O governo Lula está tentando escapar da paralisia em que está metido desde a crise com as denúncias de corrupção. A queda de José Dirceu não é uma derrota qualquer do governo. Dirceu foi o presidente do PT que construiu a virada à direita da década de 90, a campanha eleitoral e a formação do governo. Atuava quase como um primeiro-ministro na área política, apesar de já estar debilitado desde o escândalo Waldomiro. Trata-se de uma séria derrota do governo, quase seguramente pela ameaça de se tornarem públicas mais evidências contra o governo.

A ameaça de “sarneyzação” – enfraquecimento que se arrastaria até as eleições de 2006 – ronda o governo seriamente. Para evitá-la, o governo está tentando uma contra-ofensiva, que incluiu o controle dos cargos de presidente e relator da CPI; uma medida provisória (a chamada “MP do Bem”) com uma série de concessões à burguesia exportadora; a campanha de CUT, UNE e MST contra o “golpismo” e uma nova reforma ministerial.

Nessa reforma, se reduziria a presença do PT no governo, para dar mais dois ministérios ao PMDB e outro ao PP, de Maluf e Severino Cavalcanti.

Marcha batida para a direita
O governo segue tendo uma característica central de frente popular, ou seja, colaboração de classes, pela combinação de partidos e lideranças originárias dos trabalhadores (no caso o PT e Lula), e representantes da burguesia. Essa reforma aponta para uma redução dessa característica de frente popular (que ainda se mantém, porém, de forma mais reduzida) em direção a um governo de direita clássico.
A contra-ofensiva, na verdade, já revela todas as fragilidades do governo, e o empurra ainda mais para a direita. Lula repete com o PMDB a mesma jogada que fazia com o PTB: oferecendo cargos em troca de apoio político no Congresso. Com o PTB deu no que deu. Assim, alimenta a política de loteamento dos cargos governamentais, uma das bases de toda a onda de corrupção. A tendência é que todo esse esforço do governo se enfraqueça já na primeira nova denúncia.

Criar um pólo de lutas

As denúncias que atingem o governo Lula aumentam suas dificuldades em implementar suas reformas neoliberais, como a Sindical e a Universitária, e abrem um importante espaço para que os movimentos sociais avancem em suas lutas. A radicalização política que existe na base está provocando uma ruptura muito importante com o governo. As denúncias têm grande impacto na consciência da população, produzindo uma grande decepção e desencanto com o PT e com o governo. Há um profundo repúdio à toda essa podridão que está aí, uma revolta latente contra os políticos. Mas também há confusão, um sentimento de impotência, de que não dá para fazer nada para mudar.
Essa situação tende a polarizar o quadro político entre duas alternativas absolutamente opostas aos interesses da classe trabalhadora: de um lado, o governo federal, apoiado pela CUT, UNE e MST, tentando desviar a atenção da corrupção atual.

De outro, a oposição de direita (PSDB e PFL), que pretende desgastar o governo visando às eleições de 2006. Ambos estão comprometidos até os fios de cabelo com o modelo neoliberal e as políticas do FMI e afundados no mar de lama da corrupção.

Os trabalhadores e jovens não podem aceitar nenhuma das duas alternativas. Nem tampouco podem se paralisar no desânimo e ceticismo. É necessário criar um outro pólo, de mobilização contra a corrupção, mas a partir do movimento de massas, sem unidade com a oposição burguesa.

Tomar as ruas

É preciso passar da indignação para a ação. Vamos às ruas! É o grito que deve ecoar em todo o país. Não temos porque aceitar passivamente o governo e a oposição burguesa falarem em nosso nome. Os exemplos recentes da América Latina devem estar presentes em nossas cabeças, para mostrar que os trabalhadores, quando se mobilizam, podem até mesmo derrubar governos.

A Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) acaba de se reunir e marcar uma marcha a Brasília para o dia 17 de agosto, o que aponta para a construção desse pólo de mobilização classista contra a corrupção. Essa marcha deverá unificar as bandeiras contra a corrupção e as lutas concretas por questões salariais e contra as reformas neoliberais. A proposta da marcha em agosto inclui também a realização de atos em várias cidades já agora, como resposta imediata e também para a divulgação da marcha.

É necessário que esta proposta seja levada aos sindicatos e movimentos estudantis e populares, para ser discutida por todos. Vamos às ruas!

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