Foto: Marcos Corrêa/PR
Redação

“E daí?” Essa foi a resposta de deboche e desprezo de Bolsonaro quando questionado sobre o que achava do fato de o país ter superado a marca das 5 mil mortes, ultrapassando o número de óbitos da China, primeiro epicentro da pandemia.

No momento em que fechávamos esta edição, a pandemia seguia sua escalada exponencial de mortes no Brasil, quase 8 mil vítimas notificadas. São 16 mortos por hora. Quando você estiver lendo este jornal, esse número já será muito maior que isso. Nas capitais, as mortes dobravam a cada cinco dias em média, e o vírus se alastrava rápido pelo interior.

Sem testagem, porém, os números com certeza são muito maiores que os registrados. Um exemplo: um levantamento realizado pelo epidemiologista da USP Paulo Lotufo em certidões de óbitos nos cartórios mostra que, nas cinco cidades mais atingidas pela epidemia, o total de mortes aumentou 30% em comparação aos anos anteriores. Na data do fechamento desta pesquisa (25 de abril), o “excesso de mortes” superava em 173% o dos óbitos atribuídos à COVID-19. Isso indica que temos pelo menos mais que o dobro de mortes pela pandemia do que relatam as autoridades.

Os desaparecidos da COVID-19

As evidências de subnotificação são fartas. A mais dramática prova da subnotificação, porém, é a cena das covas coletivas em Manaus, onde corpos estão sendo enterrados em valas comuns, ou dos corpos de vítimas da COVID-19 ao lado de doentes, também na capital do Amazonas. As cenas das valas em série abertas em São Paulo ou do corpo de um idoso abandonado no meio da rua em Olinda (PE), compartilhadas nas redes sociais, também atestam que a realidade é muito pior do que as autoridades informam.

Sem medidas efetivas de combate à pandemia e com Bolsonaro incentivando as pessoas a irem para as ruas, o Brasil caminha a passos largos para se tornar o novo epicentro da pandemia, com a maior taxa de infecção do planeta (veja o quadro), uma pilha cada vez maior de mortos e uma subnotificação em larga escala que está criando o que muitos já chamam de os “novos desaparecidos”, a exemplo do que ocorreu na ditadura com os perseguidos políticos.

Tirar Bolsonaro, Mourão e sua corja de lá é, há muito tempo, questão de vida ou morte.

O retrato da subnotificação da COVID-19

  • Internações por problemas respiratórios aumentaram 4 vezes no Brasil.
  • Mortes por problemas respiratórios cresceram 1.035% em 2020.
  •  Explodiu o número de enterros em abril nas regiões mais atingidas pela pandemia; 161% em Manaus; 18% em São Paulo.

Mais alta taxa de infecção do mundo

Segundo estudo do Imperial College de Londres, o Brasil tem a maior taxa de transmissão de COVID-19 entre 48 países analisados. Aqui, cada infectado transmite para cerca de 3 outras pessoas; 10 infectam 28, que infectam outras 78, e assim por diante. Autoridades de saúde só aconselham o início de medidas de relaxamento da quarentena quando esse número é abaixo de 1.

  • Brasil – 2,81
  • Irlanda – 2,23
  • México – 1,95
  • Polônia – 1,78
  • Peru – 1,55

CRIMINOSO
Política genocida de Bolsonaro pode provocar 1 milhão de mortes

Enquanto a saúde pública caminha para o colapso, Bolsonaro reafirma sua política de deixar correr o vírus. “Setenta por cento da população vai ser infectada, não adianta querer correr disso”, defendeu o presidente no dia 20 de abril. O que significaria, em número de mortos, isso que afirma Bolsonaro?

O biólogo e divulgador científico Átila Iamarino fez as contas tomando como base os dados mais consolidados que se tem hoje da pandemia, em Nova Iorque. Lá, por conta da alta taxa de infecção e do número de testes realizados, foi possível estabelecer uma taxa de mortalidade mais próxima da realidade. Do número de doentes que morreram e foram efetivamente testados, chega-se a uma taxa de 0,7%.

As pessoas que seguem o que defende Bolsonaro e acham que todo mundo deve se expor para chegarmos ao que se chama de “imunidade de rebanho”, ou seja, o patamar em que já não há mais quem infectar e, por isso, a pandemia supostamente se debela (os tais 70% da população), estão defendendo, na prática, que 149 milhões de brasileiros fiquem doentes. É preciso considerar que não há qualquer comprovação científica de que essa “imunidade de rebanho” funciona para o novo coronavírus, e, mesmo considerando que funcionasse, sob uma ótica muito otimista, morreriam mais de 1 milhão de pessoas.

Esse é o preço que Bolsonaro quer que o povo pague para que a “economia” volte a funcionar ou, melhor dizendo, para que as grandes empresas e os bancos não percam mais dinheiro e continuem a faturar.