Trabalhadores da GM de São José dos Campos (SP) rejeitam novamente proposta de bancos de horasOs operários da General Motors de São José dos Campos (SP) rejeitaram mais uma vez a chantagem da empresa, que impunha o banco de horas e a redução do piso e da grade salarial em troca de 600 novos empregos. No dia 31 de janeiro, o sindicato dos metalúrgicos realizou uma nova rodada de assembléias, com os trabalhadores dos três turnos da empresa. O resultado reafirmou a decisão da categoria aprovada por cerca de 8 mil metalúrgicos nas assembléias dos dias 22 e 23.

A assembléia da manhã contou com a participação de 4 mil metalúrgicos e durou cerca de três horas. Além dos dirigentes sindicais, contrários à proposta, o microfone do caminhão de som foi aberto aos trabalhadores. A mando da empresa, alguns trabalhadores, principalmente da administração, defenderam a proposta que flexibiliza os direitos. Mesmo assim, a assembléia votou contra a proposta da empresa. O 2º turno, com cerca de 2 mil trabalhadores, e o 3º turno, reforçaram a decisão.

Esta foi uma das maiores vitórias obtidas pelos trabalhadores na luta contra o projeto de reestruturação produtiva que as empresas realizam para flexibilizar os direitos. Demonstrou que, quando a direção de um sindicato está contra estas propostas e conscientiza os trabalhadores, a vitória é possível.

Mas a luta não acabou. Agora, a empresa ameaça levar estes empregos para outras cidades, como São Caetano (SP), Gravataí (RS) ou Rosário (Argentina). A GM está fomentando um abaixo-assinado por dentro da fábrica exigindo uma nova votação, buscou a prefeitura para ajudar a pressionar o sindicato e, além disso, começam a surgir boatos de possíveis demissões e punição.

Patrões, pelegos e prefeitura ao lado da GM
No dia seguinte às assembléias, os jornais da região noticiavam: “São José perde empregos e novos projetos da GM”. Tentavam assustar a população: “Economistas e empresários temem retrocesso do emprego e aumento da dependência de Embraer e Revap”. A prefeitura já havia dado isenção de IPTU e redução de ISS para a empresa. E pressiona o sindicato para ceder.

O presidente da Associação Comercial e Industrial elogiou a prefeitura e atacou o sindicato. Por fim, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, o Cidão, declarou à imprensa que o que a GM propunha para São José já existia em São Caetano desde o ano passado, tanto o banco de horas como o piso salarial, que foi reduzido de R$ 1.500 para R$ 1.300. “Não quero criticar o sindicato de São José, mas os seus diretores terão que ponderar bastante porque a situação é delicada. A GM não está disposta a ser a única a não a ter flexibilidade de produção que a Volkswagen, a Ford e a Fiat já conseguiram (…) o capital não tem coração nem pátria, infelizmente essa é uma realidade que temos que enfrentar”, disse.

Reestruturação produtiva reduz empregos e aumenta lucros

No ano passado, as montadoras tiveram produção, vendas e lucros recordes. Foram 2,3 milhões, um aumento de 28% em relação a 2006. Para 2008, a previsão é de crescimento ainda maior. A General Motors controla mais de 20% do mercado nacional.

Para contratar estes 600 trabalhadores, aumentar sua produção e vender mais carros, a GM queria que os atuais trabalhadores aceitassem o famigerado banco de horas, que coloca os trabalhadores a mercê da empresa, deixando de receber as horas extras.

Eles omitem deliberadamente que se aproxima uma nova crise financeira mundial e que toda a propaganda do governo Lula, de transformar o país em um canteiro de obras, não está “blindando” o Brasil e que a crise vai chegar por aqui.

Por isso que a GM tenta se garantir desde já, tomando medidas para aumentar a exploração dos trabalhadores e garantir a margem de lucro. A empresa não quer fazer investimentos. Quer apenas aproveitar uma linha de produção que já existe, contratar trabalhadores por tempo determinado com salários mais baixos, ganhar isenções de impostos e piorar as condições de trabalho dos operários.

Nos locais onde o sindicato aceitou negociar a precarização do trabalho, os empregos diminuíram muito mais. Haviam 80 mil trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP) na década de 80. Hoje, são apenas 10 mil e recebem um salário 20% menor. Em 1991, em todo o ABC, eram 196 mil metalúrgicos. Atualmente são cerca de 100 mil. Ou seja, 96 mil postos de trabalho foram perdidos.

Os trabalhadores querem os empregos em São José dos Campos, apesar de saber que os trabalhadores das outras cidades também necessitam deles, e que a empresa usa desta política para dividir a classe e acabar com a solidariedade operária. Mas quer empregos sem o aumento da exploração e sem o corte de direitos.

Sindicato parceiro dos patrões
Para aplicar a reestruturação produtiva, as empresas contam com apoio e sustentação política e ideológica das direções sindicais burocráticas. Sem isso, a patronal teria muito mais dificuldades para aplicar este projeto, ou nem mesmo conseguiria impô-lo. Atualmente, a maioria dos sindicatos realiza uma parceria com os patrões, para implantar este projeto.

Leon Trotsky definiu esta situação como uma “enfermidade geral”, em “Sindicatos na Época de decadência do imperialismo”. O revolucionário russo enxergou uma “a degeneração burguesa dos aparatos sindicais na época do imperialismo”. Ao mesmo tempo em que não negava a importância da luta através dos sindicatos, Trotsky via neles e em seus dirigentes a adaptação ao Estado. Para ele, a atuação nos sindicatos deveria ir além de questões econômicas, formando ali verdadeiras “escolas da revolução socialista”.

Conscientizar os trabalhadores
A diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São José jogou por terra os argumentos dos dirigentes reformistas da CUT e da Força Sindical, que afirmam que a flexibilização é inevitável. É fundamental agora dar prosseguimento a esta luta.

O sindicato enviará cartas para as famílias dos operários da região, explicando sua proposta, produzirá cartilhas e cursos para cipeiros e ativistas sindicais.

Da mesma maneira, é necessário desencadear uma campanha de solidariedade nacional e internacional aos trabalhadores da GM e de divulgação de sua luta. Para isso também o sindicato produzirá um boletim específico para as GMs de São Caetano, Gravataí e outras unidades a ser distribuído com a ajuda da Conlutas. Também produzirá, com outros sindicatos da Conlutas e da Intersindical, um boletim específico para os metalúrgicos de outras bases. Do ponto de vista internacional, enviará uma delegação para buscar contato com metalúrgicos da GM de Rosário, na Argentina, e da GM dos EUA. A próxima atividade da campanha será um ato de solidariedade no dia 21 de fevereiro, às 14h, na portaria da empresa.
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