As dificuldades para compor uma frente socialista e classista para as eleições de 2010As linhas gerais das eleições de 2010 começam a se mostrar. Dilma Rousseff será apresentada pelo governo como “nacionalista”, em defesa do petróleo nacional e contrária à proposta “privatizante” da direita. Na verdade, o governo Lula dá continuidade ao plano de FHC, dividindo o petróleo com as multinacionais.

O “nacionalismo” de Dilma será só mais uma das farsas. Existirão outras. Lula será mostrado como o presidente “que superou a crise econômica”. José Serra falará “contra a corrupção do governo federal”, esquecendo os escândalos do governo FHC. É provável que assistamos novamente a uma falsa polarização entre essas propostas para o país.

Pior ainda. É possível que um falso “terceiro campo” se imponha com Marina Silva. Uma alternativa real dos trabalhadores teria de se apoiar num programa socialista. Uma proposta a mais com um programa nos marcos do capitalismo não trará nenhum avanço ao quadro político nacional. Já vimos isso com Lula e, com muito maior consistência (o maior líder operário da história, apoiado por CUT, UNE, PT e MST), deu no que deu.

O exemplo da Natura
Marina é apresentada como uma figura “ética”, que luta pelo meio ambiente. O episódio envolvendo a empresa Natura e os povos indígenas mostra a verdade dos fatos. A Natura é uma grande empresa nacional cujo presidente, Guilherme Leal, é um forte candidato a vice de Marina.

O Ministério Público Federal entrou com uma ação em 2007 contra a Natura por aproveitamento ilegal do fruto do murmuru, usado na produção de xampus e sabonetes. O uso comercial do fruto partiu de um acervo de plantas levado por Marina à Natura em 2001, a partir do conhecimento tradicional do murmuru pela etnia ashaninka, que vive na fronteira com o Peru. A empresa está sendo processada, em nome dos índios, que não receberam nenhuma compensação financeira. Marina, que tem a Natura com sua segunda maior contribuinte de campanha eleitoral, ficou em cima do muro, recusando-se a defender os índios.

Não existe nada de “ético” e de “defesa do meio ambiente” nessa atuação de Marina. Quando o capitalismo se choca com o meio ambiente ou com os mínimos preceitos éticos, fica o dito pelo não dito. Foi assim também que a ex-ministra “assimilou” a liberação dos transgênicos ou a transposição do rio São Francisco quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente. Aceitou as derrotas, sem renunciar, para manter o cargo.

Marina é mais um engano que pode se fortalecer. A candidatura do PV pode ocupar parte do espaço de Dilma Rousseff, por ser mulher. E pode também tomar uma parte do espaço eleitoral da oposição de esquerda. Lembremos que, em 2006, a Frente de Esquerda com PSOL, PSTU e PCB conquistou 6,5% dos votos.

Necessidade do programa para uma Frente Socialista e Classista
A experiência feita por setores do movimento de massas com o governo Lula pode se expressar em uma candidatura de oposição pela esquerda ou se confundir com a opção de Marina. Mais do que nunca, é necessário que uma candidatura tenha uma opção clara de programa. O que na política brasileira sempre é relegado a um quinto plano (onde valem mais os candidatos e não o programa) hoje tem validade maior.

Será preciso responder a uma pergunta com clareza: quais são as diferenças com Marina Silva? A candidatura do PV defende um desenvolvimento “sustentável” no capitalismo.

O PSTU propôs ao PSOL e PCB uma frente com um programa claro de ruptura com o capitalismo e o imperialismo. Infelizmente, as duas teses majoritárias do congresso do PSOL (MES e APS), apesar das suas polêmicas, defendiam também um programa sem rupturas com o capitalismo e o imperialismo. No máximo, uma auditoria da dívida externa.

Mas a pior crise econômica em 80 anos não acabou, como dizem os defensores do capital. Vai voltar a impor condições pesadas para os trabalhadores de todos os países. Não podemos afirmar com certeza quando uma retomada da crise vai atingir o país, se antes ou depois das eleições. Mas um programa eleitoral exige uma perspectiva de ruptura com o domínio imperialista, que inclua o não pagamento da dívida externa, a expropriação dos bancos e de setores chave da economia controlados pelas multinacionais, para possibilitar trabalho e emprego a todos.

A relação com a burguesia e seus partidos também é outra diferença fundamental com Marina. O PV é um partido burguês de aluguel, que participa de governos estaduais e municipais do PT e da direita em todo o país.

A frente proposta pelo PSTU ao PSOL e PCB é claramente classista, sem nenhum acordo com a burguesia e seus partidos. Não se pode combater o PV e assumir acordos com partidos burgueses como faz o PSOL com o PSB de Capiberibe, no Amapá, ou o próprio PV, em Porto Alegre (RS). Ou ainda entregar o financiamento da campanha a empresas como a Gerdau.

Uma frente classista e socialista para 2010 implica uma mudança dos rumos programáticos do PSOL.

A questão das candidaturas

A proposta do PSTU de frente classista e socialista se materializa também nas candidaturas de Heloísa Helena à Presidência e Zé Maria para a vice. Esperávamos um debate sobre nossa proposta, mas a discussão começa na própria candidatura de Heloísa.

O último congresso do PSOL já expressou um impasse. A maioria das correntes e a militância defenderam Heloísa como candidata à Presidência contra a posição dela mesma, que quer disputar o Senado por Alagoas. O congresso terminou sem resolver a questão, transferindo a decisão para uma conferência eleitoral.
Em uma entrevista publicada pelo jornal alagoano Correio do Povo, de 9 de setembro, a própria Heloísa afirma que a chance de optar pela candidatura ao Senado “supera os 95%”. Assim, hoje existe uma probabilidade infinitamente maior de ser candidata ao Senado, disse. Em outra entrevista, ela elogiou Marina Silva como uma “militante de esquerda exemplar”.

As declarações de Heloísa Helena mostram que o cenário mais provável será a candidatura ao Senado em vez da Presidência da República. Consideramos essa opção um erro grave, que pode representar uma enorme frustração para milhares de companheiros do PSOL e um espaço maior para a candidatura de Marina. Nenhuma cadeira do já desgastado Senado compensa o abandono desse projeto. O apoio a Marina seria um erro ainda mais grave, com consequências muito sérias para o próprio PSOL.

É hora de dar um passo à frente com uma alternativa socialista e classista para as eleições de 2010. E não vinte passos atrás, capitulando a Marina Silva.

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