A ciranda continuava como sempre. Lula apoia José Sarney, que abraça Fernando Collor e Renan Calheiros, que fazem um acordo com Arthur Virgilio (PSDB), que é do partido de José Serra. O governo dá dinheiro para as empresas e diz que a crise terminou, mas elas demitem trabalhadores e arrocham os salários. E tudo acaba como sempre. Acaba?

A aparência de que tudo vai bem começou a desaparecer. A indignação do povo começa a vir à tona por duas vias. Dois rios distintos, que podem levar a novidades na mesmice do país.

O primeiro fato novo é o início das mobilizações da juventude pelo Fora Sarney. Quando o acordão no Senado já tinha sido costurado e a oposição burguesa (PSDB, DEM) já tinha concordado com a continuidade de Sarney, algumas centenas de estudantes começaram a se manifestar nas ruas.

Traziam consigo a bronca de todo um povo. Tinham atrás de si a raiva de ver mais uma vitória da impunidade, da corrupção descarada. Os estudantes cantavam a voz da maioria indignada.

A UNE, emudecida pelos milhões de “subsídios” do governo, silenciou. A Anel (Assembleia Nacional de Estudantes Livre), recém-fundada como alternativa à UNE chapa-branca, apoiou e ajudou a organizar as mobilizações. Só esse fato já teria justificado a fundação da Anel.

É possível ter nos próximos dias um ar fresco de mobilização estudantil, o Fora Sarney nas ruas, para derrotar o acordão do Senado.

A indignação dos trabalhadores
Os trabalhadores, em sua maioria, apoiam os estudantes, mas não se mobilizam por isso. Predomina um grande ceticismo quanto à possibilidade de mudar alguma coisa da vida política do país.

Estão indignados, mas por outros temas. A crise econômica se expressa no país pelo ritmo do trabalho nas empresas, que está enlouquecedor, e os salários, cada vez mais baixos.

A segunda via que pode trazer essa indignação à tona é que as categorias mais importantes do país preparam campanhas salariais que anunciam lutas duríssimas contra a patronal.

Além disso, os trabalhadores são pais e mães de famílias que veem suas famílias ameaçadas pela gripe suína. O caos na saúde pública segue matando centenas de brasileiros, e o governo segue escondendo os dados reais do povo.

As direções dos sindicatos ligadas à CUT e Força Sindical vão fazer de tudo para que não aconteçam greves, assim como vão evitar ao máximo assumir qualquer luta política.

A Conlutas – a alternativa de direção à CUT – está metida em todas essas campanhas salariais. Tanto para apontar o melhor caminho para as lutas, como para incorporar também as lutas políticas como parte delas. Por um lado, a exigência ao governo que decrete a estabilidade no emprego. Por outro, a campanha Fora Sarney.

As mobilizações estudantis do Fora Sarney, as campanhas salariais do segundo semestre. Dois rios diferentes que podem trazer ao primeiro plano da vida política do país a ação dos movimentos sociais. E uma intervenção política independente das entidades chapa-branca CUT e UNE, através da Conlutas e da Anel.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 385
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