega de grande parte de seu capital ao mercado internacional, a empresa passou para o controle de bancos e especuladores, que só pensam no lucro fácil e rápido.

Esta é a explicação para as absurdas 4.270 demissões de fevereiro. Em janeiro de 2007, a Embraer tinha US$ 15 bilhões em pedidos de aeronaves em carteira. No fim deste mesmo ano, os pedidos saltaram para US$ 19 bilhões e, em 2008, para US$ 21 bilhões.

A verdade, que não teve destaque na mídia, é que o prejuízo da Embraer com a crise econômica não é fruto de uma queda na venda de aeronaves. A redução de seus lucros vem das perdas com a especulação financeira, nos fundos Hedge.

Além de especularem na bolsa até ter que demitir em massa, é preciso ver como é dividida a riqueza que os trabalhadores dessa empresa produzem. Segundo os balanços da Embraer, em 2005 foi pago aos acionistas a quantia de R$ 444 milhões. Em 2006, foram R$ 327 milhões e, em 2007, R$ 449 milhões. Portanto, mais de 60% de todo o lucro da Embraer nestes anos foi repassado aos acionistas. Esta dinâmica levou e tem levado à diminuição dos investimentos na empresa por parte dos principais acionistas. Em contrapartida, aumentam os financiamentos e ajudas do BNDES e do governo para a empresa.

Em defesa da reestatização
Só a reestatização pode salvar a Embraer. Todo o esforço de décadas para a construção dessa indústria aeronáutica, desenvolvendo tecnologia brasileira, não pode simplesmente ser subtraído, sendo utilizado para uma estúpida ganância, pela corrida ao lucro.

Há saída para essa situação. Ela virá com a ruptura com estes laços de subordinação e humilhação ao capital internacional e com os acionistas que só visam enriquecer às custas dos trabalhadores.

Apenas com a reestatização da Embraer, colocando a empresa sob o controle dos trabalhadores, é que poderemos de fato garantir emprego, a defesa da soberania e o desenvolvimento da aviação nacional. Retirando essa empresa da ótica capitalista, poderemos reintegrar os 4.270 demitidos em fevereiro e os dos últimos anos.

Isso se faz de fato investindo na produção e reduzindo a jornada de trabalho sem reduzir salário. Com uma jornada de trabalho menor, geraremos mais empregos e os trabalhadores poderão inclusive poder aproveitar mais o tempo com a família, amigos, com lazer, cultura e educação.

Uma empresa para ligar o país
A reestatização da Embraer traz consigo outro importante debate. A necessidade de se construir uma empresa aérea estatal. Para o povo pobre desse país, viajar de avião é um privilégio, quando não um sonho. O custo das raras vezes em que conseguem voar precisa ser dividido em longas prestações.

O Brasil necessita de sua própria empresa aérea, tanto para vôos internos como internacionais. A Embraer estatal pode não só ser uma fabricante de aviões como também uma empresa aérea. Essa nova Embraer, reestatizada sob o controle dos trabalhadores, redimensionada para atender os interesses do povo, poderá ligar desde cidades de pequeno e grande porte, como fazer vôos internacionais.

É preciso sonhar, como homens no passado sonharam um dia em poder voar, e assim o fizeram. É possível sim acreditar em uma Embraer reestatizada sob o controle dos trabalhadores. Só aí então teremos razões de sobra para se orgulhar dessa empresa.

*Herbert trabalha na Embraer, no setor de Estamparia, e é vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região