O governo Dilma tem o apoio da maioria dos trabalhadores e jovens do país. Aproveitou a popularidade de Lula e fez uma campanha prometendo nada menos que acabar com a miséria no país.

Depois de dois meses de governo, já se pode notar algumas características. Nenhuma delas confirma as esperanças dos trabalhadores e muito menos as promessas eleitorais de Dilma.

Em primeiro lugar, a inflação
Hoje o povo pobre está se dando conta de que algo diferente começa a acontecer: a volta pouco a pouco da inflação. Alguns dos alimentos e serviços que mais pesam no bolso dos trabalhadores estão disparando. O preço dos transportes subiu em algumas capitais mais que o dobro da inflação nos últimos 15 anos. Os aluguéis também estão subindo muito. O feijão, parte da mais popular dobradinha da culinária brasileira (arroz com feijão), aumentou 66%.

A inflação não é um fenômeno da natureza, como as chuvas e enchentes. É o resultado de decisões das empresas e do governo. O aumento atual dos preços é uma consequência da dependência do país do mercado mundial, por conta de abertura da economia feita pelos governos de FHC e Lula, e agora por Dilma. Como o preço dos alimentos está subindo muito lá fora, aqui também tem de aumentar, ainda que sejam produzidos (como são) aqui mesmo no Brasil. A inflação é uma forma de arrocho salarial, porque reduz o poder de compra real dos salários.

Dilma e os parlamentares não sentem a inflação em seus bolsos porque reajustaram seus salários em 132% e 62%, respectivamente. As grandes empresas repassam seus custos por meio de novos aumentos em seus preços. Só os trabalhadores não podem decidir sobre seus salários, e agora já estão vendo os reajustes obtidos nas campanhas salariais serem engolidos pela inflação.

A imposição do novo salário mínimo de R$ 545 completou a primeira grande lição aos trabalhadores brasileiros sobre quem é Dilma. Se depender do governo, a inflação vai reduzir o salário real de todos. Aliás, de todos não, só da imensa maioria do povo brasileiro que depende de seu salário e não pode decidir sobre o valor do mesmo, ao contrário dos parlamentares e da
presidente.

Quem sai ganhando então? As grandes empresas, que vão manter trabalhadores com salários arrochados e defender seus lucros reajustando seus preços. Essa é a resultante destes dois meses do governo Dilma.

Em segundo lugar, os cortes no orçamento
Quem olha a economia brasileira vê um crescimento importante (acima de 7%) no PIB, baseado na forte ampliação dos lucros das grandes empresas. Qual a justificativa real então para o governo fazer um corte recorde no orçamento de R$ 50 bilhões?

Esse corte vai afetar diretamente os gastos sociais, incluindo uma redução drástica de R$ 5 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida, justamente o contrário da propaganda eleitoral de Dilma. Vai atacar o funcionalismo público com a suspensão dos concursos e nomeações e a ameaça de congelamento salarial.

A única justificativa real para esse corte é garantir a meta de superávit primário de 3,1% do PIB. Isso significa que o governo gasta menos do que arrecada para poder pagar a dívida pública aos banqueiros. Ou seja, Dilma está optando por cortar gastos com os planos sociais e salários do funcionalismo para aumentar ainda mais os lucros dos banqueiros. Ou seja, garantir o apoio do capital financeiro a seu governo, atacando o nível de vida dos trabalhadores. Em 2010, o Itaú registrou o maior lucro da história bancária, com mais de R$ 13 bilhões. O Bradesco lucrou R$
10 bilhões. Em 2011, seguramente baterão novos recordes históricos de lucros.

Os ativistas que estão à frente dos movimentos sociais podem começar a refletir sobre este início do governo Dilma. Inflação significa arrocho salarial para os trabalhadores. Corte no orçamento significa redução nos gastos sociais. Esses dois movimentos têm um profundo impacto no caráter do governo Dilma.

A revolução árabe está sacudindo todo o mundo. Pode também inspirar rebeldia nos ativistas que estiveram iludidos com o governo Dilma. O PSTU chama todos a começar a preparar as lutas em defesa dos salários e dos direitos dos trabalhadores.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 419
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