Estão crescendo no país os indícios de que o segundo mandato de Lula não será como o primeiro. Inicialmente, ocorreu o Encontro Nacional Contra as Reformas do dia 25 de março, em que mais de 600 entidades e seis mil pessoas aprovaram um plano de lutas contra os planos do governo. Agora, existe uma leva de mobilizações – a dos controladores de vôo é a mais importante delas – que indica a possibilidade de extensão das lutas.

Lula conseguiu, em seu primeiro mandato, impor um plano neoliberal ainda mais duro que FHC (superávit primário maior, lucros históricos para os bancos) e, apesar disso, ainda manteve um relativo controle político do país. Safou-se da grande crise política de 2005 e reelegeu-se com o apoio majoritário dos trabalhadores.

Com a ajuda da CUT e da UNE, conseguiu frear as mobilizações dos trabalhadores. Contou, também, com o apoio do MST ao governo. Navegou com sucesso no crescimento econômico, se aproveitando do prestígio de seu nome. Fomentou a ilusão de que as migalhas do “Bolsa Família” e do reajuste do salário mínimo deviam-se à sua preocupação com os pobres porque havia sido “um deles”.

Reforma da Previdência anunciada
Lula anunciou com clareza sua intenção de fazer a reforma previdenciária. Tirou o Ministério da Previdência das mãos do PDT, porque este partido não era uma garantia para a reforma. Entregou a pasta a Luiz Marinho, um burocrata que faz tudo o que Lula quer.

Na semana passada, Lula e Bush reuniram-se de novo nos EUA, para fecharem os acordos que envolvem as reformas no Brasil e os planos para o etanol.

A direção do MST, que até agora vem apoiando o governo, tem de romper com Lula de imediato. Este governo enviou tropas para o Haiti, liberou os transgênicos e determinou a transposição do rio São Francisco. Agora, com a febre do etanol, vai agravar a situação dos trabalhadores do campo. Os pequenos produtores vão ser expulsos de suas terras para enriquecer as grandes empresas. A produção de alimentos do país vai ser afetada. O México é um exemplo – o preço do milho (base da “tortilla”, alimento mais popular do país) aumentou muito porque também é usado para a produção do álcool.

Lula irá mais à direita em seu segundo governo, fazendo maiores ataques aos trabalhadores da cidade e do campo.

É possível vencer o governo
O que Lula não esperava era a reação do movimento. No dia 25 de março, o Encontro Contra as Reformas instalou um Fórum de Mobilização que inclui a Conlutas, a Intersindical, uma parte das pastorais e outras entidades. O encontro votou um plano de lutas com apoio às lutas concretas (com um dia nacional de mobilizações no dia 17 de abril), atos unificados no 1º de Maio, uma semana de lutas entre 21 e 25 de maio e uma manifestação em Brasília no segundo semestre.

O próximo 17 de abril será um dia de lutas e mobilizações, unindo o funcionalismo público a setores de luta no campo. A Cnesf (Coordenação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) aprovou o dia 17 como data de mobilizações e paralisação em defesa das reivindicações da categoria.

As lutas atuais começam a crescer e a escapar do controle das direções governistas.

A primeira a ser destacada é a greve dos controladores de vôo, que ocuparam os centros de controle aéreo. Hoje está em curso uma negociação com o governo e uma grande campanha contrária da mídia para tentar derrotar o movimento.

Existem mobilizações salariais importantes, em particular dos metalúrgicos de Volta Redonda, construção civil de Fortaleza e funcionalismo público (professores no Amapá, funcionários estaduais no Rio de Janeiro e uma quase greve geral do funcionalismo no Piauí).

Em todas elas, um problema chave é a superação das direções governistas da CUT. Em muitas categorias, já existem direções sindicais ligadas à Conlutas, mas na maioria ainda existe a CUT, que precisa ser superada nas próprias lutas.

Os professores da Apeoesp em São Paulo deram o exemplo de como derrotar os governistas, votando numa assembléia o plano de lutas proposto pela Conlutas contra o da CUT, com 80% dos votos. Como conseqüência, no dia 17 vai haver uma luta unificada dos professores estaduais do ensino médio e das universidades paulistas.

A juventude está em luta em várias cidades, por motivos distintos (passe-livre no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, moradia em Campinas, contra o racismo na UnB). As mobilizações populares seguem ganhando peso, com a continuidade da ocupação do Pinheirinho em São José dos Campos pelo MUST e a nova ocupação de Itapecerica da Serra (SP) pelo MTST, ambos ligados à Conlutas.

A importância das lutas atuais
Todas essas mobilizações são partes de uma ampla batalha, que terá uma rodada decisiva quando a reforma da Previdência vier.

A situação política mundial tem dado grandes lições: é possível vencer! A reação do povo venezuelano derrotou o golpe imperialista em 2002. A resistência iraquiana acabou com os planos de Bush de uma vitória militar rápida e ameaça derrotar o mais poderoso exército invasor da história. A juventude francesa derrotou os planos de reforma trabalhista.

É possível vencer a reforma da Previdência de Lula e Bush. O plano de lutas definido no encontro do dia 25 não serviu apenas para marcar posição, mas para indicar uma luta nacional que possa derrotar o governo. Esta é a mensagem da vitória parcial dos controladores de vôo.

A vitória ou derrota de cada uma dessas lutas fortalecerá ou enfraquecerá as que virão. Por isso, precisamos apoiar e unificar as mobilizações, como ocorreu com os professores da Apeoesp. O primeiro grande momento é o dia 17.

Em cada uma dessas lutas estará em disputa a construção de uma nova direção para o movimento de massas ou a manutenção da CUT e da UNE chapas-brancas. A Conlutas e as forças do Fórum de Mobilização apresentam-se como uma alternativa de direção para o movimento. Por fim, chamamos o MST a romper com o governo e se somar a essas lutas.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 294
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