Agência Brasil

Maioria dos que conhecem a reforma do governo Bolsonaro é contrária à proposta

Grande parte da imprensa repercutiu uma pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmando que a maioria da população seria a favor da reforma da Previdência. A divulgação ocorre bem no dia em que o ministro Paulo Guedes vai à Comissão Especial da reforma na Câmara, e tem um sentido bem definido: passar a falsa ideia de que o povo apoia essa reforma que significa a destruição da Previdência pública e o fim do direito à aposentadoria de grande parte da classe trabalhadora.

O principal dado utilizado para criar essa fake news, destacado pelo próprio Ibope, é que 59% dos entrevistados seriam favoráveis a uma reforma da Previdência, contra apenas 36%. À primeira vista, poderia parecer que a percepção sobre a reforma virou, já que as pesquisas anteriores sempre apontaram o contrário. Porém, a pergunta da pesquisa não diz respeito à reforma da Previdência do governo Bolsonaro que tramita no Congresso e que, entre outras coisas, impõe idade mínima de 65 anos, reduz aposentadorias de forma geral e decreta 40 anos para aposentadoria integral.

Exemplo de fake news

Essa reforma do governo Bolsonaro é conhecida por apenas 36% dos entrevistados. E dos que conhecem seus pontos, a maioria, 51%, são contrários, contra 36% que são favoráveis, concentrados justamente entre aqueles que ganham mais. Ou seja, a ampla maioria da população desconhece os pontos da reforma, e dentre os poucos que conhecem, a grande maioria é contrária.

Maioria dos que conhecem a proposta do governo é contrária

O que poderia explicar essa aparente contradição? Pense na realidade da grande maioria dos aposentados que sobrevivem com um salário mínimo de R$ 998, sendo que o mínimo constitucional deveria ser, segundo o Dieese, de R$ 4 mil. Ou na maior parte da classe trabalhadora brasileira, submetida à informalidade e precarização, e cuja expectativa é se aposentar, no melhor das hipóteses, com um salário mínimo ou um pouco além disso. Do outro lado, vê juízes se aposentando com mais de R$ 100 mil, ou o próprio Bolsonaro acumulando aposentadorias que, somadas, chegam a R$ 70 mil.

Mais que isso, um trabalhador e um aposentado que vê, também do outro lado, toda sorte de privilégios e absurdos, a exemplo da recente polêmica da licitação do Supremo Tribunal Federal (STF) que pretende gastar quase R$ 500 mil com lagostas e vinhos. Juízes que deveriam “proteger” a Constituição e que gastam dinheiro público para comprar lagosta, coisa que uma pessoa normal nunca vai sonhar em comer na vida, enquanto nas ruas 27 milhões de pessoas buscam um emprego para sobreviver.

É óbvio que se alguém perguntar se isso precisa ser mudado, ou “reformado” como capciosamente questiona a pesquisa, vai concordar. Mas no sentido contrário ao que reporta a imprensa.

Outro exemplo de como isso ocorre. A pesquisa e a imprensa destacam também que subiu o número de pessoas que defendem o estabelecimento de uma idade mínima para se aposentar. Segundo o Ibope, os defensores da idade mínima subiram de 65% para 72% nos últimos quatro anos. Agora, qual é essa idade mínima? Quase todos, 80%, acham que ela deveria ser de 60 anos ou menos. Quase a mesma percentagem, 73%, não acham que as pessoas devam trabalhar mais tempo para se aposentar do que trabalham hoje. Só 6% acham a aposentadoria só deveria valer após os 65 anos, que é a idade mínima proposta pelo governo. Novamente, o contrário do que quer fazer parecer a imprensa.

Outra manipulação: o déficit da Previdência. A pesquisa diz que a maior parte da população é contrária a pagar mais impostos para resolver o rombo da Previdência. A pergunta já incute uma resposta, porque já parte do pressuposto defendido pelo governo, banqueiros e a imprensa, de que há um rombo na Previdência causado pelas aposentadorias, o envelhecimento da população, etc. Diante disso, a maior parte afirma que o “problema” deve ser resolvido alterando as regras da Previdência. Logo, apoiariam a reforma. Distorcem conscientemente os dados para fazer parecer popular uma medida indefensável.

É preciso explicar a reforma à população
A pesquisa e a manipulação massiva praticada pela imprensa, em muitos casos financiada diretamente pelo governo, reafirmam a necessidade das centrais, dos sindicatos, movimentos sociais e populares, de explicarem aos trabalhadores, à população e ao povo pobre, o real significado dessa reforma que atinge os mais pobres para beneficiar os banqueiros.

Junto a isso, é necessário defender o rechaço total a essa reforma, que não tem “pontos bons” e “pontos ruins”, como afirmam alguns. Ela, no total, é contra os trabalhadores e deve ser repudiada por completo. E finalmente organizar, nas fábricas, escolas, locais de trabalho e nos bairros, a resistência a essa reforma, rumo à Greve Geral convocada pelas centrais para o dia 14 de junho.

Baixe aqui a pesquisa IBOPE/CNI