Depois da greve nacional dos servidores contra a reforma da Previdência, começam a esquentar as campanhas salariais. Os bancários dos bancos privados e também os trabalhadores de estatais como os do Banco do Brasil, CEF e petroleiros estão em campanha. Os metalúrgicos de São Paulo iniciam uma campanha unificada.

Todos estes setores da classe trabalhadora brasileira têm uma grande história de lutas: não foram poucos os planos econômicos que caíram ou foram feridos de morte por greves destas categorias.

Tanto os trabalhadores das empresas privadas como os das estatais estão lutando contra o que a imprensa vem noticiando estas semanas, a diminuição da renda do trabalhador brasileiro.

Se nos fixarmos nos índices de reposição das perdas exigidos e na disposição de luta demonstrada pelos trabalhadores, estaríamos diante de um quadro político muito parecido com o das grandes greves da década de 80.

Neste sentido, a greve nacional dos correios teve muitas características semelhantes à da greve de 1985, a maior já realizada pela categoria: piquetes massivos, radicalização e uma grande dose de espontaneidade. No primeiro dia, a greve atingiu 16 estados e no segundo dia, eram 24 em greve.

A grande diferença que marca as lutas atuais é política. Hoje o PT está no governo central. Hoje a maioria dos dirigentes dos sindicatos e da CUT (membros do PT ou do PC do B) é governista e dizem que nossas lutas não são contra o governo, são apenas contra as empresas.

Mas, os “planos econômicos” dos governos anteriores contra os quais lutamos, mudavam só de nome, pois em essência significavam um profundo arrocho nos salários dos trabalhadores para garantir os lucros das empresas e assegurar a sangria de recursos do país para o exterior.

Sempre foi o governo a ditar as regras do jogo, ao estabelecer a política econômica. E hoje, na nossa opinião, continua sendo assim.

Até agora, as propostas de reajustes tanto das estatais, como da Febraban ou da FIESP estão longe de repor as perdas salariais e mais longe ainda das reivindicações históricas, como redução da jornada. O primeiro grande problema colocado para todas as campanhas salariais se resume a uma pergunta: contra quem estamos lutando?

O governo diz não à reposição das perdas

O governo, através de seu ministro Palocci, disse que os reajustes salariais não podem ser de acordo com a inflação passada, mas futura, porque, do contrário, os reajustes salariais vão gerar inflação. A declaração do ministro, deu o parâmetro de negociação tanto para os banqueiros da Febraban como para os empresários da FIESP e para as direções das empresas estatais, que dependem diretamente do governo.
Também para o governo Lula, os trabalhadores não podem repor suas perdas salariais, pois isto “desestabilizaria a economia”.

Infelizmente, nem no argumento o governo Lula inova. Esta falta de imaginação, entretanto, expressa que a política econômica aplicada é a mesma de FHC. O arrocho nos salários dos trabalhadores é a base de toda a política econômica do governo.
A prioridade central de Lula é manter em dia o pagamento da dívida externa. De janeiro a julho, foram pagos R$ 90 bilhões de juros aos banqueiros. Isto equivale a 10,18% do Produto Interno Bruto (PIB) ou de tudo que foi produzido no país neste período. Se compararmos esses números com a arrecadação de impostos, veremos que os banqueiros ficaram com 40% de tudo que se arrecada.

Esta é a verdadeira causa da recessão. Os trabalhadores geraram estas riquezas, mas como diminui o tamanho do “bolo”, porque uma parte é abocanhada pelo imperialismo, alguém dentro do país tem que ganhar menos. E o governo Lula, junto com o FMI, a Febraban e a Fiesp, diz claramente que no lucro dos banqueiros e empresários não se mexe. Sobrará então, uma vez mais, para os trabalhadores.

Post author João Ricardo Soares,
da redação
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