Os trabalhadores puderam ver e comprovar o apoio direto do governo Lula, do PT e PCdoB à absolvição de Renan Calheiros. Agora estão assistindo às negociatas abertas para a aprovação da continuidade da CPMF. Lula perdoou dívidas bilionárias dos latifundiários, entregou cargos na Petrobrás e outras estatais ao PMDB. Por isso, Renan é tão importante para o governo Lula, para assegurar a fidelidade do PMDB às propostas do governo contra os trabalhadores, como no caso da CPMF.

Este imposto é retirado dos bolsos de um trabalhador, toda vez que ele compra alguma coisa, ou mexe em seu salário depositado num banco. Rendeu R$ 203 bilhões desde que foi criado com a desculpa que era para ser aplicado na saúde. Todos podem comprovar a crise em que se encontra a saúde pública no país, para concluir que este dinheiro não chegou até aí: foi desviado para pagar os juros da dívida externa e interna aos banqueiros.

O PT era contra a CPMF quando estava na oposição. Agora o governo Lula é o maior defensor desta “contribuição”. A CPMF é mais uma forma de tirar dinheiro do bolso dos trabalhadores para pagar aos banqueiros.

Mas existe uma onda de indignação correndo o país. Uma pesquisa da Associação dos Magistrados do país indica que só 11% do povo confiam nos políticos antes da absolvição de Renan. Isso provavelmente cresceu após o governo e a oposição de direita livrarem a cara do presidente do senado e, agora, com as negociatas ao redor da CPMF.

A propaganda governista busca mostrar “avanços sociais” no país para tentar diminuir o desgaste do governo. Os anúncios de que teria havido uma diminuição da pobreza no país são partes disso.

O governo Lula bancou a aprovação da CPMF, mesmo saindo desgastado de todo o episódio. Vai bancar de imediato a reforma da Previdência? Esta reforma é um ataque aos trabalhadores muito, muitíssimo mais grave que a CPMF. Na prática, o que o governo está discutindo com a imposição da idade mínima de 67 anos (homens) e 65 (mulheres) é a tentativa de evitar que os trabalhadores possam se aposentar para que morram antes.

O governo está vacilando em apresentar o projeto de reforma ao Congresso depois do desgaste causado pelas últimas negociatas. Deveria ter apresentado seu projeto no final de setembro, mas não o fez ainda.

A marcha de 24 de outubro, organizada pela Conlutas, Intersindical e os aposentados da Cobap, pode cumprir um papel de primeira magnitude nesta conjuntura. O ato pode deflagrar uma campanha muito importante contra a reforma da Previdência, que pode obrigar o governo a adiá-la. O ano que vem, como época eleitoral, pode dificultar ainda mais a imposição de uma reforma impopular. Assim a marcha pode ter peso para desencadear uma campanha que pode adiar ou mesmo derrotar a reforma da Previdência.

Além disso, esta marcha será a única atividade centralizada nacionalmente que vai protestar contra esta onda de corrupção atual. A palavra-de-ordem “este Congresso corrupto não pode votar a reforma da Previdência” une a luta contra a reforma com a denúncia da corrupção no Senado. A marcha pode ser, assim, a única demonstração de peso nacional contra a corrupção.

Existem lutas específicas em todas as entidades, sejam campanhas salariais, sejam eleições para as entidades, entre outras atividades. Mas de nada adiantaria privilegiar somente estas lutas, e ter depois a derrota na reforma da Previdência, que vai nos impedir de aposentar. É possível e necessário combinar as lutas específicas com a preparação da marcha.

Não pode ser que depois de tudo o que aconteceu não haja uma manifestação de peso contra o governo e o Congresso. É possível que essa marcha seja a mais importante mobilização nacional do ano. A Conlutas está trabalhando para que haja mais gente em Brasília do que nas marchas de 2004 e 2005. Temos três semanas para organizar tudo. Trata-se de uma corrida contra o tempo para aglutinar as pessoas e garantir os ônibus. Os ativistas do movimento sindical, popular e estudantil de todo o país têm a palavra.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 317
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