Como todos sabem, o PSTU propõe uma frente de esquerda, classista e socialista para as eleições de outubro, com PSOL, PCB e ativistas independentes.

Hoje, a falsa divisão entre o PT e PSDB-PFL esconde a grande unidade entre estes dois blocos majoritários. O mesmo programa econômico, a mesma corrupção (só mudando os beneficiários). Os dois blocos a serviço do mesmo patrão: a grande burguesia do país, ligada ao imperialismo.

Lula, além de aplicar um programa pró-imperialista neoliberal, está espalhando a falsa consciência de que “esquerda e direita é tudo igual”. Apresentar uma alternativa real de esquerda contra o governo Lula é uma necessidade fundamental para manter vivas as tradições da esquerda comprometida com o movimento operário. E isso significa defender um programa socialista e classista (trabalhador de um lado, burguesia de outro).

No entanto, a possibilidade de avançar para essa frente foi ameaçada pelas resoluções da direção nacional do PSOL dos dias 23 e 24 de abril. Ficou definido por eles que César Benjamin, filiado ao PSOL, será o candidato a vice-presidente, com Heloísa Helena. Sem discutir com os outros partidos ou com os ativistas de base, o PSOL se definiu por uma chapa pura, para Presidência e vice.

Não estamos “disputando cargos”, como alguns setores do PSOL estão dizendo, para encobrir esta atitude sectária e burocrática. Ninguém está avaliando uma possibilidade real de vitória eleitoral, e por isto não estamos discutindo quem ocupará a vice-presidência em 2007. Estamos discutindo como se compõe uma frente eleitoral. É correto ou não que o PSOL ocupe as duas candidaturas?

Evidentemente se trata de uma atitude duplamente antidemocrática. Com o PSTU e o PCB, para quem está sendo proposta uma adesão às candidaturas do PSOL, e não uma frente real. Antidemocrática também com a base, que sequer foi consultada.

O PSTU propõe a candidatura de Zé Maria para vice. Um metalúrgico com uma tradição de lutas que vem desde as greves do ABC de 1978-79, e com longa trajetória no movimento sindical.

Mas esta definição da direção do PSOL não veio isolada. As outras resoluções demonstram que a questão do vice não é apenas uma postura sectária e hegemonista, mas uma concepção de campanha eleitoral que se distancia de uma frente classista e socialista.

Assim, as duas candidaturas a vice, César Benjamin e Zé Maria, expressam também dois projetos distintos de frente eleitoral.

Frente classista ou com setores dos partidos burgueses?
A direção nacional do PSOL se definiu pela ampliação da possível frente eleitoral, através de “apoios” de personalidades ou setores de outros partidos, como o PDT (foi citado o nome do deputado João Fontes), PV (a partir do deputado Fernando Gabeira) e PSB (Luiza Erundina). Segundo o PSOL, o limite seria buscar o apoio de setores “éticos”.

Como resultado dessa decisão, o deputado João Alfredo (PSOL-CE) declarou para a Folha On Line: “O PSOL atualmente negocia com setores anti-petistas do PDT, PPS, PSB e PV, com o objetivo de construir “uma terceira via pela esquerda” entre o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente Lula (PT)”.

Nós tínhamos proposto ao PSOL uma frente classista, dos trabalhadores. Esta polêmica começou pela discussão que existia na direção nacional do PSOL de uma possível aliança nacional com o PDT. Felizmente, depois de muitas pressões contrárias da base do partido e com a definição da verticalização, a direção do PSOL terminou se posicionou contra esta aliança.

As frentes com partidos burgueses como PDT, PSB e PV foram partes fundamentais da degeneração do PT. Ao se abrir para alianças com a burguesia, se rompe com a independência política dos trabalhadores em relação aos patrões, adaptando o programa da frente para ser mais aceitável para estes setores. Pouco a pouco, se vai indo à direita, até se transformar no que é o PT hoje.

Seria interessante conhecer os setores “éticos” destes partidos burgueses, que continuam em legendas que não têm nada a ver com a “ética”. Ou pelo menos não têm nada a ver com qualquer ética que sirva aos trabalhadores. Ou o PDT, que está no governo do PSDB em São Paulo tem alguma ética que nos sirva? Ou PSB e PV, que seguem no governo Lula do mensalão, têm uma ética diferente do PT? O deputado João Alfredo chega a falar também em setores do PPS, partido que deve apoiar o PSDB no segundo turno!

A aliança com estes setores dos partidos burgueses descaracterizaria a frente, que deixaria de ter um caráter classista para ser mais uma frente de colaboração de classes.

Neste sentido, a candidatura César Benjamin a vice é coerente. César é um intelectual respeitado por sua oposição ao governo Lula. Mas também não define um campo claro de classe (trabalhador de um lado, burguesia de outro). Como prova disso, recentemente foi assessor de Garotinho (PMDB) na formulação de seu programa de governo.

Post author Ernesto Guerra, de São Paulo
Publication Date