Dois mil servidores aguardam decisão dos deputados
Alessandro Buzas

Deputados negam 7,3% de reajuste e data baseA greve dos servidores da Justiça do Rio de Janeiro (RJ) começou no dia 23 de setembro. Na última quarta, dia 19, poucos dias antes de completarem dois meses de greve, os servidores se reuniram em massa em frente à Assembléia Legislativa, no Centro do Rio de Janeiro. Do lado de fora, debaixo de chuva, mais de duas mil pessoas realizaram um grande ato para pressionar os deputados que, lá dentro, votavam o Projeto de Lei que garantiria o reajuste de 7,3% retroativo a maio, data-base da categoria.

Após intensas negociações e com atraso, a sessão foi aberta, com uma primeira polêmica: manter os 7,3% ou alterá-lo para 5%. Com uma votação apertada e por exatos 32 a 30 votos, foi aprovada a redução do percentual.

A retroatividade do reajuste foi à votação logo em seguida. Novamente, por diferença de dois votos – 31 a 29 – a Alerj aprovou que ele passará a valer apenas a partir de setembro, sepultando, assim, a data-base oficial da categoria. O texto será agora transformado em redação final e enviado ao governador Sérgio Cabral (PMDB), que terá 15 dias úteis para sancionar ou vetar a norma. Todos os servidores sabem que o governador aliado de Lula irá manter os 5%.

Murta, um verdadeiro líder do governo
Logo após a votação terminar, a categoria deu início à sua assembléia. Tensão e revolta eram visíveis nas fisionomias de cada um dos presentes. Após mais de 50 dias de uma luta diária, deixando de lado a companhia de parentes e filhos para permanecer nos piquetes, os servidores viram os deputados aprovarem a proposta ridícula de 5%. Nos olhares de todos, a expressão de quem acabara de ter um gol anulado injustamente numa final de campeonato.

Neste clima, todos puderam escutar a denúncia de parlamentares que votaram com os servidores, de que a proposta final havia sido construída pelo próprio autor do Projeto de Lei, o desembargador Murta Ribeiro, presidente do TJRJ. Telefonemas também teriam sido disparados aos deputados, num verdadeiro lobby contra o salário.

“Não esperava mais nada do presidente do Tribunal, mas me sinto totalmente traída quando o responsável do Poder Judiciário é o principal sabotador do projeto que ele afirmou ser viável financeiramente. É a total submissão deste Poder aos caprichos do governador”, desabafou uma servidora, que não quis se identificar.

Assembléia: a greve continua!
“Aqui todos nós temos do de nos orgulhar. Nós não estivemos lá dentro, sabotando a greve. Estivemos na luta. Aqui somos todos guerreiros!”, afirmou um trabalhador, em uma assembléia improvisada e marcada pela emoção. A categoria aprovou a continuidade da greve, mantendo somente o atendimento das medidas de urgência. A greve exige outros pontos, como a confirmação do visa-vale em casos de afastamentos legais (férias e licenças), o reajuste de seu valor, a concessão do auxílio-deslocamento e a ampliação do auxílio-creche para crianças de até sete anos de idade.

Uma nova assembléia será realizada nesta quarta-feira, dia 26. “O momento é de nos mantermos de cabeça erguida, pois sabemos o poder de luta que esta categoria tem. Não iremos esmorecer”, disse Amarildo Silva, presidente do Sind-Justiça, sindicato filiado à Conlutas.

*Com Sandro Barros, do Rio de Janeiro (RJ)

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