Desde o dia 29, bancários de todo o país estão em greve em resposta à provocação da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Os banqueiros oferecem reajuste de 4,29%, enquanto a lucratividade dos bancos, sob o governo Lula, aumentou 420%.

Os bancários de todo o país lotaram as assembleias que deflagraram a greve da categoria. Em Brasília, compareceram mais de cinco mil trabalhadores, e em São Paulo estiveram presentes mais de dois mil bancários.

Acordo estabelece novo patamar para os bancários
Um dia de greve foi suficiente para que os bancários do Banco Regional de Brasília (BRB) pudessem comemorar. O acordo, que parece ser o melhor da categoria nos últimos anos, além do reajuste salarial de 12%, garante 20,9% sobre a gratificação de caixa, 7% para as funções gratificadas, garantia de emprego a todos os funcionários, prevista no regulamento de pessoal, e importantes avanços na isonomia, como a extensão do anuênio aos admitidos após 2000 e 35 dias de férias para todos.

O índice conquistado pelos bancários do BRB é superior aos 11% que reivindica a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) e estabelece um novo patamar para a negociação com os banqueiros. Se o BRB, um banco público com cerca de três mil funcionários e lucro bastante inferior ao dos grandes bancos do país, pode pagar esse valor, os bancos maiores também poderão.

“Os banqueiros têm sido um dos setores mais beneficiados durante o governo Lula, aproveitando para ampliar seus lucros sem querer gastar um centavo a mais com os bancários. Não podemos permitir isso”, diz Wilson Ribeiro, membro do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB/CSP-Conlutas). “Diante da alta lucratividade dos bancos, os sindicatos, de maioria cutista, deveriam pedir mais que os 11%”, completou.

Isonomia e reposição das perdas salariais
Para o MNOB, além de reajuste e PLR, os bancários têm uma série de questões específicas para reivindicar. A reposição das perdas salariais, a isonomia de direitos entre antigos e novos funcionários e um plano de cargos e salários precisam ser pautados na mesa de negociação com os bancos públicos. Também é preciso garantir, seguindo o exemplo do BRB, a estabilidade no emprego.

No Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, bancários aprovaram em suas assembleias uma carta ao presidente Lula. O documento exige que o presidente “se posicione sobre as reivindicações da categoria, pressione os bancos a avançar em suas propostas na mesa de negociação, bem como restitua, nos bancos federais, os direitos que nos foram retirados” como única forma de garantir condições decentes de trabalho e de vida para toda a categoria.

Pelo fim da mesa única!
O acordo com o BRB foi conquistado em uma mesa específica de negociação, contrariando a estratégia adotada pela Contraf/CUT – a mesa única da Fenaban -, que incorpora os bancos públicos e privados na mesma mesa de negociação para blindar o governo Lula, impedindo que, nos públicos, os trabalhadores negociem diretamente com seu patrão. A oposição bancária defende o fim da mesa única porque só assim será possível conquistar a reposição das perdas salariais e a isonomia nos bancos públicos.

Fortalecer e ampliar a greve
As fusões Itaú-Unibanco, Santander-Real e a incorporação, pelo Banco do Brasil (BB), do Banco Nossa Caixa (BNC) e do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) representaram grandes ataques aos bancários, mas trouxeram uma única vantagem: a soma de suas forças para lutar.

O Itaú-Unibanco é destaque em todo o país, com o maior número de agências paralisadas entre os bancos privados. Em São Paulo, agências do Santander-Real pararam espontaneamente. No BB, bancários de agências que tradicionalmente não aderiam à greve paralisaram suas atividades.

A Fenaban informou que está disposta a conceder reajuste acima da inflação, mas que jamais chegará a 11%. “É preciso fortalecer e ampliar a greve, que já é mais forte do que em 2009. Estamos alertando os bancários sobre a participação nas atividades da greve, em especial nas assembleias”, afirma Patrícia Vale, membro da Oposição Bancária.

“A categoria precisa tomar a campanha salarial em suas mãos para impedir que a Contraf/CUT feche um acordo rebaixado, como nos anos anteriores. Esta é a única forma de garantir nossa vitória nesta greve”, completa a bancária.

Bancos e governo ameaçam direito à greve
O assédio moral, prática que se tornou comum nos bancos, é levado às últimas consequências durante a greve. No Rio e no Espírito Santo, por exemplo, bancários do HSBC e do Bradesco foram coagidos a assinar declarações, depois registradas em cartório, nas quais afirmam estarem sendo impedidos de trabalhar. Tudo isso para embasar os famosos “interditos proibitórios”, utilizados para inibir o direito de greve dos trabalhadores.

No BB, funcionários são orientados a enfrentar os piquetes e, se necessário, acionar a polícia, para garantir a entrada. Outros são orientados a trabalhar em locais que, de tão alternativos, assustam. Em Pernambuco, por exemplo, o sindicato flagrou bancários trabalhando em mesas e cadeiras de plástico, sem espaço e iluminação adequados. Outra situação recorrente, tanto no BB como na CEF, são as ameaças de descomissionamento.

O ataque ao direito dos trabalhadores à greve não é novidade. O que surpreende é que ocorra nos bancos públicos e, pior, durante o governo de Lula, um ex-sindicalista, que dirigiu grandes greves e mobilizações dos trabalhadores.

A organização dos trabalhadores é sua única arma contra a exploração. Frente a esses ataques, é necessário intensificar a luta para garantir o direito de greve, imprescindível para a defesa dos direitos dos trabalhadores.
Post author Juliana de Oliberira, de São Paulo
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