O Brasil é parte da crise econômica, ainda que com características próprias. O país acompanhou passo a passo a dinâmica internacional: recessão no último trimestre de 2008 e primeiro de 2009 (-3,4% e -1%, respectivamente), recuperação no segundo trimestre de 2009 (1,9%).

Para os que pensam que é possível escapar da crise, a própria simultaneidade da recessão é uma resposta. O país é parte da economia internacional, submetido cada vez mais ao domínio das multinacionais aqui presentes.
A produção industrial caiu 7,4% no último trimestre de 2008, a maior queda desde 1996. No primeiro trimestre deste ano, afundou mais 3,1%. A indústria quase parou. Não se tratou de uma “marolinha”, como afirmou Lula. Quase um milhão de trabalhadores perderam seus empregos.

A crise, no entanto, foi atenuada no país. Vejamos os fatores que explicam isso, um a um.

O mercado interno
O país tem uma extensão continental e uma população de 180 milhões de pessoas. Mesmo com uma brutal concentração de renda, existe um mercado interno importante com a classe média e setores do proletariado, que permite uma escala de produção de peso para as multinacionais aqui instaladas.

O Brasil ainda tem o centro de sua produção voltado para o mercado interno. É verdade que o peso das exportações vem crescendo em termos relativos como fatia da produção industrial. Era de 7,5% nos anos 90, e foi para 13,1% em 2008. Nas grandes empresas é ainda maior, chegando em alguns ramos a 30% da produção. Ainda assim, se trata de uma relação completamente distinta da economia chinesa, que ampliou o peso do comércio internacional na produção de 6,3% para 34,9% por cento entre 1980 e 2004, e hoje ronda os 40%.

O mercado interno sustentou a economia na crise, com a queda das exportações. A porcentagem das exportações na indústria automobilística caiu de 13,9% em 2008 para 9,4% no primeiro semestre deste ano.

O papel de submetrópole
O Brasil é um dos BRICs, uma plataforma de exportação para as multinacionais aqui instaladas. Juntando o mercado interno brasileiro com os países latinoamericanos, as multinacionais têm escala suficiente para a produção. Com salários baixíssimos, é possível instalar aqui fábricas modernas e conseguir uma alta taxa de mais-valia relativa e absoluta.

Isso favorece a manutenção dos investimentos das multinacionais no país, mesmo na crise, para seguir a transferência de indústrias dos países imperialistas para cá. É por isso que a GM, por exemplo, que está fechando fábricas nos EUA, investe fortemente no país.

O país está girando cada vez mais para a exportação de matérias-primas (minérios e produtos agropecuários) na divisão internacional do trabalho imposta pelo imperialismo, em particular desde a globalização.

Isso amorteceu inclusive a queda nas exportações. Na indústria extrativa mineral – que inclui o minério de ferro -, a fatia destinada ao mercado externo saltou de 48,5% em 2008 para 53,1% no primeiro semestre de 2009. É o peso das exportações de ferro para a China mantendo empresas como a Vale.

A situação dos bancos
Os bancos no Brasil não viveram a crise dos bancos imperialistas. O motivo é que, com o fabuloso negócio dos títulos públicos (captam empréstimos no exterior com juros baixos e emprestam ao governo com taxas mais altas), eles não precisaram entrar na farra dos derivativos.

Além disso, o governo conta com bancos estatais de peso como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES para incidir na política econômica.

A política econômica do governo
O governo Lula teve uma política semelhante à dos governos imperialistas para enfrentar a crise. Entregou cerca de 300 bilhões de reais aos bancos e grandes empresas. Acelerou os investimentos do estado com o PAC e lançou planos como o Minha Casa, Minha Vida para ajudar as empresas da construção civil. Além disso, estimulou o consumo, reduzindo o IPI para automóveis e aparelhos domésticos.

Por outro lado, o governo apoiou as empresas nos ataques aos trabalhadores, sempre com a ajuda da CUT, Força Sindical e CTB. Com isso, reproduziu o mesmo padrão dos governos imperialistas: apoio monumental às grandes empresas e ataque ao proletariado. O resultado é que os trabalhadores estão pagando os custos da recuperação parcial da economia, com salários rebaixados, ritmo de trabalho brutal (para compensar os demitidos) e precarização das condições de trabalho.

O futuro da economia brasileira está ligado ao da economia mundial
Os fatores que descrevemos foram elementos importantes para diminuir a crise, mas não suficientes para evitá-la. Caso a crise econômica tivesse seguido se aprofundando, os reflexos aqui teriam sido muito mais severos.

É um equívoco pensar que o país teria condições de tentar uma saída pelo mercado interno para evitar a crise. Isso realmente ocorreu na depressão de 1929, quando existia a possibilidade de substituição das importações por uma nova produção industrial, comandada por uma burguesia nacional. Hoje, este espaço não existe, com as multinacionais ocupando a economia, com uma produção industrial instalada e complexa. O avanço na internacionalização da produção ocorrida desde então impede esse tipo de saída autárquica.

A tendência atual é de uma reativação também anêmica e limitada, acompanhando a economia internacional, que ainda terá sérias limitações no comércio mundial no próximo período. Pode ser que o PIB no país em 2009 esteja próximo de zero. A taxa de lucros das grandes empresas caiu 41,4% no segundo trimestre (quando ocorreu a recuperação parcial) em relação ao mesmo período do ano passado. Os investimentos seguem também deprimidos.

Quando surgir uma nova crise internacional, ela deve se expressar com força no país. As desigualdades voltarão a ocorrer. O ritmo em que isso vai se dar ainda é uma incógnita. A hipótese mais provável é que Lula consiga impor seu plano de jogar a crise para depois das eleições de 2010. Mesmo exploda uma nova crise, as particularidades descritas podem ajudar a adiar sua chegada ao país. Antes ou depois das eleições, os reflexos virão. E podem ser bem piores que os que atingiram o país, a depender de sua dimensão internacional.

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