O Opinião acompanhou na porta da Embraer o clima dos trabalhadores que aguardavam a notíciaFaltavam poucos minutos para a meia-noite do dia 19 de fevereiro quando os trabalhadores do terceiro turno da Embraer de São José dos Campos chegaram à fábrica. A par da notícia de que seus colegas dos outros dois turnos tinham sido demitidos, foram surpreendidos ao saber que o seu, com cerca de 800 funcionários, simplesmente fecharia.

O clima era de perplexidade. Os operários tinham ouvido falar em demissões, mas levaram um choque quando viram seus empregos desaparecerem. Um trabalhador resumiu: “ninguém quer produzir sem ganhar, é o capitalismo”. Outro, com os olhos cheios de lágrimas, dizia: “eu não entendo por que o governo não faz uma lei para não demitir, ele tem poder. Eu não entendo”.

Desespero
O sindicato avisou diversas vezes que não adiantava entrar na empresa, pois as demissões já estavam certas. Os trabalhadores votaram e a maioria decidiu não entrar. Ainda assim, alguns resolveram pagar para ver. Entraram na Embraer e lá permaneceram por poucos minutos. Foi o tempo de receber a notícia de que eram mais alguns a engrossar a fila do desemprego. Os que ficaram na rua falavam pelo celular com os que entraram. As informações eram as mesmas: “só sobrou um”, “foram todos demitidos”. Aos poucos, iam surgindo os nomes de amigos.

“Quem está entrando está indo para a rua”, contou um funcionário que estava saindo do segundo turno e encontrou os companheiros do terceiro. Ele disse que estavam todos tristes e apreensivos, às vésperas do carnaval. A produção estava praticamente parada. No vestiário, “parecia que tinha passado um vendaval”, pois os funcionários abriam os armários e iam deixando pelo chão papéis e coisas que não queriam levar.

Post author Luciana Candido, enviada a São José dos Campos (SP)
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